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Quarentena contra coronavírus aquece setor de delivery no Grande Recife

Mais pedidos de entregas esbarra em menos motofretistas e quem ainda vai para a rua corre para atender as demandas

Marília Banholzer
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Marília Banholzer
Publicado em 23/03/2020 às 20:52 | Atualizado em 23/03/2020 às 20:55
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Entregadores de encomendas têm sido orientados a tomarem cuidados redobrados com a higiene das mãos - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Com as pessoas reclusas por causa da quarentena contra o coronavírus, o serviço de delivery tem sido acionado com mais frequência. Embora as grandes empresas como iFood, Uber Eats e Rappi não informem dados que comprovem esse crescimento no fluxo, os entregadores que circulam pelas ruas do Grande Recife afirmam que têm trabalhado mais desde que a covid-19 se tornou realidade em Pernambuco.

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Os próprios empreendedores têm visto o número de pedidos de entregas aumentar. Para alguns, como o empresário Allan Amorim, sócio proprietário do Johnnys Gastrobar, ampliar o serviço de delivery é a chance de reduzir prejuízos. Com duas unidades no Recife (Boa Viagem e Casa Forte), ele se viu obrigado a fechar as portas dos seus restaurantes para obedecer a determinação do governo de Pernambuco em fechar bares e restaurantes.

Ele conta que deixou a unidade de Casa Forte operando com equipe reduzida para manter o serviço de entrega no balcão e ampliar a atuação do delivery. "Hoje tem uma pessoa na cozinha e um gerente e eles revezam com outra dupla. Mas peguei dois funcionários que tinham moto e bicicleta e coloquei para fazer delivery próprio. Antes dependia dos aplicativos de entrega", conta Allan.

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Segundo ele, quando as casas estão funcionando normalmente o serviço de delivery é responsável por apenas 5% do faturamento mensal. Com a ampliação do serviço estima que, somente na unidade de Casa Forte, o percentual passe para 20%. "Se a casa ficasse fechada o prejuízo era 100%, dessa forma será 80%. Foi uma medida de última hora que tomamos para conseguir, pelo menos, pagar a folha de funcionários", conta Allan.

Para dar força ao serviço de entrega nesse período de quarentena o Johnnys Gastrobar criou novos pratos, com preços mais acessíveis, e modificou os valores do cardápio para se tornar mais atrativo aos clientes. Campanhas no perfil do Instagram também comunicam sobre a entrega gratuita.

Quem também se surpreendeu com o poder do delivery foi a empresária Ana Paula Fabrício, proprietária de uma farmácia em Olinda há cerca de 20 anos. "Comecei com o serviço de entregas há uns dois meses, antes da chegada do coronavírus. Não sabia se ia pegar direito. Hoje, com a determinação de ficar em casa, tive que colocar mais um entregador", ressalta Ana Paula.

MONA LISA DOURADO/JC
Profissionais que dependem da renda das entregas se arriscam à contaminação nas ruas - MONA LISA DOURADO/JC

Segundo ela, as principais solicitações são de medicamentos de rotina, como os de uso controlado, leite infantil e fraldas. "O número de entregas dobrou, mas ainda tem muita gente que vem na farmácia. Acho que metade dos clientes ainda está vindo, mas eu preferia que as pessoas priorizassem o delivery para todo mundo ficar em casa mesmo", relata Ana Paula que completa: "Nesse momento, esse tipo de serviço de entrega é primordial para a saúde das pessoas, é um diferencial, sem dúvida."

Para o presidente da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (Amape), Thiago Silva, farmácia é um seguimento que não era tão comum no rol de produtos dos aplicativos de entrega e agora está sendo incluída. "Todo tipo de pequeno empreendimento está entrando nos apps, até porque as empresas estão oferecendo descontos e facilidades, como não cobrar taxas, antecipar os recebidos. Tudo isso ajuda", observa.

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Entregadores têm trabalho redobrado durante quarentena contra o coronavírus - MONA LISA DOURADO/JC

Thiago Silva conta ainda que o movimento cresceu para os motofretistas, mas que muitos trabalhadores têm preferido ficar em casa para evitar contaminação pelo coronavírus. “Somos a favor que todos fiquem em casa, mas tem muita gente que depende exclusivamente do dinheiro que ganha com as entregas e precisa estar nas ruas. Para essas pessoas temos orientado sobre higiene das mãos, dos seus veículos e como evitar a contaminação cruzada pelas embalagens dos estabelecimentos”, comenta Silva.

Um desses motofretistas que, mesmo com receio de contrair a covid-19, está nas ruas trabalhando é o entregador Ronaldo Dias. "O número de pedidos aumentou, mas também tem menos motoqueiro na rua fazendo entregas, com medo de ficar doente. Eu mesmo, se pudesse, estaria em casa", afirmou Ronaldo que trabalha com entregas via app há um ano.

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Governo Lula discute a regulamentação de motoristas e entregadores de aplicativo, como iFood - FOTO:ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Serviços de delivery se aquece em meio à pandemia de coronavírus em Pernambuco. Entregadores. iFood, Uber Eats, Rappi - FOTO:MONA LISA DOURADO/JC
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Serviços de delivery se aquece em meio à pandemia de coronavírus em Pernambuco. Entregadores. iFood, Uber Eats, Rappi - FOTO:MONA LISA DOURADO/JC

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