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Bolsonaro revoga portaria que transferiu R$ 83,9 mi do Bolsa Família destinados ao Nordeste para Secom

A anulação do repasse, que foi assinado semana passada, ocorre depois de sucessivas críticas de vários setores da sociedade

Estadão Conteúdo
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Publicado em 09/06/2020 às 17:28 | Atualizado em 09/06/2020 às 18:21
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O remanejamento atingiu os recursos previstos para a Região Nordeste do País e causou críticas no Congresso por ocorrer durante a pandemia do coronavírus - FOTO: Foto: Agência Brasil

Atualizada às 18h19

O governo federal editou nesta terça-feira (9) uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) para revogar portaria do Ministério da Economia que tirou R$ 83,9 milhões do orçamento do Bolsa Família e transferiu o valor para a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom), que usaria a verba para ampliar gastos com publicidade.

A anulação do repasse, que foi assinado semana passada pelo secretário de Fazenda da Economia, Waldery Rodrigues, e ganhou visibilidade após matéria publicada pelo Broadcast/Estadão, ocorre depois de sucessivas críticas de vários setores da sociedade e também depois de o Broadcast revelar hoje que o Tribunal de Contas da União (TCU) resolveu abrir investigação para apurar o remanejamento.

O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) também mostrou que a manobra acendeu o alerta do órgão de controle para uma tentativa de burlar regras fiscais e usar exceções legais para os gastos da pandemia a favor de um aumento em despesas que não são emergenciais e nada têm a ver com o combate à doença.

A apuração do TCU atende a um pedido do Ministério Público junto ao TCU. Na representação, o procurador Rodrigo Medeiros de Lima requer uma medida cautelar para suspender o repasse de recursos do Bolsa Família para a Secom "a fim de evitar o direcionamento, direto ou transverso, de créditos orçamentários extraordinários (extrateto) para a expansão de despesas primárias".

O remanejamento atingiu os recursos previstos para a Região Nordeste do País e causou críticas no Congresso por ocorrer durante a pandemia do coronavírus, quando muitas famílias estão sem fonte de renda. Apesar do remanejamento, o Ministério da Cidadania disse na ocasião que o pagamento do benefício está garantido por recursos do auxílio emergencial. Há, no entanto, uma fila de espera de 433 mil pedidos para acesso ao Bolsa Família.

A portaria desta terça, que revoga a anterior, também é assinada pelo secretário Waldery Rodrigues.

Procuradores-Gerais do Nordeste

A revogação ocorreu no dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) intimou a União a prestar esclarecimentos sobre o assunto no prazo de cinco dias. O ministro do STF Marco Aurélio Melo atendeu a pedido apresentado pelos procuradores-gerais de estados nordestinos dentro de uma Ação Cível Ordinária que questionava o corte dos benefícios do programa para a região Nordeste.

A revogação da portaria foi bem recebida no Fórum Permanente dos Procuradores-Gerais dos Estados do Nordeste. “A revogação da portaria por parte da União é uma grande conquista. Trata-se de inequívoco reconhecimento de que sua edição foi ilegal e afrontou a liminar anterior, proferida pelo ministro Marco Aurélio. A ação judicial, todavia, seguirá seu curso no Supremo até que haja o cumprimento integral da decisão, que corresponde à efetiva recomposição dos prejuízos causados aos beneficiários vulneráveis, em decorrência dos cortes do programa concentrados na Região Nordeste, justamente aquela mais necessitada, por razões históricas e estruturais”, afirmou o procurador-geral do Estado de Pernambuco, Ernani Medicis.

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