Escolas fecham as portas

PANDEMIA Inadimplência e cancelamento de contratos tornou operação insustentável em algumas instituições. Famílias se dividem sobre volta às aulas

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 15/08/2020 às 6:00
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"A falta de financiamento, a desistência dos pais e a imprevisibilidade do retorno foram fatais pra gente." O desabafo é de Carolina Montenegro, proprietária e diretora do Espaço Sementinhas, berçário e creche que existia há quase sete anos no bairro de Setúbal, Zona Sul do Recife, e que fechou as portas na última quarta-feira (12). Em abril, a creche ainda se mantinha com 50 crianças matriculadas. Quando decidiu pelo fechamento, tinha apenas 18 matrículas. "Ao contrário do que imaginam aqueles que estão decidindo pelo fechamento das escolas, os pais tiveram que voltar a trabalhar e, sem ter onde deixar seus filhos, optaram por contratar uma pessoa. Obviamente, não conseguiam pagar pela creche e ainda por uma babá", lamentou Carolina.

As escolas infantis particulares são as que mais sofrem com a evasão em torno de 20%. Mas a inadimplência alta, o cancelamento de matrículas e o risco de fechamento é comum a todos os estabelecimentos privados, garante o diretor executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco (Sinepe), Arnaldo Mendonça. "O impacto econômico [do fechamento das escolas] é absurdo. As que estão conseguindo negociar junto às famílias, estão com 40% de inadimplência. Tem escola com mais de 50% de pagamentos em atraso. Qual instituição privada consegue operar com metade da sua receita?", indaga.

Segundo dados do Sinepe, a inadimplência média dobrou durante a pandemia, passando de 21% em março para 40% no mês de maio. Mesmo as escolas concedendo um desconto médio de 18% nas mensalidades.

Com protocolos definidos para a reabertura, o setor se frustrou, mais uma vez, na última quinta-feira (13), quando o governo do Estado decidiu ampliar a suspensão das atividades presenciais para o final deste mês de agosto. O prazo anterior se encerraria hoje (15). "A gente está prevendo que pelo menos 50% das escolas particulares de educação infantil e fundamental 1 vão fechar, se permanecerem sem funcionar até o fim do ano. As que têm só educação infantil fecharão quase todas", projeta Arnaldo.

FAMÍLIAS

As famílias estão divididas em relação ao retorno das aulas presenciais. A psicopedagoga Ana Karla Tenório tem um filho de 17 anos no terceiro ano do ensino médio em um colégio particular, localizado em Olinda. "Meu filho não faz questão de voltar". Karla diz que as aulas online são muito eficientes, mas não critica as escolas que querem reabrir. "Como educadora, eu até apoio a volta, mas como mãe, não", resumiu.

A diretora do Instituto Capibaribe, Mônica Antunes, revela que a escola, de 527 alunos, criou uma comissão de retorno as aulas. Mônica diz que entende a pressão de algumas escolas e da sociedade em busca da recuperação da economia. "Mas a gente considera que voltar neste momento é prematuro, porque ainda não temos uma solução para o problema coronavírus." A diretora afirma, no entanto, que a escola está pronta para voltar com segurança com as famílias que assim decidirem. "A gente só não voltaria se todas as famílias fossem contrárias ao retorno, mas fizemos um levantamento e o resultado foi que a maior parte das famílias está entre a dúvida e o retorno", explicou.

INDEFINIÇÃO

O Espaço Catavento, localizado no Bairro das Graças, Zona Norte do Recife, tinha 65 alunos antes da pandemia. Hoje está com 45. A diretora Martha Góis conta que foi feito um investimento em abril, já visando a reabertura. "Ampliamos o número de salas para acolher menos alunos por sala, abrimos janelas maiores para evitar o uso de ar condicionado. Tudo para preparar a nossa volta", conta a diretora. Martha diz que a escola passou a ter uma inadimplência de cerca de 10%, que não havia antes. "Procuramos as famílias para tentar evitar a evasão e foi possível dar um desconto linear de 20% para todas." Mesmo assim, a perda de receita foi de 70%, contou. "Pra gente, o que aflige mais é a falta de plano de reabertura por parte do governo. Nós não vimos investimentos para adequar as escolas públicas para esse retorno, mas, mesmo assim, o governo insiste em atrelar a reabertura das escolas particulares às escolas públicas", diz Martha Góis.

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