PRODUTIVIDADE

PIB de Pernambuco cai 9,4% e atinge pior resultado desde 2002

No segundo trimestre de 2020, período considerado mais crítico da pandemia, apenas a agropecuária apresentou variação positiva (4,5%)

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 15/09/2020 às 13:35 | Atualizado em 15/09/2020 às 15:59
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Indústria automobilística no Estado tem tombo acima dos 60% - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Entre os meses de abril, maio e junho de 2020, a economia pernambucana viveu o seu pior momento nos últimos 18 anos. No segundo trimestre deste ano, conforme os dados divulgados pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco - Condepe/Fidem, o Produto Interno Bruto do Estado caiu 9,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. O resultado veio dentro das expectativas, mas é a pior variação desde o início da série histórica trimestral - em 2002, denotando os efeitos nocivos da pandemia sobre todos os setores da atividade econômica. Em valores correntes, o PIB saiu de R$ 51,6 bilhões para R$ 38,9 bilhões entre os dois primeiros trimestres deste ano. No Brasil, a queda do PIB foi de 9,7% no período. 

Com o resultado negativo do 2º trimestre, o Estado já acumula uma queda de -4,5% em 2020. No comparativo com o mesmo trimestre de 2019, o baque é ainda maior (-9,6%). "Essa foi a maior queda dentro da série histórica desde 2002, quando a gente tem esse número detalhado trimestralmente. A gente teve algo perto disso no fim de 2009 e 2010. Mesmo assim, o resultado veio dentro das expectativas. Estávamos esperando essa queda", confirma a consultora do Condepe/Fidem Cláudia Pereira. 

Destrinchando o resultado pelos grupos de atividades econômicas, apenas a agropecuária apresentou resultado positivo (4,5%). Como tem menor peso setorial na composição do PIB (3,9%), o desempenho foi ofuscado por quedas de 14,7% na indústria e -8,9% no setor de serviços. 

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NEGÓCIOS Compre PE vai aproximar vendedores dos compradores - EBC

O desempenho do agro foi puxado pela atividade pecuária (2,4%) e as lavouras temporárias (13,9%), destacando-se produções de cana-de-açúcar, milho, ovos e aves. No semestre, a agropecuária apresenta variação de crescimento na casa dos 2,6%.

"A agropecuária foi o setor que de certa forma, embora tenha sido atingido, os resultados se mostram positivos porque pela própria característica de produção, com as condições determinadas pela própria natureza, difere dos demais. Isso a gente pode constatar tanto nos dados para Brasil quanto para Pernambuco, que se apresentaram positivos no trimestre e ao longo do 1º semestre", avalia o gerente de estudo socioeconômico da agência, Rodolfo Guimarães. 

Taxas de Variação do PIB Trimestral - Pernambuco e Brasil

Acumulado ao longo do ano / mesmo período do ano anterior -4,5% (Pernambuco) -5,9% (Brasil)

2º Trimestre 2020 / mesmo trimestre 2019 -9,6% (Pernambuco) -11,4% (Brasil)

 2º Trimestre / trimestre imediatamente anterior (com ajuste sazonal) -9,4% (Pernambuco) -9,7% (Brasil)

Tornando-se exceção, a agropecuária chegou a resultados bem distintos dos demais setores. Com maiores pesos na composição do PIB, a indústria e o serviços, em meio ao período de maior restrição da produção e da demanda, passando inclusive por um lockdown, pressionaram negativamente o PIB do Estado. 

No caso da indústria, a queda foi de 14,7% no trimestre para o segmento em geral. Levando-se em conta apenas a indústria de transformação, a derrocada foi de -18,8%. A construção civil, mesmo com retomada das obras ainda no início de junho, ficou no resultado negativo de -10,8%. A indústria de veículos automotores, que vinha puxando os índices de crescimento no Estado, amargou uma queda de 62,5%. Só não maior que a indústria de outros equipamentos de transporte (polo naval) que já vinha em queda livre por conta do fim dos contratos nos estaleiros e agora chegou a - 87,8% no segundo trimestre. 

 

Foto: Heudes Régis/Acervo JC
Nessa etapa do processo, potenciais compradores vão receber carta-convite para detalhar propostas - Foto: Heudes Régis/Acervo JC

"Vinhamos num quadro em Pernambuco com forte mudança estrutural. Temos dois grandes empreendimentos: industria automotiva e refino de petróleo, com peso importante na industria de transformação pernambucana. A automotiva nos últimos anos vinha num processo positivo, enquanto o refino oscilava conforme as decisões de produção da Petrobras, que variaram muito. No geral, além de outros segmentos como alimentos e bebidas, material elétrico, isso vinha compondo um quadro positivo para a indústria de Pernambuco, sobretudo a de transformação. Esse quadro positivo ainda se configurou ao longo do primeiro trimestre, com bons desempenhos até no refino de petróleo. Porém a indústria automotiva seguiu o resultado dos ajustes que as montadoras fizeram para lidar com a redução de demanda de automóveis global, ocasionando uma queda forte na indústria de transformação", explica Guimarães. 

No segundo trimestre, dos 14 segmentos industriais, apenas três tiveram desempenhos positivos: coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (33,3%); produtos alimentícios (7,7%) e sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (5,3%). No semestre, a indústria tem baixa de -5,8%. Isolada, a indústria de transformação, -5,2%.

SETORES

Acumulado ao longo do ano 2,6% (agropecuária) -5,8% (indústria) -4,5% (serviços)

2º Trimestre 2020/mesmo trimestre 2019 4,5% (agropecuária) -14,7% (indústria) -8,9% (serviços)

2º Trimestre/trimestre imediatamente anterior (com ajuste sazonal) 1,9% (agropecuária) -11,6 (indústria) -8,5% (serviços)  

Com maior peso na composição do Produto Interno Bruto do Estado (75%), os serviços caíram 8,9% no segundo trimestre. Nos primeiros três meses do ano, o segmento já demonstrava uma retração de -0,1%, tendo agora o resultado pressionado pelos índices negativos de administração, saúde e educação públicas (-4,8%); comércio (-15,2%); outros serviços (-15,7%) e transporte, armazenagem e correio (-18,6%). 

Para o gerente de estudo socieconômico do Condepe/Fidem, a queda dos serviços é explicada pela restrição da oferta e demanda em função da pandemia. Com destaque para os serviços prestados às famílias, que ficaram ainda mais limitados no segundo trimestre. No período, apenas atividades imobiliárias e aluguéis (1,7%) e intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados (0,5%) tiveram variações positivas. No semestre, a queda dos serviços é de 4,5%. O comércio se retraiu 8,4%.

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Retomada 

Os caminhos para retorno das atividades em sua plenitude é uma preocupação que se desenha para o ano de 2021. Embora, já haja uma percepção de "saída do fundo do poço", não há dúvidas quanto as dificuldades que que todos os setores terão à frente, sobretudo após o fim de 2020, com consequente fim do pagamento do auxílio emergencial às famílias. A manutenção de um cenário de crise com menos renda preocupa um estado que já mantém um alto índice de desemprego e informalidade. Num dos melhores cenários, sem uma segunda onda de casos da pandemia, a previsão do Condepe/Fidem é de que o PIB do Estado chegue ao fim do ano com resultado de -5%. 

"Tínhamos perspectivas de queda entre 7% e 8% (ao fim de 2020). Agora vamos num ritmo de redução dessa queda, com projeção para o fim do ano em torno dos 5%. "Em 2020, a gente observa a partir de março, no início do ano uma afetação. Chegamos em abril com mais de 13% de queda, exatamente no auge do isolamento, entre abril e maio. A partir daí, os números negativos já começaram a diminuir. Essa diminuição já é mostrada mais fortemente em julho, começo da reabertura e índice de -1,4%. Esperamos que o Estado esteja realmente no caminho de saída desse período crítico", diz o direto do Condepe/Fidem, Maurílio Lima, em referência às Taxas de Variação do Nível de Atividade Econômica Mensal do Estado. 

 

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Com o nono maior índice de desocupados do País, 15% no segundo trimestre, segundo o IBGE, Pernambuco recebe deverá receber até o fim do ano algo em torno de R$ 18 bilhões do auxílio emergencial que atende praticamente metade da população do Estado. 

"O perfil da nossa atividade produtiva mudou. O que acontece na indústria automobilística e de refino tem peso grande, mas serviços ainda correspondem à 75% da nossa economia, e tudo que acontece (no setor) impacta muito. É muito importante o que vai acontecer agora. Não podemos descartar o peso desse auxílio dado às famílias. São aspectos que não podemos perder de vista", ressalva a presidente da agência, Sheilla Pincovsky. 

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WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM DATA: 23.06.2020 ASSUNTO: Reabertura do comércio centro do Recife após diminuição das restrições durante a pandemia do coronavírus - FOTO:WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
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FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM DATA: 23.06.2020 ASSUNTO: Reabertura do comércio centro do Recife após diminuição das restrições durante a pandemia do coronavírus - FOTO:WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
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