CIBERSEGURANÇA

De olho no mercado de segurança cibernética, Embraer compra empresa do setor que começou no Recife

A empresa faz dois negócios que incluem compra do controle de líder no setor, que chega a girar R$ 8 bi/ano

Thalis Araújo
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Thalis Araújo
Publicado em 30/06/2020 às 23:02 | Atualizado em 30/06/2020 às 23:57
EDOUARD NGUYEN
O negócio não teve os valores revelados - FOTO: EDOUARD NGUYEN

Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, a Embraer decidiu entrar para o mercado de segurança cibernética. A empresa comprou a Tempest Serviços de Informática, que começou no Recife, em 2001, e é líder do setor no País. O negócio não teve seus valores revelados. Atualmente, a Tempest tem um time de 300 funcionários e 250 clientes no Brasil e no exterior, incluindo o grupo que edita a revista britânica The Economist.

A Embraer fez também um aporte de R$ 20 milhões na empresa Kryptus, que fornece soluções de criptografia para as Forças Armadas do Brasil, entre outros. As finformações são do jornal Folha de S.Paulo.

Subsidiária de sistemas tecnológicos da Embraer, a Atech deverá coordenar os esforços das três empresas no mercado, que movimentaram, em 2019, US$ 1,5 bilhão, que são equivalentes a R$ 8,1 bilhões nesta terça-feira (30), no Brasil. O presidente da Embraer Defesa e Segurança, Jackson Schneider, afirma que elas "são empresas complementares".

Esse movimento vem na esteira da derrocada do acordo para a venda da área de aviação comercial da Embraer para a Boeing e o impacto da pandemia do novo coronavírus nos negócios desse setor.

Schneider acredita que o investimento que a Embraer passa a fazer na área de cibersegurança é o maior do gênero na América Latina e já estava previsto. "Isso está no DNA de inovação", diz, ressaltando também que a pandemia da covid-19 "vem acelerando tendências" em todo o mundo.

"O trabalho será mais virtual, assim como os processos e ferramentas. É preciso atender a necessidade de segurança no tráfego de dados", complementa.

Isso é óbvio na área civil. Crimes cibernéticos contra instituições bancárias somam pelo menos US$ 10 bilhões (R$ 54 bilhões) por ano no Brasil, que é o segundo mercado para bandidos digitais, perdendo para a Rússia.

A Embraer vê também um potencial de sinergia com um mercado que anda de 'mãos dadas' com o de cibersegurança: o espacial. Afinal, tudo passa por satélites. A empresa possui uma subsidiária, a Visiona, que deve lançar, em 2021, o primeiro monossatélite de uma constelação nacional.

A Tempest já era apoiada pela Embraer através do Fundo de Participações Aeroespacial, que conta com o BNDES e a DesenvolveSP, entre outros. A equipe da Tempest seguirá sem sofrer alterações.

O aporte na Kryptus, que mira, além da área militar, uma expansão internacional, será feito por meio do Fundo de Participações.

O fim do negócio da Embraer com a Boeing levou especulações sobre o futuro. Sua sobrevivência fora do duopólio produtivo global, dos americanos e dos europeus da Airbus, é interrogada.

Francisco Gomes Neto, o presidente da empresa, confirmou, em maio, que existe um interesse na busca de novos parceiros no mercado mundial. As opções são inúmeras. Os analistas apostam na estatal chinesa de aviação comercial Comac, que busca se posicionar no mercado.

A questão é que uma parceria hoje com a China pode colocar qualquer empresa de um lado da Guerra Fria 2.0, estabelecida entre Washington e Pequim. Isso teria interferências importantes para os produtos de defesa da Embraer, o novo cargueiro C-390 Millennium à frente.

Scheider disse à Folha de S.Paulo que a Embraer está "absolutamente aberta para conversar" com parceiros externos.

"Mas nós respeitamos todos as limitações impostas por nossos fornecedores europeus e americanos na área de defesa”, disse. "Assim, especificamente para a Embraer Defesa, “há países ‘off-limits’ [fora do limite de operação]”, completou.

Contudo, o presidente da Embraer ressalta que, pela natureza dos negócios da empresa, "nada será diferente do que o Estado brasileiro" preconizar.

Ele lembra ainda que a Embraer nasceu em 1969 como uma estatal, e a sua linha de defesa foi desenvolvida de acordo com necessidades da Força Aérea, mesmo depois da privatização de 1994.

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