"Pode parecer clichê, mas amor eu e você, como a lua e o mar, tem que acontecer", diz a primeira frase da música Clichê, originalmente lançada por Ludmilla e Felipe Araújo e regravada pela Banda Sentimentos, que tem Ziane Martins, 20, e Ellyson Marques, 21, como vocalistas.
Tanto o nome da banda quanto o da canção — que já alcançou 10 milhões de visualizações no YouTube — revelam qual a proposta envolvida neste emergente projeto de banda-dueto, tão em voga nos anos 2000. Num momento em que o brega funk ganha destaque internacional, com suas batidas por minuto e letras de destacado erotismo, a Sentimentos vem para cavar espaço na seara do... sentimento. Ainda que dançante e pincelado com toques sensuais, a preferência do repertório recai no romantismo.
Ellyson e Ziane se encaixam no papel de um casal que, por meio das canções, conversam sobre suas vidas amorosas. Narrativa e intérpretes foram desenhados pelo empresário Djalma Dayverson, o DD, que sentiu haver espaço no mercado para o estilo abraçado pela Banda Sentimentos. Ziane e Ellyson foram descobertos por DD após publicarem covers em suas redes sociais. O amor entre ambos, como casal, pode até ser fictício, mas a paixão que ambos têm pela música é bem real e antiga.
Ellyson cresceu num ambiente repleto de ritmo. Ele costumava ir, acompanhando a mãe, a shows do grupo de pagode do qual o pai participava. Às vezes, até arriscava algumas notas no palco. Foi um caminho orgânico até decidir, com total apoio de sua família, que a música era onde queria estar.
Ziane percorreu outro caminho. Embora sempre tenha gostado de cantar, sequer sabia por onde começar uma carreira. Para onde deveria ir? Como e onde gravar?. A resposta veio através de alguém que já estava adiantada nesta trilha.
Numa festa, ouviu a cantora Luanny Vital se apresentando e, com a ajuda de amigos em comum, engatou as primeiras conversas que resultaram numa amizade sólida. Luanny viria a ser uma das grandes incentivadoras da aspirante ao palco. Inclusive, foi quem incentivou a publicação dos vídeos que terminariam por chamar atenção para sua voz e presença.
Durante a infância e adolescência, Ziane enfrentou a depressão. O despertar para a música já a encontrou na fase de superação da doença, sentindo-se mais fortalecida. Ziane começou, então, a pensar que talvez a música não fosse algo tão distante assim.
Ziane recebeu apoio da mãe, que ainda projetava na mente a imagem das cantoras de brega dos anos 2000, com figurinos exuberantes e acompanhadas de bailarinos. Seu pai relutou mais em aceitar, mas terminou se rendendo ao sucesso que filha vinha conquistando pouco a pouco: dois, três, quatro, cinco e, finalmente, 10 milhões de espectadores ávidos para consumir aquele produto musical.
Tanto Ellyson quanto Ziane buscam equilibrar as demandas da carreira recém-deslanchada com a conclusão de cursos superiores, ela, em Nutrição, na Unibra, ele, em Ciências Biológicas, na UFPE.
"Eu acabei me complicando um pouco na faculdade devido à correria com a carreira, mas não pretendo desistir. Estou pagando poucas cadeiras por período para conseguir lidar", garante Ellyson, que não hesita em colocar a música em primeiro plano. "Estudo e saúde são prioridades para mim", pondera Ziane. Ambos garantem que encontram no empresário DD um grande incentivador de suas decisões, profissionais e pessoais.
Em março, quando começaram as medidas de controle da pandemia, parecia que o que estava entrando nos trilhos sofreria uma brusca interrupção. Mas não foi o que aconteceu. Houve desmotivação, sim, mas desistir nunca foi opção.
Os números, que só faziam subir, indicavam que não era hora de parar. Tudo parecia surreal para a dupla. "Ainda tinha dúvidas se realmente era boa o suficiente, mas isso só me mostrou que eu tô no caminho certo", desabafa Ziane.
"Clichê foi algo inesperado, já que de início não era a música que queríamos destacar, mas, com o tempo, percebemos que estava caindo nas graças do povo e aproveitamos a oportunidade para alavancar", diz Ellyson.
Se por um lado a pandemia inviabilizou os shows, por outro, aumentou o acesso à internet, atraindo mais olhares para suas performances."Foi o período em que a gente mais trabalhou, investindo em material digital, lives, EPs, sempre com cautela de distanciamento e prevenção ao covid", conta Ellyson.
A Banda chegou, inclusive, a gravar um DVD sem público e com equipe reduzida. É na divulgação desse conteúdo que eles estão focados atualmente, mas garantem que existirão trabalhos futuros. O quê? Fazem mistério. Resta aguardar.
SUCESSO É TRABALHO
Que o brega funk dominou as paradas neste ano de 2020 ninguém pode negar, mesmo aqueles que não são fãs do gênero. Conseguir o mesmo destaque nacionalmente para o eixo romântico do brega é uma das metas da dupla, que frisa não existirem disputas. O que eles querem, na verdade, é unir forças e explicitar a cultura pernambucana por meio da representatividade do movimento.
Enquanto o sucesso não atinge todo Brasil, Ellyson e Ziane colhem os frutos em solo recifense. Andar na rua e serem abordados com pedidos de fotos já é uma realidade para eles, que conseguem fazer o público cantar em uníssono nos shows. "Nesse último show, as pessoas gritavam, respondiam e cantavam bem alto a música. Eu cheguei até a me emocionar. 'Caramba, como assim? Será que agora foi?'", fala Ziane.
A Banda Sentimentos já soma algumas parcerias como Mc Elvis, Mc Reizin, Banda Sigilo e Banda Bandida. Porém, ambos possuem seus desejos particulares. Ziane quer cantar ao lado de Tierry e Kevin Jonny, enquanto Ellyson não vê a hora de ter Priscila Senna numa música sua. "É um sonho antigo que agora me sinto mais perto de realizar", relata.
As músicas e videografia da Banda Sentimentos estão disponíveis nas principais plataformas de streaming. São perfeitas para quem deseja dançar agarradinho com seu amor na sala de estar, ou arrumar a casa com o volume nas alturas.
Revivem um momento nostálgico para quem presenciou sucessos de Swing do Amor, Kelvis Duran, Banda Tsunami e tantos outros que marcaram a geração com seus bregas lentos e românticos. É torcer para que tenham chegado para ficar e reacender a chama do segmento, que há tanto clamava por mais bandas do gênero.
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