O empresário Ricardo Essinger foi reconduzido ontem à presidência da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) para o quadriênio 2020-2024. Mesmo em plena pandemia do novo coronavírus, 30 dos 33 votantes compareceram presencialmente para participar da eleição. Economista, Essinger tem uma longa trajetória no setor industrial, como empresário e liderança setorial. Nesta entrevista, ele fala sobre a dificuldade de traçar planos nesse momento, mas diz ter esperança de que a indústria vai juntar os pedaços e sobreviver.
JORNAL DO COMMERCIO - Que balanço o senhor faz do quadriênio 2016-2020 à frente da Fiepe? Nesse período, a indústria viveu os impactos da recessão no País.
RICARDO ESSINGER - Apesar da recessão foi muito boa, porque conseguimos fazer uma série de atualizações no setor. Nós aumentamos o atendimento ao setor industrial, com uma cobertura maior. Aumentamos também o atendimento na parte de educação. Para se ter uma ideia, hoje o Sesi é a maior rede de ensino privada do Estado, com 6.00 alunos. Reequipamos nossos laboratórios para melhorar a qualidade do ensino e entrar na era da indústria 4.0. Demos toda uma reequipada no ensino do Senai.
JC - O setor já vinha sofrendo com o baixo dinamismo da economia, registrando pequenas taxas de crescimento ao longo dos últimos anos. Agora vem um novo sobressalto com a pandemia. Como o setor está reagindo?
RE - O setor vinha sofrendo e na hora que começa a decolar vem essa pandemia, que ninguém sabe qual vai ser o tamanho do estrago. O que eu tenho dito é o seguinte: quando terminar, juntar os pedaços e reconstruir. Se você me perguntar qual é o planejamento que vai ter pro próximo ano, no momento, ninguém sabe. Você pode fazer alguma futurologia. Desenhar cenários, como nós estamos fazendo, para ver como vai ficar. Apesar de tudo temos muita esperança, porque achamos que o Nordeste vai sobrar menos do que a região Leste. Isso porque a nossa faixa salarial é menor e com essa ajuda de R$ 600 do governo Federal, você vai ter uma movimentação razoável (da economia) e não terá uma queda tão grande da renda. Se o salário mínimo é equivalente a pouco mais de R$ 1 mil e as pessoas estão recebendo R$ 600, a queda no mercado será de cerca de 50%. Já a região Leste que tem um salário (médio) de R$ 2 mil, recebendo R$ 600 a queda será muito maior.
JC - Como o senhor está percebendo as medidas econômicas adotadas tanto pelo governo federal quanto pelo governo estadual de socorro às empresas e ao setor industrial?
RE - No setor industrial, com exceção das pequenas e microempresas, nós não temos nenhuma medida plausível do governo estadual. Nós encaminhamos um documento com as necessidades do setor, participamos de reuniões com o governador e secretários, mas não avançou. Do governo federal foram tomadas várias, mas é necessário que muitas cheguem na ponta porque não chegaram ainda. Essas medidas de crédito são uma grande dificuldade das empresas terem acesso ao crédito, mas mesmo assim vamos batalhando e tocando a atividade porque a vida continua.
JC - Recentemente a Fiepe apresentou uma pesquisa mostrando uma queda grande no faturamento das empresas. Quase 40% das entrevistadas responderam que a queda nas vendas já tinha sido superior a 75%. É possível calcular o prejuízo que a pandemia vai deixar?
RE - Por enquanto ainda não é possível avaliar o tamanho do prejuízo. Muitas empresas colocaram seus empregados em férias e agora que terminou esse período. Nós vamos saber melhor qual será o impacto quando fechar o mês.
JC - De que maneira a Fiepe e a entidade nacional do setor, a CNI, podem ajudar os empresários nesse momentos. O Estado conta com mais de 50 atividades industriais e um parque importante.
RE - Nossa ajuda tem sido no sentido de orientar as empresas (sobre as medidas à disposição para enfrentar a pandemia) e sobre possíveis oportunidades de negócios que surgem. Uma delas é a produção de máscaras pela indústria têxtil e de confecção. Nosso trabalho tem sido de dar uma retaguarda a eles, que precisaram se readaptar para fabricar outros produtos nesse momento. Além disso também recuperamos 12 respiradores, por meio do Senai. Precisamos saber como vai terminar a pandemia para ver como vai ficar o País, o Estado e a indústria. Só assim vamos conseguir fazer um planejamento pós-pandemia.
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