A canção Strange Fruit é uma espécie de fantasma que, de tempos em tempos, vem tirar a tranquilidade do americano médio, que vota nos democratas, que aceita os imigrantes, é simpático às causas sociais, e que tem consciência do sofrimento e humilhação pelas quais passaram, e passam, os negros no Sul dos EUA. Mas soA canção Strange Fruit é uma espécie de fantasma que, de tempos em tempos, vem tirar a tranquilidade do americano médio, que vota nos democratas, que aceita os imigrantes, é simpático às causas sociais, e que tem consciência do sofrimento e humilhação pelas quais passaram, e passam, os negros no Sul dos EUA. Mas sossegam a consciência, aplicando compressas de panos molhados quentes no passado. De repente, escutam Strange Fruit, com Billie Holiday, ou um intérprete contemporâneo cantando a mais contundente das canções anti-racistas, como vem acontecendo desde as manifestações do Black Lives Matter.
“As árvores no Sul ostentam estranhos frutos/sangue nas folhas, sangue nas raízes/um corpo negro balançado pela brisa sulista/ uma fruta estranha dependuradas dos galhos dos choupos”, versos iniciais da composição do professor e compositor nova-iorquino Abel Meeropol, inspirada numa fotografia de Lawrence Beitler, intitulada The 1930 Lynching of Thomas Shipp and Abram Smith (O linchamento em 1930, de Thomas Shipp e Abram Smith). Ele publicou o poema, sob pseudônimo, numa revista dirigida a professores. Só depois compôs uma melodia para a letra. Meeropol (que editou a música com o nome de Lewis Allan) passou a cantar a música para o público interno, nas reuniões de professores, familiares e amigos. Em 1939, a apresentou a um público maior, no Café Society, então o único clube racialmente miscigenado de Nova Iorque, point de esquerdistas, intelectuais, escritores, músicos de jazz.
Billie Holiday tomou conhecimento de Strange Fruit, por Barney Josephson, dono do Café Society, que fez um evento especial da primeira audição da canção com Lady Day. Todo o movimento do bar parou, garçons, caixas, o pessoal da cozinha. Pediu-se silêncio aos clientes. Apagaramse as luzes, com exceção de um spot suave no rosto da cantora. Quando ela terminou, as luzes se acenderam, Billie Holiday, sem agradecer, calada, saiu do palco debaixo de aplausos. Dali em diante cumpriria o ritual. Strange Fruit quase sempre era a música com que encerrava seus shows. Meio esquecida, voltou a ser tocada novamente durante estes tempos pandêmicos. Segundo a Rolling Stone americana, a música teve, até o mês de julho, mais de dois milhões de audições por streaming.
Está entrando no repertório de lives e singles, com rappers ou roqueiros. Bruce Springsteen a incluiu em seu repertório. A veterana cantora de soul Bettye LaVette, ao ver na TV o assassinato de George Floyd, asfixiado por um policial, ligou para a gravadora. Ela cantava Strange Fruit no palco, e incluiu a canção num novo disco, Blackbirds, lançado na última sexta-feira, 28 de agosto. Betty pediu à gravadora para lançá-lo como primeiro single, “porque estas coisas vão e vêm, continuam acontecendo”, explicou. Muita gente gravou Strange Fruit ao longo dos 81 anos da estreia em disco, Carmem Mcrae, Nina Simone, Annie Lennox, mas nada que se compare à interpretação de Billie Holiday, até porque, embora fosse do Leste, de Filadélfia, ela sabia das histórias tétricas que aconteciam no Sul, das frutas estranhas no choupos do Sul dos EUA.
Primeiro negra a ser crooner de uma big band formada por brancos, a de Artie Shaw, era impedida de entrar pela porta da frente nos hotéis e restaurantes, mesmo que o maestro Shaw exigisse igual tratamento para ela. Se a música até os dias atuais choca a quem a escuta pela primeira vez, em 1939 causou escândalo. Billie Holiday teve dificuldade em gravá-la. Sua gravadora, a Columbia, vetou a música, mas liberou a cantora para que gravasse por um selo pequeno, o Commodore Records, que funcionava numa loja de discos na Rua 42. O impacto foi o esperado. O 78 rotações com Strange Fruit vendeu um milhão de cópias. Tornou-se, assim, o maior sucesso de Billie Holiday. Mas ironicamente ela não cantava a música no Sul. Mesmo na mais liberal Costa Oeste foi agredida verbalmente em apresentações. Abel Meeropol, que era filiado ao partido comunista americano, chegou a ser convocado por um comitê anti-comunista. Queriam saber se foi o partido que o incitou a compor Strange Fruit. Meeropol foi um homem corajoso. Em plena histeria da era do macartismo, ele adotou os dois filhos do casal Julius e Ethel Rosenberg, acusados de espionagem a favor dos russos em 1950, e executados, na cadeira elétrica.
A força da canção a fez atravessar décadas, e sempre ser lembrada quando acontecem atos racistas feito o de George Floyd em 2020, ou o de Eric Garner, afro-americano também morto por asfixiamento por um policial em 2016, em Nova Iorque. Muitos músicos e intérpretes recorreram então a Strange Fruit para protestar. A gravação feita por Nina Simone em 1965 é a mais utilizada em citações de rappers, Kanie West foi um deles que usou a canção, em Blood on the Leaves, de 2013. Strange Fruit logo chegará às telas no longa The United States VS Billie Holiday, dirigido por Lee Daniels. O filho de Abel Meeropol comentou à revista americana Rolling Stone, em matéria sobre a canção, que Strange Fruit continuará relevante até quando o último racista estiver morto”
ssegam a consciência, aplicando compressas de panos molhados quentes no passado. De repente, escutam Strange Fruit, com Billie Holiday, ou um intérprete contemporâneo cantando a mais contundente das canções anti-racistas, como vem acontecendo desde as manifestações do Black Lives Matter.
“As árvores no Sul ostentam estranhos frutos/sangue nas folhas, sangue nas raízes/um corpo negro balançado pela brisa sulista/ uma fruta estranha dependuradas dos galhos dos choupos”, versos iniciais da composição do professor e compositor nova-iorquino Abel Meeropol, inspirada numa fotografia de Lawrence Beitler, intitulada The 1930 Lynching of Thomas Shipp and Abram Smith (O linchamento em 1930, de Thomas Shipp e Abram Smith). Ele publicou o poema, sob pseudônimo, numa revista dirigida a professores. Só depois compôs uma melodia para a letra. Meeropol (que editou a música com o nome de Lewis Allan) passou a cantar a música para o público interno, nas reuniões de professores, familiares e amigos. Em 1939, a apresentou a um público maior, no Café Society, então o único clube racialmente miscigenado de Nova Iorque, point de esquerdistas, intelectuais, escritores, músicos de jazz.
Billie Holiday tomou conhecimento de Strange Fruit, por Barney Josephson, dono do Café Society, que fez um evento especial da primeira audição da canção com Lady Day. Todo o movimento do bar parou, garçons, caixas, o pessoal da cozinha. Pediu-se silêncio aos clientes. Apagaramse as luzes, com exceção de um spot suave no rosto da cantora. Quando ela terminou, as luzes se acenderam, Billie Holiday, sem agradecer, calada, saiu do palco debaixo de aplausos. Dali em diante cumpriria o ritual. Strange Fruit quase sempre era a música com que encerrava seus shows. Meio esquecida, voltou a ser tocada novamente durante estes tempos pandêmicos. Segundo a Rolling Stone americana, a música teve, até o mês de julho, mais de dois milhões de audições por streaming.
Está entrando no repertório de lives e singles, com rappers ou roqueiros. Bruce Springsteen a incluiu em seu repertório. A veterana cantora de soul Bettye LaVette, ao ver na TV o assassinato de George Floyd, asfixiado por um policial, ligou para a gravadora. Ela cantava Strange Fruit no palco, e incluiu a canção num novo disco, Blackbirds, lançado na última sexta-feira, 28 de agosto. Betty pediu à gravadora para lançá-lo como primeiro single, “porque estas coisas vão e vêm, continuam acontecendo”, explicou. Muita gente gravou Strange Fruit ao longo dos 81 anos da estreia em disco, Carmem Mcrae, Nina Simone, Annie Lennox, mas nada que se compare à interpretação de Billie Holiday, até porque, embora fosse do Leste, de Filadélfia, ela sabia das histórias tétricas que aconteciam no Sul, das frutas estranhas no choupos do Sul dos EUA.
PRECONCEITO
Primeiro negra a ser crooner de uma big band formada por brancos, a de Artie Shaw, era impedida de entrar pela porta da frente nos hotéis e restaurantes, mesmo que o maestro Shaw exigisse igual tratamento para ela. Se a música até os dias atuais choca a quem a escuta pela primeira vez, em 1939 causou escândalo. Billie Holiday teve dificuldade em gravá-la. Sua gravadora, a Columbia, vetou a música, mas liberou a cantora para que gravasse por um selo pequeno, o Commodore Records, que funcionava numa loja de discos na Rua 42. O impacto foi o esperado. O 78 rotações com Strange Fruit vendeu um milhão de cópias. Tornou-se, assim, o maior sucesso de Billie Holiday. Mas ironicamente ela não cantava a música no Sul. Mesmo na mais liberal Costa Oeste foi agredida verbalmente em apresentações. Abel Meeropol, que era filiado ao partido comunista americano, chegou a ser convocado por um comitê anti-comunista. Queriam saber se foi o partido que o incitou a compor Strange Fruit. Meeropol foi um homem corajoso. Em plena histeria da era do macartismo, ele adotou os dois filhos do casal Julius e Ethel Rosenberg, acusados de espionagem a favor dos russos em 1950, e executados, na cadeira elétrica.
A força da canção a fez atravessar décadas, e sempre ser lembrada quando acontecem atos racistas feito o de George Floyd em 2020, ou o de Eric Garner, afro-americano também morto por asfixiamento por um policial em 2016, em Nova Iorque. Muitos músicos e intérpretes recorreram então a Strange Fruit para protestar. A gravação feita por Nina Simone em 1965 é a mais utilizada em citações de rappers, Kanie West foi um deles que usou a canção, em Blood on the Leaves, de 2013. Strange Fruit logo chegará às telas no longa The United States VS Billie Holiday, dirigido por Lee Daniels. O filho de Abel Meeropol comentou à revista americana Rolling Stone, em matéria sobre a canção, que Strange Fruit continuará relevante até quando o último racista estiver morto”
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