Disco/Raridades

Tom Zé tem disco de raridades com canções lançadas entre 1972 e 1976

Renato Vieira, autor da compilação, recuperou compactos de uma fase importante e pouco conhecida do tropicalista

José Teles
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José Teles
Publicado em 15/09/2020 às 20:21 | Atualizado em 18/09/2020 às 11:08
Diivulgação
Tom Zé, raro - FOTO: Diivulgação

 

Quando Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos logo depois do AI-5 (na verdade, houve um pega geral, que levou à prisão atores, jornalistas – a redação quase inteira de O Pasquim - escritores que não se pautavam pela cartilha do regime), Tom Zé, Gal Costa e os Mutantes seguraram a onda do movimento. Tom e Gal apresentaram juntos, em maio de 1969, uma temporada no Teatro de Bolso, do Leblon acompanhados de Os Brazões. Seria a festa de encerramento do tropicalismo.
Naquele ano, a mão dura da censura se abateu sobre as artes brasileiras. Em particular sobre a música popular, castrada pela censura prévia. Os shows deveriam ser apresentado antecipadamente a policiais da censura federal. Independente da competência em relação a estética, eram eles que decidiam se o espetáculo poderia ou não ser visto pelo público. Fazer música no Brasil era como andar na corda bamba.

Começaria a partir dai o período de ostracismo para Tom Zé, Enquanto muita gente ligada a Tropicália viajava para Londres, onde Caetano e Gil passariam dois anos de exílio, ele permaneceu em São Paulo. Como a grande vitrine da indústria do entretenimento era o Rio, Tom passou a frequentar menos a mídia, embora tenha continuado a gravar. No entanto, seus discos vendiam pouco, e tocavam menos ainda no rádio, sobretudo os compactos.

Parte da produção menos conhecida de Tom Zé é reeditada, numa compilação, fruto de pesquisa do jornalista Renato Vieira, do Estadão, cujo resultado está em Raridades, disco que reúne 14 canções, lançadas entre 1969 e 1976, só conhecida dos fãs de carteirinha de Tom Zé. É o caso da estreia dele na RGE, de João Araújo, num compacto com Você Gosta (parceria com Hermes de Aquino) e Feitiço, ou Jeitinho Dela, ao vivo, com Os Novos Baianos. E ainda, Senhor Cidadão, parceria com Augusto de Campos.

Algumas foram regravadas com arranjos diferentes, a exemplo de Augusta Angélica e Consolação. Outras só agora saem da total obscuridade, feito Quem Não Pode Se Tchaikovski, parcerias com Odair Cabeça de Poeta e Tchaikovski (pelo trecho de um concerto do autor russo enxertado na canção). Esta música é lado B do compacto com a citada Augusta Angélica e Consolação no lado A, lançado em 1973. O mais raro aqui, no entanto, não está na voz de Tom Zé. São duas canções dele lançadas, também em 1973, por Betina, uma cantora novata, que gravou que primeiro, e único, disco na Chantecler. Tom Zé foi convidado a fazer os arranjos, e a dirigir a banda que a acompanhou. As músicas são Que Bate Calado e O Anfitrião. A primeira, com o título de Dói, está no álbum Estudando o Samba (1976), e a segunda no Se o caso É Chorar (1972). E ainda tem mais música de Tom Zé esperando reedição . O disco Tom Zé Raridade, chega ao público em 16 de outubro, no formato digital e em CD, pela Warner Music.
PRODUÇÃO
Renato Vieira além de jornalista, realiza projetos especiais para gravadoras. Para a Warner trabalhou nas caixinhas da série de Jorge Mautner, Belchior, e Novos Baianos. O disco de Tom Zé começou a nascer que o pessoal da gravadora lhe perguntou se ele tinha algum projeto em mente: “Lembrei dessas faixas do Tom Zé na Continental, cujo acervo foi adquirido pela Warner nos anos 1990, e que nunca haviam sido reeditadas. Também conseguimos sete fonogramas da RGE. A Warner topou, e eu procurei Tom Zé para saber se ele estava de acordo, ele ouviu e deu tudo certo”.
Vieira esclarece o motivo de ter se ficado num tempo específico da carreira de Tom Zé: “As músicas escolhidas vão do período de 1969 a 1976 porque na época o Tom fez muitos compactos, e participou de projetos especiais. Optei por montar a coletânea em ordem cronológica, deixando as faixas que ele gravou como arranjador para o compacto da cantora Betina como bônus. Infelizmente não conseguimos localizar os tapes originais da Continental, tiramos do vinil mesmo. Mas o som foi remasterizado pelo Ricardo Garcia e ficou perfeito”.

 

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