Mercado de trabalho

Salários dos profissionais de saúde subiram abaixo da inflação

Em tempos de coronavírus, profissionais são requisitados, mas salários continuam defasados

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 26/03/2020 às 20:38 | Atualizado em 26/03/2020 às 21:43
Foto: USP Imagens
Profissionais de saúde estão sendo contratados para dar conta da demanda do coronavírus nos hospitais - FOTO: Foto: USP Imagens

No momento em que a pandemia do novo coronavírus avança no Brasil, com 2.915 casos e 77 mortes contabilizadas, o trabalho dos profissionais de saúde ganha ainda mais relevância. Nos Estados, os governos se apressam em fazer novas contratações para dar conta da demanda e para substituir os que estão na linha de frente do combate a covid-19 e adoecem. Apesar do reconhecimento dessas carreiras como essenciais, muitos profissionais tiveram queda salarial ou aumento inferior à inflação. A constatação está em um levantamento realizado pela Quero Bolsa, instituição que conecta alunos e instituições de ensino e oferece vagas e bolsas de estudos. 

O estudo observa profissões como enfermeiros, biólogos, biomédicos, biotecnologistas, químicos e farmacêuticos com diploma de ensino superior, sob a perspectiva do comportamento do saldo de contratações em 2019 e do ganho salarial. Para realizar o levantamento, a Quero Bolsa utilizou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 

A profissão de enfermeiro foi a que mais abriu vagas em 2019 entre os profissionais de saúde. De acordo com o Caged, o saldo positivo foi de 9.586 postos de trabalho. Apesar do aumento das contratações, o salário só subiu 3,08%, inferior ao índice oficial de inflação do período, que ficou em 4,3%. Dessa forma, o salário médio passou de R$ 3.211,23 para R$ 3.309,99; um modesto ganho de R$ 98,76. 

Os biólogos tiveram uma situação ainda pior, com uma pequena queda de 0,7% no salário pago nas contratações entre 2018 e 2019. O valor recebido pelos profissionais passou de R$ 3.102,22 para R$ 3.080,63.

CONTRATAÇÕES

Em Pernambuco, o governo do Estado já sinalizou com uma contratação emergencial de profissionais de saúde para se preparar para uma possível escalada do coronavírus. O Estado já conta com 48 casos confirmados e esta semana foram contabilizadas as primeiras mortes, num total de três até agora. Em decreto publicado na última segunda-feira (23), o governador Paulo Câmara determinou a convocação de 4.729 profissionais para reforçar o sistema de saúde. Serão contratados 430 médicos e 1.552 outros profissionais de diversas áreas, aprovados no último concurso. 

O governador autorizou, ainda, a realização imediata de duas seleções públicas simplificadas para a contratação de 2.747 novos profissionais. A primeira seleção, para a Secretaria de Saúde tem previsão para 160 vagas para médicos e 1.917 vagas em outros cargos. A segunda seleção será feita pela Universidade de Pernambuco – UPE e vai contratar 65 médicos e 605 para profissionais como enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, biomédicos, fisioterapeutas, técnicos em enfermagem, entre outros.

CONJUNTURA

O diretor de Inteligência Educacional da plataforma Quero Bolsa, Pedro Balerine, acredita que as profissões na área de saúde terão uma valorização de curto prazo. "As profissões mais ligadas ao atendimento tendem a ser mais reconhecidas nesse período, como enfermeiros, profissionais das áreas de laboratórios e outros. Mas acredito que essa valorização salarial só deverá acontecer no pico da demanda para atender essa avalanche de doentes que vão chegar aos hospitais com coronavírus. Depois esses temporários serão mandados embora", assinala. 

O executivo aposta que contratações mais de médio e longo prazo devem acontecer em função dos investimentos e da reestruturação que precisará ser feita no sistema de saúde. "O assunto saúde vai virar 'moda' por um certo tempo e isso também vai incentivar formação e contratações nessa área. Sem falar na ampliação e modernização dos hospitais, que acaba gerando mais demanda", destaca Balerine. 

MÉDICOS EM ALTA

Os salários dos médicos, que nesse momento lideram o combate ao coronavírus dentro dos hospitais, obtiveram ganho real no ano passado. Os infectologistas receberam R$ 6.958,02, uma alta de 8,17% em relação a 2018, quando o salário médio foi de R$ 6.432,49. Os clínicos também registraram alta de 6,65%, passando de um valor médio de R$ 6.185,47 para R$ 6.596,75, em 2019. 

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