A perspectiva de avanço de uma vacina para o coronavírus provocou alta das bolsas pelo mundo e enfraquecimento do dólar, mas aqui a moeda americana andou de lado. Fechou com ganho no mercado à vista e no futuro, onde grandes investidores elevaram apostas contra o real nesta terça, 14. Novos relatos de saída de capital do Brasil, preocupações com a retomada da atividade econômica e crescimento dos casos de coronavírus, além da tensão entre Estados Unidos e China, estão entre os fatores que limitam a melhora da divisa brasileira, de acordo com profissionais de câmbio. O banco alemão Commerzbank passou a prever hoje que a moeda americana deve ficar ao redor dos R$ 5,30 até dezembro. No fechamento, o dólar à vista terminou em alta de 0,68%, cotado em R$ 5,3855.
Esta quarta, 15, teve agenda internacional cheia, com o grupo Opep+, que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, anunciando que aumentará sua produção em agosto, após cortes recentes, e a farmacêutica Moderna divulgando resultados animadores dos testes em humanos da vacina que desenvolve para combater o coronavírus. Além disso, a produção industrial nos EUA cresceu mais que o esperado e o Livre Bege do Federal Reserve alertou para a incerteza do cenário. Neste ambiente, o dólar teve dia de enfraquecimento quase que generalizado no mercado internacional. "O dólar testou novos níveis de baixa", destacam os estrategistas do banco americano Brown Brothers Harriman (BBH).
No mercado brasileiro, porém, esse enfraquecimento do dólar foi menos sentido hoje. A analista de moedas do Commerzbank, You-Na Park-Heger, observa que um dos fatores que pesam é que a situação do coronavírus no Brasil não dá sinais de melhora. Assim, fica difícil estimar o nível de severidade em que a economia será afetada e quanto tempo vai durar a atividade enfraquecida. Por isso, ela prevê mais um corte de juros pelo Banco Central em agosto, de 0,25 ponto porcentual, e o dólar em R$ 5,30 até o final do ano. A moeda americana só cairia abaixo de R$ 5,00 em junho de 2021.
Apesar do esforço em avançar no Congresso com as reformas, como a tributária, a analista do Commerzbank destaca que a pandemia deve tornar mais difícil o avanço desta agenda. Há ainda o cenário político, que melhorou nas últimas semanas, mas está sempre sujeito a reviravoltas. Por isso, ela observa que as moedas emergentes devem se beneficiar da liquidez internacional, mas o real tende impacto mais limitado.
Dados divulgados hoje mostram que o Brasil segue perdendo recursos externos. Em julho, até o dia 10, houve saídas líquidas de US$ 3,504 bilhões pelo canal financeiro. No ano, a fuga de recursos por este canal já soma US$ 41,6 bilhões. Na B3, já saíram R$ 5 bilhões este mês, até o dia 13.
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