Covid-19

O constrangimento de descumprir (sem querer) o isolamento social está estampado nos rostos

Segundo o jornal britânico The Guardian, um em cada cinco cidadãos em todo o mundo está recluso

Marília Banholzer
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Marília Banholzer
Publicado em 24/03/2020 às 19:14 | Atualizado em 24/03/2020 às 20:35
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
ATRASOU Em 2020, a 1ª parcela foi paga em abril e a 2ª em maio. Em 2021, entrave com Orçamento atrapalhou - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Em 13 anos de jornalismo, indo às ruas como repórter, aprendi que a presença da reportagem em qualquer lugar desperta duas reações: ou as pessoas ficam felizes em poder contar uma novidade e/ou denunciar ou me olham como uma intrusa. Mas nunca tinha me deparado com a sensação de fiscal da vida alheia. Nesta terça-feira (24), pautada para verificar como estavam as filas de serviços essenciais, como agências bancárias e lotéricas, percebi que as pessoas nesses locais reagiram de forma incomodada, como se estivessem com vergonha de quebrar o isolamento social. Isso é culpa do coronavírus.

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A pauta era simples: conversar com as pessoas e saber o motivo que as fez sair de casa. Na outra ponta, falar com profissionais desses serviços que explicassem as medidas tomadas para evitar a aglomeração dos clientes. Essa era uma daquelas matérias que geralmente você resolve rápido. Mas não foi o que aconteceu. Poucas pessoas estavam perambulando pelos bairros por onde passei (Espinheiro, Encruzilhada, Campo Grande, Varadouro, Bairro Novo). Circulei muito porque tive dificuldade de encontrar quem falasse comigo.

No primeiro banco que tinha uma quantidade razoável de pessoas usando os caixas eletrônicos, tentei falar com os usuários. As negativas eram rápidas e de cabeça baixa, como quem se esconde. Vale lembrar que não sou repórter de TV e não ando com câmeras enormes filmando as pessoas. Os colegas da televisão, inclusive, têm minha admiração por conseguir quem aceite se mostrar. A única pessoa que quase toquei no braço (em tempos de coronavírus, quase uma violência) falou apressadamente, com um pé num degrau e o outro na calçada.

Depois deste, seguimos buscando mais personagens. Nas lotéricas, os profissionais por trás do vidro chamam os gerentes, que "preferem não se expor". Eles não querem falar sobre a necessidade de sair para trabalhar durante quarentena e isolamento social. As negativas foram muitas até que cheguei numa lotérica em Olinda, onde fui atendida pelo responsável à frente da operação. Entrevistei e tentei, mais uma vez, conversar com o usuário. Novas negativas envergonhadas.

As pessoas diziam: "Não, não, obrigado. Já estou indo para casa. Vou tomar um banho" e saíam. Vendo a agonia, uma senhora de máscara se prontificou e aceitou o meu convite para uma conversa sobre a necessidade de sair do isolamento social para sacar seu benefício do Bolsa Família.

Pauta finalizada, hora de voltar a redação. No carro, motorista e fotógrafo falavam sobre as pessoas que insistem em não cumprir as orientações de ficar em casa para evitar a proliferação do novo coronavírus.

Sabemos que há uma enxurrada de notícias e mais notícias sobre o avanço da pandemia da covid-19 no Brasil e no mundo. Milhões de pessoas estão em quarentena. Segundo o jornal britânico The Guardian, um em cada cinco cidadãos em todo o mundo está recluso. Globalmente, quase 400 mil pessoas foram infectadas, mais de 17 mil morreram por causa da doença. E mesmo assim, apenas 20% da população mundial seguem as orientações. Os que não fazem a sua parte nessa batalha se escondem, resmungam, ou se envergonham.

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