A série de demissões em decorrência da crise causada pela pandemia do novo coronavírus começa a aparecer com mais peso nos números do seguro-desemprego em Pernambuco. Dados do Ministério da Economia mostram que as solicitações do auxílio no Estado aumentaram 49,19% em abril em comparação com março, chegando a 25.254 no mês. Os números de abril também apresentam alta (17,6%), quando considerado o mesmo período de 2019.
Na primeira quinzena de maio, Pernambuco registrou 16.942 solicitações, número que equivale a 67% de todos os pedidos realizados no mês de abril.
Segundo o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos, as medidas de restrição adotadas pelo governo do Estado são as principais causas para a elevação dos requerimentos. “Apenas nos 15 primeiros dias de maio, os pedidos superaram todo o mês de março. Ou seja, certamente passarão de 25 mil, como registrado em abril, as requisições no período”, afirma o economista.
Ainda de acordo com Ramos, o volume de pedidos pode ser ainda maior, porque desde o dia 14 de abril, as Agências de Trabalho de Pernambuco estão abertas exclusivamente para atender pessoas que precisam dar entrada no seguro-desemprego e agendaram o atendimento por meio do portal PE Cidadão. “Vale dizer que esses números ainda estão represados, dado o novo modelo de funcionamento das agências de trabalho, em virtude da pandemia”, pontua Rafael, lembrando que muitas pessoas só conseguem o agendamento para uma data distante do dia que acessa o serviço. “Isso acaba fazendo com que essas solicitações sejam diluídas, podendo chegar, inclusive ao período pós-pandemia”, afirma.
Entre os milhares de pernambucanos que solicitaram o seguro, está o vendedor Hélio Lima, 43 anos. Até a primeira quinzena de abril, ele trabalhava em um dos setores mais afetados pela crise, o comércio, que emprega de maneira formal em torno de 300 mil pessoas no Estado, representando quase 20% de toda a mão de obra com carteira assinada. “Eu fui demitido porque a loja se viu obrigada a fechar, além de mim, outros quatro também foram mandados embora”, conta ele, que por sete anos trabalhou vendendo calçados em um estabelecimento no Centro do Recife. “Eu já estava preocupado com a falta de renda, mas tive sorte porque consegui agendar rapidamente meu pedido”, afirma o trabalhador.
Dificuldades na solicitação
A doméstica Elisabete Lima, 52, foi demitida da casa onde trabalhava há quatro anos bem no início da pandemia, ainda em março. Mas com dificuldades de acessar o sistema para solicitar o benefício virtualmente, só conseguiu realizar o seu pedido em abril, o que atrasou o recebimento do seguro, com o qual ela pretende organizar as contas. “Eu ainda não recebi o dinheiro, mas com ele vou quitar as dívidas”, diz ela, ressaltando que deve buscar emprego após o período de isolamento social. “Vou esperar essa onda de pandemia passar e ver se aparece alguma coisa, porque o seguro é passageiro”, conta.
Sem hóspedes ou eventos, o hotel onde a recepcionista Analice Pereira, 27, trabalhava a demitiu junto a mais 15 pessoas. “Praticamente, desde o primeiro caso aqui em Pernambuco, víamos reservas serem frequentemente canceladas, e isso já foi nos causando um certo temor, porque sabíamos o que nos esperava”, diz a jovem.
Segundo Analice, após ser dispensada, tentou solicitar o seguro-desemprego, mas enfrentou vários obstáculos para a requisição do seu benefício. “A princípio, eu tive muita dificuldade com os aplicativos para dar entrada no seguro-desemprego. Como foram muitas demissões no País todo, acho que os aplicativos ficaram sobrecarregados”, afirma ela, que só conseguiu finalizar o processo de solicitação no dia 11 de maio, quase duas semanas após sua demissão.
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