Batata-doce, macaxeira e milho. Ingredientes extremamente comuns na culinária brasileira e presentes diariamente nas mesas, distribuídos nos mais variados preparos. Com o milho, podemos fazer canjica e pamonha; a macaxeira nos fornece chips ou bolo; já a batata-doce, um delicioso nhoque. Fugir da mesmice pode ser difícil, principalmente quando um dos critérios para se ter destaque na atualidade é o "fazer diferente".
Rivandro França tomou essa estratégia para si e foi além, explorando toda sua criatividade para criar bombons com esses insumos tão versáteis. Foi justamente com eles, e enfrentando os empecilhos da vida, que o chef ganhou notoriedade e, a partir do próximo dia 3, comandará o programa Sabor da Gente, transmitido pela TV Jornal.
Mas antes ele se despede do programa Cozinhando em Casa, exibido nas plataformas digitais do SJCC. Além de ensinar receitas de simples preparo com um toque pessoal, Rivandro também mostra como fazer os pratos escolhidos pelo público, em votação digital. O último episódio vai ao ar nesta sexta-feira (31).
Apesar de estar vivenciando um ótimo momento, a trajetória de Rivandro não foi nenhum mar-de-rosas. Seu contato com o universo gastronômico deu-se ainda criança graças ao seu pai que, paraibano, veio a Pernambuco para trabalhar de cozinheiro numa casa de família.
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Farofa de bolão e pé de galinha faziam parte do cardápio da família que, além do pai e da mãe, contava com mais quatro irmãos. Tudo era dividido igualmente para que todos pudessem comer. Um dos maiores divertimentos da infância de Rivandro — senão o maior — era ir ao mercado de São José, mensalmente, comprar iguarias na companhia do genitor. O chef define esses passeios como um verdadeiro "marco" para a futura profissão.
Ainda novo, com 10 anos, passou a vender pastel, água, picolé ou qualquer outro item que lhe rendesse alguns trocados. Com 14, conseguiu seu primeiro emprego formal. Foi trabalhar numa grande rede de supermercados e lá fazia pães de queijo e pizzas, apurando o gosto pela culinária.
Apesar da experiência, quando completou 18, decidiu ingressar num curso técnico de enfermagem. As festas que rolavam no ambiente hospitalar eram o pretexto perfeito para Rivandro exibir seus dotes, e ele fazia questão de entregar pratos diferentes para cada comemoração.
Quase duas décadas separam o chef de sua antiga profissão. O jaleco foi seu parceiro por muito tempo e ele chegou, inclusive, a ser terceiro sargento do Exército Brasileiro, atuando como profissional da saúde. Quando saiu de lá, decidiu retornar aos estudos e graduar-se.
A maioria esperava que Rivandro ingressasse em enfermagem, ou até mesmo em medicina, dando continuação ao que vinha praticando até então. Mas não foi assim que aconteceu.
"Eu fui fazer gastronomia porque era o que eu queria. Queria botar alguma coisa para mim, como um bufê ou algo do tipo. Nunca pensei em restaurante e em ser chef renomado. Eu queria alguma coisa coisa que me fizesse viver da comida, que era o que gostava de fazer", afirma. Foi ainda na faculdade que ele começou a desenvolver os bombons diferenciados.
Rivandro encontrou apoio com a família e amigos, que lhe deram suporte e incentivo para seguir na carreira. O único que se mostrou levemente relutante pela escolha foi o pai, que questionava se a decisão era acertada e, acima de tudo, daria sustento.
Ao irmão, Carlos — a quem tem como uma espécie de segundo pai, garante a responsabilidade por ser o que é hoje. "O trabalho dignifica o homem" era uma frase recorrente e repassada por ele; a mensagem fixou-se na mente do chef, que é extremamente grato a todos que passaram por sua vida.
Tanta dedicação não conseguia amenizar, no início do percurso, a dor provocada pelo distanciamento de Rivandro e seu filho mais velho. Por conta das viagens pelo Brasil, fazendo pesquisas de mercado e ingredientes, ele se viu obrigado a estar ausente em alguns aniversários e momentos importantes na vida do rapaz, que hoje têm 18 anos. Apesar disso, Raldney atualmente acompanha o pai e trabalha no restaurante, tanto na cozinha como na parte administrativa da casa.
Rivandro tem outra filha. A menina, que é a caçula, faz jus ao seu legado através do próprio nome. Tâmara, de três anos, foi batizada em homenagem ao fruto que demora anos para surgir na árvore. A inspiração vem, além da comida, do futuro incerto e repleto de surpresas que aguardam a pequena.
Além da dupla que leva seu sobrenome, parte do combustível que move Rivandro vem da sua esposa, a enfermeira Tatiana. "Sempre esteve comigo nas horas em que eu chorava, baixava a cabeça e achava que não iria conseguir, que não ia dar certo. Ela sempre procurou me lembrar que eu era o cara que sonhava em mudar o mundo", fala.
Foi uma jornada longa, repleta de dor, suor, trabalhos sem remuneração e muitos "nãos" recebidos. A realização profissional que existe hoje é derivada de muita luta. "Eu tinha que passar por tudo que passei e não tiraria nada. Pelo contrário, eu acrescentaria tempo pra ter aprendido muito mais", garante Rivandro, que hoje tem seu próprio negócio, o Cozinhando Escondidinho.
Dos bombons diferenciados para a cozinha do Sabor da Gente. É bom se familiarizar com esse rosto, afinal, ele aparecerá na sua televisão diariamente. Pai, cozinheiro, empreendedor e agora apresentador. Esse é Rivandro França.
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