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A Cor do Som lança álbum com temas instrumentais

O grupo volta às origens. Seu LP de estreia, em 1977, é inteiramente instrumental

José Teles
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José Teles
Publicado em 03/08/2020 às 13:35 | Atualizado em 05/08/2020 às 15:48
Daryan Dornelles/Divulgação
A Cor do Som, às origens - FOTO: Daryan Dornelles/Divulgação

 

A Cor do Som lançou um disco instrumental, intitulado Álbum Rosa, o que certamente causará estranheza. Do grupo o que a maioria lembra, é a da MPB pop, dos anos 80, que ainda hoje em dia toca no rádio. A banda foi a mais popular do país entre 1978 e 1983, no limiar da eclosão do Brock, o rock nacional que predominou no Brasil naquela década. Parte da banda tocava com Os Novos Baianos, depois com Moraes Moreira (parte com Jorge Ben). Formada por Armandinho, Dadi, Mú Carvalho, Ary Dias, Gustavo Schroeter, (mais Jorge Gomes, neste disco), a Cor do Som começou, em 1977, fazendo música instrumental, por coincidência, quando o chorinho passava por uma revalorização, que culminou com I Festival Nacional do Choro, promovido pela TV Bandeirante. Com ele o choro entrou na roda das discussões. O festival acabou destacando dois nomes que o público não conhecia. O bandolinista pernambucano Rossini Ferreira,o vencedor do festival, com a composição Ansiedade, e o grupo A Cor do Som, pelas inovações no gênero em Espírito Infantil
Então um dos mais atuantes e conservadores críticos de música do país, José Ramos Tinhorão entregou, meio com um pé atrás, o troféu de quinto lugar para o autor da composição, Maurício de Carvalho, ou Mú Carvalho. Tinhorão não reagia a guitarras e bandolins plugados no choro. Enquanto o vencedor, um dos maiores da história do bandolim no Brasil, chegou a ser vaiado, pelas torcidas organizadas de vários autores. Se por um lado havia Tinhorão, por outro havia Waldir Azevedo, que também fazia parte da comissão julgadora. Ele se dirigiu a  Mu Carvalho, e teceu os maiores elogios a Espírito Infantil, talvez se lembrando que quando fez Delicado, recebeu críticas severas de Jacob do Bandolim. 
Logo em seguida, A Cor do Som gravaria o disco de estreia, com Espírito Infantil como música de destaque. O grupo permaneceria neste estilo até o segundo álbum, registro de uma apresentação no Festival de Montreux, onde foram vaiados, ao participar da primeira noite brasileira num dos mais prestigiados eventos de jazz da Europa. As vaias porque foram confundidos com um grupo de rock, pelos temas caprichados nas guitarras e bandolim elétricos, como Cochabamba (Armandinho Macedo/Moraes Moreira) ou Dança Saci, aberto por teclados e guitarra e bandolim um baião progressivo. Mu Carvalho, 42 anos depois, não esquece a participação de A Cor do Som em Montreux. "Naquele dia foram duas sessões dos brasileiros. À tarde tocamos e fomos bastante aplaudidos, era um público mais jovem. À noite, parte do público era de gente mais velha, que vinha ver jazz. Nos vaiaram exatamente quando tocamos dois frevos. Era época da disco music, embora seja totalmente diferente do frevo, a batida repetida da bateria tinha uma certa semelhança. A gente poderia ter tirado as vaias do disco, mas fizemos questão de deixar lá". 

A Cor do Som não era exatamente um grupo de chorinho, mas uma mistura de rock, jazz, frevo elétrico baiano, e choro mesmo, muito por causa de Armandinho, talento precoce que, aos 15 anos, venceu o concorrido concurso no programa A Grande Chance de Flávio Cavalcanti, tocando Modinha, de Sérgio Bittencourt.
A primeira noite brasileira em Montreux, foi aberta pelo recifense Ivinho (Ivson Wanderley), que não era conhecido fora do seu estado, teve sorte de ser visto por Claude Nobs, o diretor e criador do Festival de Jazz de Montreux, e pediu que o incluíssem no elenco dos músicos que iriam a Montreux. Por coincidência, o primeiro músico brasileiro que tocou em Montreux, foi Naná Vasconcelos, em 1971, com o saxofonista argentino Gato Barbieri. A Cor do Som não trazia a música que a plateia esperava de músicos brasileiros. Foi preciso Claude Nobs intervir, explicar à plateia que aquela também era a música contemporânea que se fazia no Brasil.
ROSA
O novo disco abre com Chegando na Terra, do álbum ao vivo em Montreux, pela primeira vez gravada pelo grupo em estúdio, assim como a Dança do Saci, um baião progressivo, meio Hermeto Pascoal. Arpoador é a faixa que inicia o LP de estreia da banda. Frutificar foi o terceiro álbum da Cor do Som já se direcionando para uma MPB pop e cantada. Frutificar é também tema instrumental, de Mú Carvalho, uma suíte, com influência do rock progressivo inglês, interpretação aprimorada nesta segunda no Álbum Rosa, até pela evolução dos equipamentos de som e estúdios.
O mesmo para Pororocas, do citado álbum Frutificar, um baião, agora mais encorpado, em compasso mais lento do que no original, porém só num trecho. Aos poucos, Armandinho acelera o bandolim, e embalada na parte do final do tema, com Dadi correndo atrás no contrabaixo. Ticaricuriquetô, no original está mais perto dos Novos Baianos tocando frevo elétrico. Na nova versão ficou pesada, mais para rock do que frevo. Espírito Infantil recorre ao arranjo da primeira gravação, o tema é ainda atualíssimo. Se era a melhor música do álbum inicial da banda, continua sendo o ponto alto de Álbum Rosa, que termina com Saudação á Paz, de Mú Carvalho, que abre o álbum Mudança de Estação (1981), o tema recebeu um upgrade sonoro, com a bateria mais à frente. Com esse álbum A Cor do Som chama atenção para a música instrumental, que já teve espaço no Brasil, mas há anos foi relegada a eventuais festivais de jazz, ou a pequenos teatros.

 

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