Crise que provoca soluções

PRODUTOS Empresas encontraram novos filões para agregar à produção já existente em meio à pandemia do novo coronavírus

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 26/07/2020 às 6:00
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
DEMANDA Com volta gradual ao dia a dia, a população necessita de produtos que ajudem a diminuir as chances de contrair o vírus - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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A pandemia da covid-19 tem sido devastadora. Seus efeitos têm ceifado vidas, distanciado as pessoas e introduzido à rotina da humanidade mudanças de hábitos antes nem pensadas. O momento inspira uma série de cuidados, assim como também demanda inovação. Se das crises surgem as oportunidades, empresas de diversos segmentos sabem disso e já conseguem apresentar algumas soluções. As novas necessidades trazem consigo também novas oportunidades de negócios, o que gera demanda a mercados específicos e garante ganhos, às pessoas e companhias, num momento marcado por perdas.

Ainda no fim de março, quando o País começava a vivenciar os efeitos da pandemia, a Nielsen contabilizava pelo menos 150 cadeias varejistas crescendo de forma exponencial a cada semana. A partir dos primeiros casos, a primazia das compras era por produtos de limpeza e de prevenção à doença. Álcool em gel ( 623%), filtros de ar ( 100%), álcool ( 85%) e limpeza em geral ( 58%) apresentaram crescimento exponencial, conforme as auditorias da Nielsen. Mais de quatro meses se passaram, e a pandemia não acabou. Em alguns locais, como em Pernambuco, começa-se a ter um gerenciamento da doença para flexibilização das medidas restritivas, o que permite às pessoas a retomada do consumo, ou melhor, um novo consumo que leva em consideração todos os aspectos que contribuem para a manutenção de controle do contágio.

É justamente esse novo consumo que desperta nas empresas a busca por soluções que atendam o que passou a ser necessidade. Ajudar a suprir o que a população precisa, foi justamente a ideia que norteou uma mudança nas linhas de produção da Anjo Tintas e Solvente. A empresa que fabrica por ano um milhão de toneladas de tintas, agora também é responsável pela produção de 100 mil litros ao mês de álcool 70%. "Tivemos a ideia de produzir o álcool no intuito de doar. Fizemos isso em hospitais, instituições e diversos municípios. Como apareceu muita gente querendo comprar, adaptamos toda a nossa produção para dar uma modernizada. Estávamos fazendo de forma bem manual, mas readaptamos por conta da demanda, e além de doar demos início à comercialização, primeiro em gel, depois na forma líquida e, agora, em spray", conta o CEO da Anjo, Filipe Colombo.

Num primeiro momento, as vendas já somam R$ 700 mil e devem representar pelo menos 2% da receita da empresa, que fatura em torno de R$ 60 milhões ao mês. Com produção no Sul e escoamento para todo o País, inclusive Pernambuco. "No ano, estamos com crescimento de 7%, mesmo com a pandemia. O álcool em gel representa ainda pouco do nosso volume, mas gera uma venda que para nós não existia. Estamos contratando 40 novas pessoas para que possamos atender toda essa demanda. É um mercado que a Anjo não atuava antes, mas o que a gente sabe é se tratar de um mercado com tendência a crescer", avalia. Com mais de 6 mil clientes ativos no País, a empresa tem no Estado 3,5% do seu faturamento.

Da mesma forma que a covid-19 ampliou mercado para produtos já existentes, também foram criados novos produtos para atender específicas demandas. A necessidade de clientes pernambucanos fez com que a Trox, multinacional que atua na fabricação e venda de componentes, equipamentos e sistemas de ar condicionado e ventilação interior, desenvolvesse um filtro capaz de reter 99,97% da partículas até 3 microns de tamanho (gotículas líquidas, por exemplo, correspondem a uma partícula com tamanho variando de 0,5 a 5 microns). "Havia uma demanda dos clientes por salas de isolamento, onde pode isolar uma pessoa sem contaminá-la ou transmitir a doença pelo ar. A Trox tem alguns equipamentos, eles atendiam mas não da forma como precisávamos. Em interlocução com o pessoal de projetos da empresa, desenvolveram um produto que passou a nos atender, nesse tipo de grau de filtragem", diz o engenheiro Leonardo Medeiros, da Meta Medeiros, responsável pela execução dos projetos.

O filtro de ar passou a fazer parte do portfólio comercial da Trox, reconhecido pela "filtragem absoluta". "Os hospitais já demandam essas salas, mas na covid isso acelerou. A demanda foi muito maior do que o que foi feito. Os hospitais de campanha, por exemplo, não têm essa tecnologia, porque demoramos pelo menos uns 45 dias no desenvolvimento, não dava tempo. O equipamento filtra quase tudo. o vírus não se locomove sozinho, precisa de gotículas ou grãos de poeira. O filtro retém isso e impede que vá para o ambiente. A gente filtra do paciente e do ambiente exterior. Até a descarga desse ar passa pela filtragem para não jogar a doença na atmosfera", reforça Medeiros.

Representante comercial da Trox em Pernambuco, Izzabela Martins tem visto crescer a procura pelos filtros de ar. "Houve demanda por essa parte dos filtros. As pessoas não costumam trocar. Foi agora uma procura geral para proteger as pessoas e se proteger. Os filtros mais comuns têm percentual de filtragem mais baixo. Esses filtros de filtragem absoluta são usados na parte hospitalar, mas hoje as pessoas estão querendo adotar a filtragem absoluta para algumas outras soluções". Os orçamentos variam de acordo com o projeto, partindo em média dos R$ 3 mil.

Outra solução que deve chegar ao mercado nos próximos 15 dias diz respeito ao vestuário. A Santista, que tem capacidade para produzir 70 milhões de metros de tecido ao ano, se prepara para entregar aos consumidores sua linha de tecidos com proteção contra a covid-19. A olho nu, conforme a empresa, não há diferença no material, mas a tecnologia introduzida na produção vai trazer um grande complemento na proteção das pessoas também por meio da roupa. "Os tecidos não têm nenhuma alteração, o que muda é o acabamento aplicado. Esse acabamento é composto por nanomoléculas de prata, micropartículas que penetram o mais profundo possível na fibra de tecido e fazem com que ele tenha essa propriedade", afirma o gerente de Marketing da Santista, Inácio Silva.

Tecnologia 100% brasileira, o tecido foi testado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). Nas análises, segundo a Santista, o novo produto se mostrou eficiente para inativar vírus SARS-Co-2 em até três minutos, com 99,8% de eficiência. "A proposta do produto é ser mais um complemento de combate à propagação do vírus. Os distribuidores já têm o material disponível, em todas as regiões do Brasil, tanto para trabalhar na linha de uniformes quanto na divisão de moda. Temos parcerias também com as principais magazines do País, e muito em breve a tecnologia já chega aos pontos de vendas, seja para compra física ou e-commerce", detalha Silva.

Com mais de 80 confecções homologadas pela Santista, algumas já deram à produção uniformes com o tecido, para atender hospitais e indústrias, mas a tecnologia também estará disponível para compra de peças unitárias, vendidas através dos distribuidores.

A linha também ganhou uma versão combinada à função 'Repeller', que repele líquidos e fluídos corporais, como espirros, sangue, suor e outras secreções, que ajuda a manter o tecido limpo e seguro por mais tempo.

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