VIDA E MÚSICA

A história de Milton Nascimento e Augusto Nascimento, o filho que levou o pai de volta aos palcos

Jovem tornou-se empresário de Milton Nascimento e idealizou a turnê que vem ao Recife, sua última

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Romero Rafael

Publicado em 12/08/2022 às 20:52 | Atualizado em 16/11/2023 às 17:26
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Quando conheceu Augusto, Milton Nascimento foi tornando-se pai. Encontrou o filho que não teve e desejava. Quando conheceu Milton Nascimento, Augusto foi tornando-se filho. Encontrou o pai que não teve e desejava.

A história dos dois é a de uma adoção mútua — e legalmente registrada em 2017. Também naquele ano, Augusto, já com o sobrenome Nascimento, reanimou Milton, quando o cantor e compositor pensava em parar a carreira. Milton redesenhou Augusto, um jovem formado em direito que jamais havia pensado em trabalhar com música.

Esse encontro de pai e filho, de certa forma, é também parte e motor da turnê A Última Sessão de Música, que chega à Arena Pernambuco no dia 11 de setembro e marca a despedida de Bituca dos palcos. Mas só dos palcos.

"Esse projeto é uma ideia minha desde quando assumi a carreira dele — quando ele decidiu parar de cantar, mas não tinha se despedido", conta Augusto Nascimento, que é considerado, inclusive por amigos do pai, responsável por ter salvado Milton Nascimento do desânimo ou ostracismo.

Foi sob os cuidados do filho, à época totalmente alheio ao mercado da música, que Bituca, em 2017, retomou a carreira. Desde então, vieram as turnês "Semente da Terra", "Mais Bonito Não Há" (com Tiago Iorc), "Clube da Esquina" e esta de agora, a derradeira.

"Eu não acho que eu salvei a vida dele. Acho que a gente tem um papel, um com o outro, de ter nos salvado. Ele tem uma importância muito grande em tudo o que eu sou hoje — no adulto que eu me tornei tem muito da minha convivência com ele", diz Augusto que, na relação com Milton Nascimento, nasceu-se filho e empresário.

Ele explica que identificou os caminhos necessários para que a volta do pai aos palcos fosse prazerosa, e não um fardo, devido às complicações de saúde e ao cansaço físico de Milton Nascimento, que completará 80 anos no dia 26 de outubro.

"Mas foi muito difícil no começo: eu entendia nada do que eu estava fazendo e tinha a responsabilidade de reerguer um artista gigantesco. Só que eu decidi encarar, e o fato de o meu pai confiar muito em mim — ele não questionou nada do que eu propus de ideia — me fez querer crescer. Mas eu escutava muita piadinha, fui muito ofendido no início", relata, aos 29 anos e já empresário de mais três artistas: Beto Guedes, Julio Secchin e Zé Ibarra, que abre a turnê e divide os vocais com Milton Nascimento em "A Última Sessão de Música".

Celebração de despedida de Milton Nascimento dos palcos

"Eu já pensava nele encerrar com 80 anos; pensava em pavimentar o caminho pra gente chegar nesse momento bem, com as pessoas tendo boas memórias, como uma celebração, e não uma despedida. Ele está bem feliz e curtindo. Não está enterrando uma história, está revivendo."

A Última Sessão de Música iniciou agenda pelo Rio de Janeiro, em junho, e em seguida partiu para Europa, com apresentações na Itália, Inglaterra e em Portugal. Voltou à capital carioca no início do mês, agora vai a Porto Alegre, São Paulo e Salvador, até chegar ao Recife, que a princípio não receberia o show.

"A gente estava receoso em relação à volta aos palcos depois da pandemia e como ele responderia a uma turnê. A malha aérea do Brasil é muito complicada, então eu reduzi ao máximo a quantidade de voos. Até pela covid, porque as pessoas querem falar com ele nos aeroportos, o que aumenta a exposição ao vírus", explica Augusto Nascimento.

"A ideia era fazer as três cidades [além do Rio e de São Paulo, Belo Horizonte, onde se encerrará no dia 13 de novembro, no Mineirão], mas ele respondeu tão bem na Europa, e gostou tanto, que a gente marcou mais."

Os shows no Brasil têm acontecido em locais maiores do que os teatros onde Milton Nascimento costumava se apresentar. Pergunto como tem sido a experiência, considerando que a obra de Bituca é de extrema sensibilidade.

"As pessoas gostam de estar num lugar onde tem muita gente vivenciando aquele momento. Não vejo como algo que tira a sensibilidade, vejo como algo que amplia a experiência", analisa — e cita que, no fim de semana passado, na Jeunesse Arena, no Rio, todas as pessoas estavam em pé e acenderam as lanternas dos celulares. "Acho que tem uma coisa de as pessoas se emocionarem juntas."

A emoção construída na plateia, conta, começa ainda no camarim. "Está todo mundo numa onda de aproveitar esse momento, vivê-lo o máximo possível."

O show feito em Londres foi gravado — assim como será o do Mineirão — para virar DVD e um álbum ao vivo. Imagens da turnê — que em outubro irá aos Estados Unidos, passando por sete cidades — estão sendo captadas para um documentário, com direção de Flávia Moraes, previsto para o ano que vem.

Não há planos concretos para depois da despedida. Milton Nascimento, sim, pode voltar a um palco, mas não a uma turnê e o desgaste que ela causa.

"Quero deixar ele encerrar esse ciclo e se entender com os desejos musicais dele, para daí eu operar o que ele estiver a fim de fazer. Quero respeitar o espaço dele, que vai ter tempo para compor, viver a vida, passear, gravar com amigos. Se ele ficar a fim de fazer um show, ou participar do show de alguém, eu faço o que ele quiser."

Milton Nascimento e Augusto Nascimento trocaram recentemente Juiz de Fora (MG) pelo Rio de Janeiro. Moram juntos, trabalham juntos, vivem juntos.

"Ele é a pessoa mais próxima que eu tenho na vida, literalmente", diz o filho, que também convive com a mãe. Do pai ele já ganhou uma música — ainda não gravada, "que é, obrigatoriamente, a minha preferida, se não ele briga comigo", brinca —, mas há uma da discografia que o tem 'pegado' nos últimos tempos: "Pai Grande".

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