O Ramal do Agreste tem a previsão de ser totalmente concluído no segundo semestre de 2021, enquanto a Adutora do Agreste continua se arrastando sem data para ser finalizada e recebendo repasses minguados do governo federal. São as duas obras hídricas mais importantes em construção no Estado, porque vão levar a água perene do Rio São Francisco para o Agreste pernambucano, região de maior estresse hídrico e que, ciclicamente, passa por grandes estiagens. Os dois empreendimentos funcionariam como se o Ramal do Agreste fosse o começo da estrada - por onde a água entra - e o término do caminho seriam os últimos pontos da primeira etapa da Adutora do Agreste. Ou seja, a água vai ser captada pelo Ramal do Agreste, mas não conseguirá chegar ao fim do caminho, porque a adutora não estará concluída.
A origem da verba usada nas duas obras é a mesma: os recursos da União. E aí a política também passa pela prioridade dada às obras. Iniciado em 2018, o Ramal do Agreste, que vai de Sertânia a Arcoverde, está com um índice de realização das obras de 70,66% e é construído pelo governo federal via Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A atual administração federal não tem uma boa relação com os gestores estaduais socialistas à frente do governo do Estado desde 2007.
Em obras desde 2013, a primeira etapa da Adutora do Agreste está sendo construída pela Compesa, que pertence ao governo do Estado. Inicialmente, a previsão era de que a conclusão do empreendimento ocorresse em 2015. Atualmente, a execução está em 65,3% e ocorreram várias paralisações das obras devido à falta de repasse dos recursos federais. Para concluir o empreendimento, são necessários R$ 220 milhões. No entanto, todos os recursos previstos da União a serem liberados para a Adutora do Agreste até 2021 alcançam R$ 150 milhões. Se esse total fosse liberado, ficaria uma pendência de R$ 70 milhões que só devem entrar nos futuros orçamentos da União, no mínimo, em 2022. Desde de 2013, a Adutora recebeu investimentos totais de R$ 1,030 bilhão com a implantação de 647,8 quilômetros.
O Ramal do Agreste recebeu R$ 940 milhões desde 2019 de um total de R$ 1,09 bilhão gasto no empreendimento. Em 2020, o Ramal do Agreste recebeu investimentos da ordem de R$ 351 milhões, enquanto os recursos destinados à Adutora do Agreste somaram R$ 40,5 milhões em 2020 e R$ 117 milhões em 2019. Ao ser questionado o motivo pelo qual o Ramal do Agreste recebeu mais recursos, a assessoria de comunicação do MDR respondeu: "O Ramal do Agreste é o empreendimento que faz a integração da Adutora do Agreste ao Eixo Leste do Projeto São Francisco. É a obra que dará funcionalidade à Adutora e possibilitará a captação de água do Projeto. As duas obras são importantíssimas e é fundamental que as duas sigam o cronograma de execução previsto para garantir segurança hídrica aos municípios pernambucanos".
Ainda de acordo com o MDR, as previsões de conclusão do Ramal do Agreste são: marco 1 com as obras até o Reservatório Negros até o final de 2020, marco 2 com as obras chegando à estação de bombeamento no primeiro semestre de 2021 e o marco 3 que será a conclusão da obra inteira até o segundo semestre de 2021.
POSSIBILIDADE
A Adutora do Agreste poderia ser concluída em 2021, caso chegassem recursos federais para isso, segundo a secretaria estadual de Infraestrutura, Fernandha Batista. "A água do São Francisco pode trazer segurança hídrica para 68 municípios do Estado. O ideal seria o andamento dos dois empreendimentos (o Ramal do Agreste e a Adutora do Agreste) de forma concomitante para garantir com efetividade que a água chegue na maior quantidade de pessoas", conta Fernandha.
Quando concluída, a primeira etapa da Adutora do Agreste vai levar a água da transposição do São Francisco a 23 municípios pernambucanos. A segunda etapa contemplaria mais 45 cidades, mas ainda não tem nem o convênio assinado com o governo federal para o repasse dos recursos. Ou seja, uma parte desses 45 municípios continuarão dependendo de São Pedro pra ter água.
O governo do Estado percebendo o atraso fez algumas obras emergenciais para a Adutora do Agreste não depender somente da água do São Francisco. Atualmente, cerca de 400 mil pessoas já se beneficiam da parte em operação da Adutora do Agreste. Caso toda a adutora fosse concluída (incluindo as duas etapas), seriam 2 milhões de pessoas que passariam a receber a água do Velho Chico somente em Pernambuco.
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