'The Crown' perde a mão no momento mais esperado da série: a morte de Diana
Série sobre a família real britânica liberou os quatro primeiros episódios de sua sexta temporada, centrada no acidente trágico e consternação mundial no funeral da Princesa de Gales
Logo quando foi lançada na Netflix, em 2016, "The Crown" se tornou uma das séries mais aclamadas da era do streaming. A ficção seriada sobre a história da família real britânica conseguiu dosar bem o dramalhão dos escândalos do Palácio de Buckingham, a história geopolítica da Inglaterra e a relação da monarquia com a imprensa.
Não à toa, a obra venceu por diversas vezes categorias do Globo de Ouro, incluindo "Melhor Drama" e "Melhor Atriz" para as atrizes que viveram a Rainha Elizabeth II - Claire Foy e Olivia Colman. Por isso, é lamentável que a série tenha perdido a mão nas temporadas que capturam, talvez, o seu momento mais esperado: Princesa Diana.
A série já tinha sido irregular em sua quinta temporada e segue por esse caminho nos quatro primeiros episódios da sexta (os seis restantes serão liberados em 14 de dezembro). Eles contam os últimos dois meses antes da morte de Diana (Elizabeth Debick), o acidente trágico e a consternação mundial no funeral.
Rainha menos evidente
Seguindo o que já vinha ocorrendo na quinta temporada, a Elizabeth II (Imelda Staunton) perdeu bastante o seu espaço para que o espectador acompanhe a vida de solteira da Princesa de Gales e uma espécie de redenção de Charles (Dominic West) - o que poderia ser lido como uma tentativa de blindar a imagem do monarca, que agora já ocupa o trono.
Nos três primeiros episódios, acompanhamos roteiros esparsos sobre o relacionamento da princesa com Dodi Fayed (Khalid Abdalla), filho do bilionário Mohamed Al Fayed (Salim Daw), e a resposta estridente da Coroa ao que acontece. Nesses capítulos, a série dá a entender que Al Fayed é um árabe interesseiro, disposto a unir o filho com a "mulher mais famosa do mundo."
Tal tentativa do roteiro não parece estar fincada na realidade, tampouco soa de bom tom, visto que esses são os dois únicos personagens não-brancos que conseguiram ter algum destaque na série até então.
Apesar da boa interpretação de Elizabeth Debick, que vive Diana, a personagem dessa vez ganha um tom mais fútil e desorientado, algo que contrasta com a figura de mulher complexa que Lady Di deixou como legado. Quando não é tão "parada", a temporada consegue ser estranhamente audaciosa, explorando o mistério dos últimos dias de Diana em busca de captar quem assiste.
Irregular
Apesar desses atropelos, a série ainda é uma boa opção para quem gosta da temática ou simplesmente deseja saber mais sobre uma das mortes mais revisitadas pela mídia. A emoção consegue tomar conta em alguns momentos, como nas cenas dos pequenos Harry e William - Harry chega a escrever um cartão e vai sentar em cima do caixão.
Porém, essas tiradas não conseguem abater aquela que foi a pior decisão criativa do programa até o momento: quando Diana e Dodi aparecem após a morte para amenizar a culpa dos Windsors e de Mohamed e aconselhá-los sobre como processar suas respectivas mortes.
Se eles deveriam ser fantasmas literais ou simplesmente produtos da imaginação dos outros personagens, não fica claro. De qualquer forma, essas cenas confirmam a impressão de que "The Crown" perdeu a mão.
No geral, o caminho escolhido pelo diretor Peter Morgan afasta a série da grandiosidade de suas primeiras quatro temporadas. Até mesmo a fotografia, talvez para dar um maior tom de contemporaneidade do contexto histórico, não tem mais o seu brilho inicial.
Envelhecer bem seria uma desafio para essa série, com narrativa que já atravessou mais de meio século e passou por três elencos completamente diferentes desde sua estreia em 2016. Com a primeira parte da sexta temporada, vemos que esse feito não foi possível.