Disco

Astrud Gilberto numa coletânea para refrescar a memória dos brasileiros

Ela foi a cantora brasileira mais bem sucedida no exterior nos ultimos 55 anos

José Teles
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José Teles
Publicado em 01/12/2020 às 15:41 | Atualizado em 01/12/2020 às 15:48
Divulgação
Astrud, cult e desconhecida - FOTO: Divulgação

Descartem qualquer post ou notícias em blogs sobre o sucesso internacional desta ou daquela cantora deste milênio. Nos últimos 60 anos, a única brasileira a emplacar nos primeiros lugares das paradas de sucesso mundo afora foi a baiana, filha de pai alemão, Astrud Evangelina Weinert, 80 anos em março de 2020, conhecida como Astrud Gilberto.
Aos que só a conhecem de Garota de Ipanema (Tom e Vinicius), Universal Music, lança uma coletânea de Astrud Gilberto, cuja voz e repertório são apropriados para estes dias pandêmicos que pedem um pouco mais de calma. Work From Home with Astrud Gilberto (Trabalhando em Casa com Astrud Gilberto), ou seja, a pedida para o home office. São 37 faixas, de todas as fases de Astrud, que interpreta bossa nova clássicos da música americana, Beatles, música brasileira dos anos 50.
Ela deve ter tomado lições de canto do marido João Gilberto. Ela usa com primor o fio de voz que tem, ciente de suas limitações, interpreta canções que já tiveram versões no vozeirão de Frank Sinatra ou Tony Bennett, a exemplo de Fly me to the Moon (Bart Howard), ou no vocalise da francesa Les Lavandières du Portugal, ou Portuguese Washerwomen (As lavadeiras de Portugal), de André Pop, que gravou com o órgão do recifense Walter Wanderley. Um disco sem contraindicações, e com uma capa refinada e discreta, feito Astrud Gilberto.
ASTRUD
Há 55 anos, com João Gilberto e o saxofonista Stan Getz, Astrud Gilberto emplacou um inesperado hit internacional com Garota de Ipanema, ou The Girl from Ipanema (Tom e Vinicius). Um sucesso que aconteceu num golpe de sorte comparado a ganhar sozinho a megasena. Criada no Rio desde criança, Astrud era vizinha de Nara Leão na Avenida Atlântica, o endereço mais nobre do Rio nos anos 50 (aliás um dos mais nobres do mundo). Comparecia, portanto, às reuniões musicais que aconteciam no apartamento da família de Nara. Foi ali que conheceu João Gilberto, acabou casando com ele, e indo morar nos Estados Unidos.
João gravava um disco com Stan Getz, a bossa nova estava estourada nos Estados Unidos, e disse a Astrud que queria ele fosse para o estúdio com ele. Há duas versões da história. Uma a de que pretendia que Astrud, que nunca cantou fora de rodinhas de amigos, gravasse Garota de Ipanema em inglês, uma demo para ser enviada a Ella Fitzgerald. A outra de que o produtor Creed Taylor, pretendia enxertar voz feminina num trecho da música. Ela falava um pouco de inglês, com sotaque, cantou, e estreou assim em disco. O álbum Getz/Gilberto foi gravado em dois dias (com Tom Jobim ao piano, Tião Neto, contrabaixo, e Milton Banana na Bateria). Asrtud canta em outra faixa do álbum, Corcovado (Tom Jobim).
Creed Taylor temeu pelo destino do álbum. Acho que não ia se pagar. Passou quase um ano para lançá-lo. Getz/Gilberto chegou às lojas em 1964, passou 96 semanas frequentando as paradas da Billboard, alcançando um segundo lugar, com um single feito editado, creditado a Astrud. Ela foi tirada do topo das paradas pelo álbum A Hard Day’s Night, dos Beatles. Em compensação fez com que The Girl From Ipanema, em 1965, ganhasse o Grammy de música do ano. Astrud Gilberto tornou-se uma estrela, cultuada até os dias atuais, embora não tenha voltado às paradas. Nos anos 80, com uma onda de new bossa que eclodiu na Europa, voltou a ser revalorizada. Voltou a gravar, mas em períodos cada vez mais espaçados. Seu ultimo disco é de 2002.

 

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