O isolamento social, para tentar conter o novo coronavírus, e o auxílio emergencial impulsionaram o crescimento das vendas de artigos domésticos. Com mais tempo em casa, as pessoas passaram a dedicar atenção a esses produtos e ajudaram a recolocar lojas do setor de cama, mesa e banho, no mesmo patamar do pré-pandemia.
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Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), produtos para o lar têm retomado o crescimento das vendas mais rapidamente, já que os brasileiros têm passado mais tempo em casa. O segmento de cama, mesa e banho, segundo o presidente da organização, Fernando Pimentel, se recupera melhor do que o de vestuário. “Mesmo nesse último caso, roupas para ficar em casa vendem mais do que roupas de sair”.
Uma das pessoas que notaram a necessidade de renovar o enxoval durante a quarentena foi a advogada Luana Lins, 35 anos. “Antes, não dávamos tanta atenção a essas coisas, mas a pandemia se encarregou de mudar nossa postura”, diz. Ainda segundo ela, com o retorno às atividades no trabalho, os cuidados aumentaram e foi preciso aumentar o estoque desses produtos em casa. “Estamos indo e voltando do trabalho todos os dias, tendo contato com mais pessoas. Por isso, as roupas de cama e banho, principalmente, precisam ser trocadas com mais frequência”, diz ela, que foi ao RioMar Recife, na Zona Sul da capital pernambucana, em busca de novas toalhas para sua residência.
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A avaliação da Abit reflete o que na prática já é sentido por empresas do setor. Com a reabertura do comércio no Estado, a loja Artex do RioMar Recife quase dobrou o faturamento do mesmo período de 2019. “Apenas na Artex, crescemos quase duas vezes mais desde o início de agosto até ontem (segunda-feira, 17)”, afirma a gerente do estabelecimento, Rafaela Rocha.
O bom resultado vem após meses de queda, que foi freada no mês passado com a volta do crescimento nas vendas e faturamento da loja. “Chegamos a ter uma perda de 96% em abril, nosso pior mês. Graças a Deus, o quadro mudou ainda durante o período de isolamento”, conta Rafaela, frisando que com os números positivos já foi possível recuperar parte das perdas tidas neste ano.
Na loja MMartan, o cenário também é favorável. “Já igualamos os números do faturamento deste ano aos de 2019”, diz a supervisora comercial do grupo Leão Mais, que gerencia as marcas, Paula Souza. “Apesar de todas as dificuldades, conseguimos recuperar algumas das perdas trazidas pela pandemia”, pontua ela, ressaltando que, se não houvesse pandemia, a loja veria sua renda ultrapassar o dobro da apurada ano passado.
Na avaliação de Paula, o investimento do grupo no comércio virtual foi um dos maiores responsáveis por aliviar a pressão da pandemia sobre as lojas. “Esse período nos fez abrir os olhos para o e-commerce, whatsapp e redes sociais. Apostamos nossas fichas nesses espaços e agora estamos colhendo os bons frutos”, argumenta.
A supervisora comercial afirma ainda que o esforço para fidelizar os consumidores também teve papel essencial para continuar vendendo durante o período em que as lojas estiveram fechadas. “Essa aproximação foi tão eficaz, que, mesmo com as portas fechadas, ganhamos novos clientes que nos conheceram por indicação dos mais antigos”, pontua ela.
Aliado à necessidade das pessoas em renovar o enxoval, o gerente da pesquisa de comércio do IBGE, Cristiano Santos, defende que o auxílio emergencial tem tido impacto relevante na recuperação financeiras das lojas de artigos domésticos. “A renda do benefício acabou virando consumo, e não poupança. Pode parecer pouco, mas esse dinheiro ajuda muita gente. Isso acaba circulando no comércio, sobretudo, naqueles voltados a produtos do lar”, argumenta.
Comércio ainda não vai bem
Apesar dos bons resultados obtidos pelo setor de cama, mesa e banho, a situação geral do comércio ainda não é boa. O segmento tem o maior contingente de empresas com percepção de impacto negativo sobre os negócios: 51,6%, segundo a pesquisa Pulso Empresas, criada pelo IBGE para avaliar os impactos da pandemia nas companhias brasileiras. Entre os impactos negativos mais citados pelas empresas, estão a queda nas vendas e a dificuldade de realizar pagamentos de rotina.
Além disso, a atividade deve faturar R$ 111,31 milhões neste ano, o que representa menos 25,2% do que o faturado em 2019. O pior mês, até o momento, foi sentido em abril, com recuo de mais de 81% nas receitas ante o mesmo mês do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (18), pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que aponta as lojas de vestuário e calçados como as mais prejudicadas.
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