PLANO DE REABERTURA

Ainda de portas fechadas, donos de bares e restaurantes do Recife relatam a rotina para se manter de pé

Empresários aguardam que governo de Pernambuco defina o mais rápido possível a data de reabertura do setor

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 03/07/2020 às 22:54 | Atualizado em 04/07/2020 às 20:43
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Deco e Juliana Lima investiram R$ 350 mil na reforma de um casarão, no bairro de Apipucos, mas até agora não puderam abrir o restaurante - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

O casal de empreendedores Deco e Juliana Lima viram o sonho de ter uma casa voltada para a gastronomia diferenciada ruir quase da noite para o dia. O investimento de R$ 350 mil na reforma de um antigo casarão no Bairro de Apipucos, Zona Norte do Recife, vai demorar para ser recuperado após a pandemia. E o que eles esperavam demorar 20 dias já está em mais de 3 meses de portas fechadas. Os dois e inúmeros associados à Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE) aguardam que o governo defina o mais rápido possível a data de reabertura do setor.

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Em carta nesta semana, a Abrasel lamenta “que, ao mesmo tempo em que vemos a falta de sensibilidade do governo com nosso setor, assistimos, dia a dia, a pessoas nas ruas sem máscaras, aglomerando-se nas periferias, no transporte público, e pouca ou nenhuma fiscalização. São dois pesos e duas medidas. Desta forma, pedimos ao governo do Estado que reconheça que as diversas regiões do Estado estão em fases diferentes de evolução da doença e reconsidere, imediatamente, sua posição quanto à reabertura dos bares e restaurantes, permitindo esta retomada no dia 6 de julho”.

A associação já tem protocolos prontos com base em outros locais que já reabriram no País. E os estabelecimentos locais já estão organizados, apenas esperando a data. Mas, enquanto isso não ocorre, o prejuízo só aumenta. “Abrimos o Solário em dezembro do ano passado. Estávamos construindo um nome, uma história, aí veio o coronavírus”, diz Deco, que ainda não contabilizou todas as perdas. “O meu estoque de cerveja venceu a validade. Imagina, só numa pandemia mesmo para isso acontecer”.

A casa, que tinha 15 funcionários antes do fechamento, vai voltar a abrir na semana que vem, inicialmente com quatro ou cinco empregados. “Vamos operar com delivery. Nunca foi essa nossa proposta, mas achamos que o fechamento obrigatório seria coisa de 15 ou 20 dias. Já se vão mais de três meses. É preciso se reinventar”, afirmou o DJ.

A empresária Beth Lima abriu o restaurante O Poeta há 22 anos, no Bairro do Recife. Voltado para o self-service, sua principal clientela é de bancários e funcionários das empresas do Porto Digital. Com as portas fechadas, optou por não operar com entregas. Mas teve que mudar de ideia. “Ficar com a casa fechada tanto tempo é ruim porque as pessoas podem deduzir que fechamos de vez. E não é verdade. O Poeta vai reabrir. Não como antes, porque tudo vai mudar, mas logo estaremos de volta”.

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Empresários do ramo alimentício temem a demora do retorno às atividades devido às dificuldades financeiras de manter os funcionários. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Beth pensa em começar a atender pedidos de entrega na próxima segunda-feira (6). “Negociamos o aluguel do espaço com a proprietária e, desde o fechamento, estamos pagando 50% do valor. É um bom desconto, mais ainda é muito para quem não está faturando”, diz Beth, que não demitiu nenhum dos 10 funcionários que trabalham na casa.

A empresária Rose Varea, à frente do Grupo Julietto, decidiu operar com delivery em alguns centros comerciais onde o grupo opera. “Percebemos que ficar parado é muito ruim. Os funcionários ficam desmotivados, os equipamentos da cozinha se danificam, o fogão entope, o ar-condicionado dá problema. Fechados, nossos custos aumentam, abertos para delivery, o faturamento não compensa. Sabe aquele ditado, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come?”, diz a empresária.

Ela diz que abrir sem clientes acaba desencorajando muita gente. “Para reabrir, é preciso fazer estoques, chamar funcionários de volta, além de outros custos. Tudo isso para um faturamento incerto”. Rose diz ainda que ninguém vem a um shopping, um há lojas da Julietto, para pegar marmita. “As pessoas querem consumir pratos quentes, poderem comer sentadas. É possível reabrir seguindo regras de distanciamento, ainda mais em um shopping, onde já existem regras de limitação de acesso. Muitas cidades fizeram isso.”

No salão do restaurante Eki, do empresário Bobby Fong, as mesas estão posicionadas a um metro de distância umas das outras. Os funcionários usam protetores faciais e máscaras. O álcool em gel é onipresente. Todos seguem um protocolo de segurança e higiene à espera dos frequentadores que não virão, enquanto o Estado não definir data e regras para a reabertura. Na próxima segunda-feira (6), o governo deve anunciar novidades para o setor e, talvez, a tão esperada data para a volta dos clientes.

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Empresários do ramo alimentício temem a demora do retorno às atividades devido às dificuldades financeiras de manter os funcionários. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

O restaurante Eki também está funcionando apenas para delivery e coleta. Mas o empresário Bobby Fong diz que, financeiramente, não vale a pena, pois o delivery, até agora, não representa nem 10% do seu faturamento. “Não dá para mandar um pato confitado pelo delivery”, diz o empresário. “Faço questão de abrir porque um pouquinho é melhor que nada, e ajuda a manter a nossa marca na memória dos clientes”.

Dono de 17 outras operações em cinco Estados, Fong diz que “a reabertura é uma necessidade urgente para nós”. Ele cita uma pesquisa feita por uma consultoria especializada mostrando que, em um restaurante de porte médio, o fluxo de caixa dura apenas 16 dias. “E nós já vamos com 15 semanas sem poder operar plenamente. Geramos muitos empregos. Só nos restaurantes do Recife, temos cerca de 150 funcionários, todos com suspensão de contrato ou redução de jornada. A partir deste mês de julho, seremos obrigados a começar a demitir. Estimo que inicialmente 20%, mas depende da reabertura.”

Fong diz que, para muitos, o trabalho em bares e restaurantes significa o primeiro emprego. “Geralmente são pessoas de baixa escolaridade e que terão dificuldades para se recolocar no mercado. Num país com 13 milhões de desempregados, como uma atividade dessa não é relevante?”, indaga.

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Para Rose Varea, do Grupo Julietto, os custos aumentam, mesmo com o estabelecimento fechado, porque os equipamentos de cozinha vão se danificando por falta de uso - Vinicius Simões/Divulgação

Rose Varea admite que precisou recorrer a empréstimos bancários e até à venda de algumas propriedades para saldar as despesas. “O pagamento de impostos, por exemplo, não foi facilitado. O vencimento do SIMPLES aconteceu no mês do fechamento. Não pagar o tributo em dia implicava em uma multa de 20%”, diz a empresária, que amargou outras despesas. “Perdemos muito estoque de alimentos que nem tínhamos pago ainda. O que pôde ser doado, foi doado, mas o prejuízo foi grande.”

O empresário Sylvio Drummond de Mattos, presidente do Grupo Drumattos, diz que a situação é crítica e muito triste, principalmente para os comerciantes de pequeno porte. “Os pequenos não aguentam tanto tempo fechados. Cerca de 25% dos restaurantes do Brasil não irão voltar”, alertou o empresário.

Dono das marcas Camarada Camarão, com dez operações, sendo três no Recife, e Camarão e Companhia, com 50 operações em vários estados brasileiros, Sylvio tinha cerca de 850 funcionários antes da pandemia. Precisou demitir cerca de 30%.

Ele afirma que não foi a primeira opção, mas as demissões tiveram a ver com a retomada lenta dos negócios, onde já foi possível reabrir. “Dependendo da cidade, o retorno é mais lento ou menos lento. No interior de São Paulo, por exemplo, está entre 30% e 40%. Já em Manaus chega a 50%. O que é positivo, eu esperava que seria menos”.

Sylvio espera que, até dezembro, seus restaurantes recuperem entre 75% e 80% do faturamento. “Nós somos fiscalizados pela Vigilância Sanitária há muito tempo, não teremos dificuldade nenhuma para seguir os novos protocolos em relação à pandemia (...) Já que a curva de contaminações e mortes está caindo no Estado, por que os restaurantes permanecem fechados?”

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O empresário Bobby Fong, dono do Eki, diz que o serviço delivery não representa nem 10% do seu faturamento - FOTO:FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Com as portas fechadas, Beth Lima, dona do O Poeta, optou por não operar com entregas - FOTO:FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
VINICIUS SIMÕES/DIVULGAÇÃO
É como se fosse uma nova inauguração. É uma mistura de ansiedade e felicidade (...) Nós temos uma clientela muito fiel e recebemos infinitas mensagens de apoio e de gente que dizia estar sentindo falta da nossa comida. Foi um período tenso esse em que as lojas estavam fechadas ou operando parcialmente, mas agora a vontade é de mostrar que nossa empresa não morreu", diz Rose Guareschi - FOTO:VINICIUS SIMÕES/DIVULGAÇÃO

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