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Janis Joplin pagou pela festa que os amigos fizeram em sua memória

Cantora símbolo de uma era morreu há 50 anos de uma overdose de heropina

José Teles
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José Teles
Publicado em 02/10/2020 às 15:10
DIVULGAÇÃO
PEARL Janis Joplin ficou bem à vontade com Paul A. Rothchild durante as gravações do último disco - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Na coletiva que concedeu no Copacabana Palace, em fevereiro de 1970, Janis Joplin, entre as muitas perguntas bobas que lhe fizeram, uma foi sobre se quanto tempo iria durar sua voz. A resposta: “Minha voz está melhor agora do que há quatro anos. Além disso, não me importo se perder a voz. Se perder, vou ser outra coisa. Não quero ser uma cantora pelo resto da vida. Vou ser um rato de praia. Não dou a mínima, contanto que me divirta”. Janis queria apenas se divertir, ou não sofrer. Foi certamente para evitar o sofrimento, que se injetou com a dose exagerada de heroína que a matou no dia 4 de outubro de 1970. Estava com 27 anos e nove meses.
Uma de suas últimas gravações foi uma canção desejando um feliz aniversário a John Lennon, que completaria 30 anos no dia 9 de outubro, feita no estúdio Sunset Sound, do produtor Paul Rothschild. Ali Janis Joplin trabalhava no que seria Pearl, seu disco mais elogiado, melhor produzido, que não chegou a terminar. A faixa Buried Alive in Blues, do guitarrista Nick Gravenites (da Electric Flag) é um instrumental no álbum. A banda Full Tilt Boogie que estreava em estúdio, gravou as bases da música no sábado. Janis iria colocar voz na segunda. Foi vítima da overdose no domingo. Paul Rothschild pretendia que Gravenites fizesse os vocais, ele se recusou.
A viagem ao Rio marcou Janis Joplin, sobretudo pelo namorado que conheceu na cidade, o americano David Niehaus. Ele estava no Brasil como turista, conheceram-se em Copacabana nos primeiros dela no Rio (o que faz com que recaiam dúvidas sobre tantas histórias de pessoas que contam sobre encontros com a Janis). Ele a ajudou a ficar longe da heroína enquanto estiveram juntos. Iam voltar juntos para Los Angeles, mas Niehaus ficou retido pela Polícia Federal, para explicar o motivo de ter estourado o prazo de permanência no país. Janis viajou sozinha para Larkspur, a cidadezinha da Califórnia onde comprara uma casa. David Niehaus chegaria a Larkspur dois dias depois, para descobrir que Janis voltara à heroína. Tinham combinado uma viagem ao Himalaia, que ele achava que faria bem à namorada. Ele desistiu de Janis e foi embora.
Quando se referia a Niehaus, Janis dizia que ele foi o grande amor perdido da sua vida. Foi a segunda perda sofrida em poucos dias. Ainda no Rio, sua melhor amiga, Linda Gravenites, que morava com ela em Larkspur, descobriu que Janis Joplin estava consumindo heroína às escondidas. Linda decidiu antecipar sua volta aos Estados Unidos, foi para a casa de Larkspur, que estava sendo reformada. Quando Janis Joplin voltou e passou a se injetar com frequência, Linda Gravenites também foi embora. Quando exagerou na dose, no pequeno quarto do hotel Landmark, em L.A, a solidão era sua companhia. Kris Kristofferson com quem estava se encontrando na época viajara para a Inglaterra, para se apresentar no festival da Ilha de Wight. Mas ela namorava também com Seth Morgan, uma espécie de playboy hippie, de família rica, que conheceu numa festa em São Francisco. Em Los Angeles não tinha amigos íntimos, os integrantes da banda, e o produtor eram colegas de profissão.


Em estúdio


O produtor Paul A.Rothschild, que assina quase todos os discos de The Doors, esperava ter que suportar de Janis Joplin as mesmas dificuldades que teve que aturar de Jim Morrison. Ela se mostrou uma agradável surpresa. Janis se mostrou atenciosa, interessada em aprender o que o experiente produtor tinha a lhe ensinar. Para surpresa ainda maior de Rothschild, era de uma pontualidade britânica, algo que nunca tinha visto em nenhum dos muitos artistas e bandas eu produziu. Chegava ao estúdio meia hora antes do combinado. A empatia ajudou Paul Rothchild extrair o máximo da cantora, que nunca esteve tão à vontade num estúdio, que ela dizia detestar, achava maçantes os detalhes técnicos, os overdubs, cantar em cima de bases pré-gravadas.
Tão à vontade que irrompia, de repente, com alguma canção religiosa, ou paródias delas, como foi o caso de Mercedes Benz, um dos sucessos de Pearl, seu disco póstumo. O Sunset Sound tinha um gravador de segurança, que ficava o tempo inteiro ligado. Foi graças a ele que Mercedes Benz foi registrada. A música foi feita de improviso usando versos de um poema de Michael McClure (da geração beat), que, quando ela criou a música, estava presente, com o cantor folk Bob Neuwirth (os dois foram creditados como parceiros). A última gravação que ela fez no Sunset Sound.
O empresário Albert Grossman foi o primeiro a ver Janis Joplin morta. Ele não ligou logo para a polícia. Entrou em contato com as pessoas do círculo de amizade da cantora, os parentes. Grossman personagem controverso, quando assinou contrato com Janis Joplin incluiu uma cláusula, pela qual o uso de drogas seria motivo para rescisão. Quando descobriu que usava heroína, em lugar de repreendê-la, fez um seguro de 200 mil dólares caso ela morresse.
Por estas e outras, a família de Janis Joplin não permitiu que músicos, e gente ligada à música, fossem admitidos no velório. Porém, ironicamente, em seu testamento Janis deixou 2.500 dólares para que os amigos fizessem uma festa (hoje seriam 16 mil dólares), quando morresse. Não queria choro, mas música e alegria. 15 dias depois sua morte, no bar Lion’s Share, em Maryn County, na Califórnia, aconteceu a festa que Janis patrocinou. Veio muita gente. A maioria músicos. Suas três bandas, Big Brother and the Holding Company, Kozmic Blues e Full Tillt Boogie Band e, claro, nomes famosos da cena de San Francisco, feito a banda Quicksilver Messenger Service. Country Joe mandou uma composição inédita intitulada Janis. Pearl, seu primeiro disco póstumo, foi lançado em janeiro de 1971.

 

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