MÚSICA

Alceu Valença elogia nova geração musical pernambucana: 'Antes, tinha muita coisa de rock'. Confira a entrevista

Cantor lança disco de duetos 'Bicho Maluco Beleza - É Carnaval', incluindo as baianas Ivete Sangalo e Maria Bethânia: 'Com a internet fica bem mais fácil, pode ser que alguma música até vire chiclete'

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Emannuel Bento

Publicado em 26/01/2024 às 15:11 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:13
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Em meio às discussões acaloradas sobre "qual o melhor Carnaval" do Nordeste, Alceu Valença traz o Brasil para folia de Pernambuco em "Bicho Maluco Beleza - É Carnaval", disco que reúne seus sucessos em duetos com grandes nomes e revelações da música nacional.

Participam do álbum antigos parceiros do mestre de São Bento do Una, como Geraldo Azevedo ("Taxi Lunar") e Elba Ramalho ("Caia por de Mim"), mas também encontros inéditos, a exemplo das baianas Ivete Sangalo ("Bicho Maluco Beleza") e Maria Bethânia ("De Janeiro a Janeiro"), além de novos nomes da música, como Almério ("Homem da Meia-Noite").

"Esse disco é o reflexo do Carnaval que eu faço. Atualmente, tenho o bloco Bicho Maluco Beleza, que já reuniu 600 mil pessoas em São Paulo, ao mesmo tempo em que existe um bloco do mesmo nome em Olinda. O álbum reflete a nossa cultura de Pernambuco, sobretudo porque tem de frevo de bloco ao maracatu", diz Alceu Valença, ao JC.

Homenagem à série 'Asas da América'

O músico ressalta que 'Bicho Maluco Beleza - É Carnaval' é uma homenagem a Carlos Fernando, que idealizou a série "Asas da América", em que vários intérpretes da MPB cantaram frevo - os discos foram lançados entre 1979 e 1989. "Ele tinha a ideia de relançar o frevo no Brasil e eu fiz parte do projeto, por isso divido esse disco com ele", diz. 

PEDRO HANSEN/DIVULGAÇÃO
Capa de 'Bicho Maluco Beleza - É Carnaval', de Alceu Valença - PEDRO HANSEN/DIVULGAÇÃO

"Essa ideia de regravar com outras pessoas é incrível, afinal, quem diabos conhece as músicas do Carnaval de Pernambuco lá fora? O Carnaval acaba sendo essa coisa setorizada, mas com a internet fica bem mais fácil. Pode ser que alguma música até vire chiclete e viralize".

'Viagem carnavalesca'

Assim como fez com os seus últimos três lançamentos acústicos, gravados durante a pandemia, Alceu Valença considera o novo álbum uma espécie de "viagem", começando pelo trio elétrico. Isso explica, por exemplo, o convite feito a Ivete Sangalo.

"Eu abro o meu Carnaval sempre com o bloco Bicho Maluco Beleza, em São Paulo, onde subo num trio elétrico. Eu já vi Ivete Sangalo cantando em um trio quando estava na casa da minha mãe, na época que existia o Recifolia (evento que ocorria na Avenida Boa Viagem, nos anos 1990). A chamei para o disco e no final ela entendeu tudo. Ivete tem um brilhante senso de humor e terminou a música com uma risada: 'eita, bicho maluco!'. E esse bicho sou eu (risos)", diz.

"Eu também chamo Maria Bethânia, que sempre foi muito simpática comigo. Toda vez que eu ia ver a entrega do Prêmio da Música Brasileira, ela sempre falou comigo. A chamei para um diálogo entre nós", explica.

"Em 'Diabo Louro', com Juba, fizemos um outro diálogo da porra, incrível, com um frevo com pegada, que às vezes as pessoas não entendem. Algo absolutamente pernambucano com uma composição de um dos maiores compositores de todos os tempos: Jota Michiles".

Nova geração

Além de Juba, filho de Alceu, o disco também conta com a participação de Almério, um dos nomes da nova cena autoral do Estado, em "Caia por cima de mim".

"[Essa nova geração de artistas] é maravilhosa, incrível. Tem o meu filho, tem o Juliano [Holanda]. Aquela menina, a Flaira Ferro. Eu estava em Portugal e a vi, dança para caralho. Vi o show dela, muito bom."

LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO
Alceu Valença lança 'Bicho Maluco Beleza - É Carnaval' - LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO

"É uma cena muito grande que tem em Pernambuco e é muito bom que essas pessoas se unam. Geralmente cada um faz o seu, mas eles tem uma relação entre eles, sabe? Inclusive, uma coisa interessantíssima: eles mergulham profundamente na cultura pernambucana. Antigamente não era isso. Não sou contra, mas tinha muita coisa de rock n' roll. Às vezes, quem fazia rock não sabia que aquilo era americano. E esse pessoal de agora sabe cantar frevo, sabe maracatu, ciranda, sabe a cultura do povo."

Sobre o comentário sobre o "rock n' roll", Alceu faz uma ressalva: "Chico Science fez uma coisa da cultura pernambucana. Foi uma cena voltada para isso que deu certo. Mas, tinha algo também que não foi para a frente. Isso não só aqui, mas em todo o Brasil. Eu acho que hoje há uma tendência de pessoas com sensibilidade artística, de mergulhar na sua própria cultura. Não ter vergonha da cultura. Em determinado momento, as pessoas tinham vergonha da própria cultura."

Sobre Science, que será homenageado do Carnaval do Recife em 2024, ele relembra: "Ele chegou a ir na minha casa, no Rio de Janeiro. Deu duas entrevistas lá. Nós juntos. Naquela época, eu vinha pouco ao Recife".

Inéditas e livro de poemas

Questionado se ainda lançaria um disco de inéditas, Alceu Valença diz que "tem muitas canções". "Se eu vou for mostrar, fica até cansativo. Eu canto e guardo. Mas, só faço quando quero. Neste momento, a minha cabeça está mais voltada para livros de poemas, crônicas e contos que faço", revela.

LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO
Alceu Valença lança 'Bicho Maluco Beleza - É Carnaval' - LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO

"Viajo muito em aviões, em viagens internacionais, então são como 'surtos'. A minha mulher fala que tenho surtos criativos. Eu tive um surto criativo quando fiz meu filme, por exemplo. Já me chamaram para lançar livro, mas para poder fazer eu tenho que aproveitar. Eu não sei quando vou lançar. Tinha um livro que eu ia lançar e perdi num táxi e nunca me devolveram, então foi perdido."

"Sobre o álbum de inéditas, pode ser que eu lance. Mas, no momento, estou voltado para esse disco de duetos."

Casa Estação da Luz

A Casa Estação da Luz, propriedade de Alceu localizada no Sítio Histórico de Olinda que transformou-se num equipamento de turismo e cultura, tem recebido uma movimentada programação desde que adotou o atual formato em 2021.

"Eu acompanho muito de longe, por conta da questão da selfie. Vou lá algum dia para poder ver as coisas e curtir também. Mas, se você tirar selfie com um e não tirar com outro, você está fudido. A pessoa se sente desprestigiada. Tem essa questão: deveria ser uma coisa boa para eu ir, mas não posso ir muito, é meio cruel."

"Hoje, eu sai na rua para caminhar. Peguei a beira do mar de Olinda. Uma senhora me pediu para fazer uma música para o neto dela, que era louco por mim. Eu disse que era 'díficil fazer uma música assim'. Eu vou escondidinho, andando, com a minha máscara. Não fiquei incomodado. Coloquei uma roupa totalmente diferente da minha e ninguém notou".

Como tradição, Alceu Valença já está confirmado na programação do Carnaval do Recife, no polo do Marco Zero, na terça-feira (13). Já em Olinda, ele fica com a abertura, na quinta-feira (8). "Bicho Maluco Beleza - É Carnaval" está disponível nas plataformas digitais.

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