Preços em alta no Ceasa não têm influência da epidemia

Entressafra da maioria dos produtos, consumo elevado e excesso de chuvas são responsáveis pela elevação dos preços, dizem os técnicos

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 30/03/2020 às 22:21
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
ACUMULADO Tomate está entre os produtos que tiveram maior alta no Grande Recife entre janeiro e junho (57,44%) - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

Quem for ao Ceasa esta semana pode se assustar com os preços. “Está tudo mais caro”, foi a frase mais ouvida pela reportagem do JC na manhã de ontem aos percorrer os armazéns da central de abastecimento, no Bairro do Curado. O cenário de carestia não tem a ver com uma possível dificuldade na logística por conta do comércio fechado ou o isolamento social provocado pela prevenção a Covid-19. A explicação está na entressafra e no excesso de chuvas.

“Nesta época do ano é comum os preços de legumes e hortaliças subirem porque a grande maioria dos produtos está na entressafra”, diz Marcos Barros, chefe do setor de acompanhamento de preços d0 Ceasa. “Não tem nada a ver com o Coronavírus, pelo contrário. Já houve uma queda na demanda por conta dos restaurantes que estão comprando menos, agora, se a população realmente deixasse de comprar o preço cairia, mas não muito porque na entressafra o custo para o produtor aumenta e se a mercadoria fica barata demais nem vale a pena vender”, diz Marcos Barros explicando a lógica de preços da agricultura.

O campeão do preço alto é um item menor, mas bastante apreciado na culinária nordestina. O coentro. O molho, de 5 quilos à 7 quilos, e que custava R$ 30 há duas semanas, ontem (dia 30) estava sendo vendido por até R$ 80. “Está caro mesmo”, admite a vendedora Naíde Cassiano. Ela tem uma banca de legumes e verduras, e revende o coentro por R$ 2,00 o “molhe” aos clientes. E garante que o coentro não está sozinho na lista dos produtos mais caros. Com uma memória afiada para os números ela vai apresentando sua planilha de preços. “O alho eu estou comprando a R$ 220 a caixa de 10 quilos. Batata inglesa, a saca de 50 quilos está saindo a R$ 210 e a cenoura R$ 55 a caixa de 20 quilos”, diz Dona Naíde, tentando justificar a majoração de preços a uma cliente para, em seguida, dar a boa notícia: “o tomate baixou. Veja, já foi até R$ 8,00 o quilo, agora está saindo por R$ 3,00”, diz ela em tom de convencimento. Na banca de dona Naíde, ela vende ainda batata inglesa por R$ 4,00 o quilo e cebola também R$ 4,00 o quilo.

De fato, o tomate especial, que era vendido a R$ 100 caixa de 25 quilos na semana passada, abriu esta semana com uma queda de 30% no preço. Redução que não vai durar muito, segundo Marcos Barros, da Ceasa. “A tendência do tomate daqui por diante é subir, até atingir seu pico de preço no ano entre final de abril e o mês de maio”, sentencia.

CONSUMO ELEVADO

Outro produto de primeira necessidade que vem subindo de preço é o ovo. Em apenas uma semana, o ovo do tipo extra saltou de R$ 130 a caixa com 30 dúzias para R$ 144. Isto fez com que uma simples bandeja com 30 ovos estivesse sendo vendida a R$ 12 para o consumidor comum. “Está muito caro. Eu venho aqui duas vezes por semana e levava cinco bandejas. Agora só vou levar três”, disse o comerciante Paulo Geraldo.

A gente está com uma procura muito alta por ovo desde a semana passada, diz Vítor Araújo, comerciante atacadista de ovos no Ceasa. “Eu estou com dificuldade até de carregar os caminhões na granja porque a demanda nos produtores também é grande”, apesar disso, não está faltando ovo no mercado, ele garante. Para explicar o alto consumo apesar do preço elevado, Vítor tem uma tese: “com mais pessoas ficando em casa o consumou aumentou. O ovo ainda é uma proteína barata”, afirmou o comerciante.

Marcos Barros, analista de preços do Ceasa, complementa. “O consumo do ovo cresceu desde dezembro do ano passado, quando começou aquele aumento no preço da carne por conta das exportações. Agora, com a subida exagerada do dólar, aumentou o custo dos produtores com o insumo, sobretudo milho e soja, tudo isso impactou no preço do ovo, que não deve baixar nem tão cedo”, afirmou Barros.

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