Música

Marina Lima lança songbook e EP: 'Entendi melhor a minha obra'

Cantora e compositora afirma torcer para que o Brasil supere logo a tragédia do coronavírus e reencontre sua alegria enquanto país

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 08/04/2021 às 19:07 | Atualizado em 16/11/2023 às 15:49
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As canções de Marina Lima estão imbricadas no tecido da música popular brasileira há quatro décadas. Nos últimos dois anos, a cantora e compositora mergulhou em sua robusta obra para organizar seu primeiro songbook, Música e Letra, que reúne 175 canções transcritas por Giovanni Bizzotto. O livro é disponibilizado nesta sexta-feira (9), gratuitamente e online, como parte do desejo da artista de retribuir o acolhimento do público ao longo dos anos e de inspirar novas gerações. Simultaneamente, ela divulga o EP Motim, com quatro canções inéditas, incluindo uma parceria com Mano Brown.

Os pedidos para que Marina lançasse um songbook (obra com as tablaturas, partituras e composições de um artista) existem desde o começo de sua carreira. Ela, no entanto, sentia que não era hora. Após Novas Famílias (2018), ela finalmente se sentiu à vontade para se lançar na empreitada de revisitar seu catálogo. Por conter canções que não foram escritas por ela, Marina precisou da aprovação dos outros compositores, como Rita Lee, Caetano Veloso e Roberto Carlos, que cederam os direitos para a publicação, sem cobrar. 

"Há dois anos, eu percebi que já tinha [lançado] 21 discos. É uma obra; são anos. Também percebi, com o tempo, me entendendo melhor, vendo como eu criava e como eu reunir meu repertório, percebi que o ouro da minha obra não são só as canções que eu compus, são os meus discos, que contêm muitas músicas minhas, mas outras que não eram", conta. "Eu não queria fazer um livro para ganhar dinheiro, queria distribuir minha obra que tocava tanto em tudo quanto é lugar. Isso é um motivo de alegria enorme para mim. Por isso eu queria fazer o songbook de graça para quem quiser aprender e levar [a obra] adiante."

Revisitar a própria obra foi um movimento atípico para Marina Lima, que diz não ter o temperamento de alguém que olha muito para o que já fez. "Senão fico presa nisso e eu não quero; quero seguir", explica. Por isso, em algum momento, o processo lhe causou estranheza, apesar de, posteriormente, ter lhe revelado nuances sobre sua produção.

"Lembro que um dia tive um ataque e disse: 'Meu deus, para que tanta música?' (risos). Porque aquilo estava me tomando um tempo, revendo tudo que eu já tinha feito e não gostando de alguma coisa e eu não queria passar por aquilo (risos). Mas foi bom porque fiquei mais simpática a tudo meu e entendi melhor onde evoluí. Entendi melhor a minha obra. Por isso os discos estão no songbook em ordem cronológica, porque eu queria que o público entendesse a evolução do artista, porque, como ele começa nunca é como termina", enfatiza.

Esse olhar para o passado não impediu que Marina continuasse mirando o futuro. Desde o início da pandemia, ela se lançou nos estudos de música e produziu muito. Quatro dessas novas canções estão em Motim, EP produzido pela artista e por Alex Fonseca. A escolha por lançar um número menor de músicas se deu, também, pela transformação no mercado musical.

"Desde que comecei, a maneira como se consome música, como se compra, onde se ouve, mudou tudo. O mundo é muito mais audiovisual. Então, pensei - e tudo meu é muito pensado, porque desconfio de inspiração - que além do songbook, com obras que já tinha feito, eu queria lançar algo de agora. Fiz muita música, mas não me via fazendo um CD", diz. "Se o artista pensa o CD como um livro, acho que o EP é a reunião de contos. "Acho que com a idade e o tempo você vai percebendo onde está o melhor seu. Eu havia composto mais músicas, até instrumental, mas pensei que essas quatro músicas sintetizavam bem a minha trajetória."

Para divulgar os novos trabalhos, Marina disponibilizará ao longo do tempo materiais audiovisuais captados durante a feitura do songbook e do EP. A artista diz torcer para que a tragédia sanitária e humanitária vivida pelo Brasil com a crise do coronavírus passe o mais rápido possível e que o país possa reencontrar a sua alegria.

"Me sinto uma privilegiada porque tenho onde dormir, tenho o que comer, vou esperar pelo SUS para que minha hora chegue para me vacinar, mas ao redor do Brasil está um caos. Nunca soube de uma época tão tenebrosa. Então eu só desejo, espero e torço que em 2022 a gente tenha um quadro melhor para tentar buscar a história que a gente merece", afirma. "Eu acho que o povo mais sonhador que eu conheço é o brasileiro. Porque é uma loucura que a gente enfrenta, mas em qualquer lugar do Brasil que você vai, sempre tem alguém com tão pouco, mas que busca ser feliz. Então tomara que em algum momento o povo possa se abraçar e ser feliz de alguma maneira."

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