RETOMADA

Por causa do coronavírus, Brasil terá crescimento econômico pior do que 56% dos países em 2020

Levantamento foi realizado com base nas projeções de crescimento divulgadas esta semana pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)

Angela Fenanda Belfort
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Angela Fenanda Belfort
Publicado em 16/10/2020 às 21:29
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
VERBA Com mais dinheiro no bolso, os mais pobres incluíram itens que antes não faziam parte do cardápio - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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A pandemia do coronavírus só agravou as amarras que impedem o crescimento econômico do País de forma sustentável. Dos 194 países do mundo, 56% terão um crescimento do PIB maior - "ou menos pior" do que o Brasil em 2020, segundo um cálculo feito pelo economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV)- IBRE Marcel Balassiano baseado nas projeções do PIB divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na semana passada. Nesta previsão, o Brasil ficaria com uma queda de 5,8% do PIB - que mede todas as riquezas geradas - este ano.


Com relação ao PIB per capita (por pessoa), 52% dos países acompanhados pelo FMI terão um desempenho melhor do que o Brasil, ainda nos cálculos feitos por Marcel. A projeção é de que o PIB per capita brasileiro apresente uma queda de 6,4% este ano. "O Brasil é um país emergente. Então, é legítima a comparação com os emergentes, mas tem a China que puxa o crescimento desse grupo pra cima", comenta Marcel.

Pelas previsões do FMI, a China vai apresentar um crescimento de 1,85% este ano. É a única nação que faz parte do grupo dos BRICs que pode apresentar crescimento positivo este ano. "O crescimento da China será próximo de 2%. Para eles, isso é como se fosse uma recessão pois estão acostumados a crescer entre 5% e 6% ao ano", explica Marcel.

Voltando ao Brasil, o pesquisador da FGV diz que poderia ser pior, caso não tivesse tido o auxílio emergencial. "É uma crise mundial e, praticamente, a maioria dos países terá PIB negativo. A grande questão é como as economias vão se recuperar sem os estímulos que foram implantados em todos os países durante a pandemia", afirma Marcel Balassiano. Ele é o autor de um estudo que mostrou que nas últimas quatro décadas, duas foram perdidas em termo de crescimento econômico: a de 1980 e a que está se encerrando este ano.

E aí os três economistas entrevistados nessa reportagem argumentam: os problemas que estão travando o crescimento econômico do Brasil continuam os mesmos depois que passar os efeitos da pandemia. "Esta década já seria fraca de crescimento da economia mesmo senão tivesse tido o coronavírus.Todos os países do mundo gastaram mais para combater os efeitos da pandemia. O Brasil já vinha fazendo isso antes da crise sanitária. A dívida do País saiu de uma proporção de 50% do PIB em 2013 para 75% do PIB em 2018. Desde 2014, o País voltou a ter déficit primário", resume Marcel. Déficit prímário é quando o País passa a gastar mais do que arrecada e isso sinaliza que está com as finanças desorganizadas. De 2014 a 2020, a economia brasileira deve apresentar uma queda de 1,3% ao ano neste período, caso se concretize a projeção de queda de 5,8% para 2020. "A situação do mercado de trabalho também se agravou porque ele tem uma relação forte com a atividade econômica", argumenta o professor da FGV.

PRODUTIVIDADE

Aumentar a produtividade do País é necessário pra voltar a crescer. "A produtividade aumenta por duas fontes: uma é a qualificação da mão de obra, o que é difícil porque o nosso capital humano vai mal. E a outra fonte da produtividade é o capital com investimentos em máquinas e tecnologia", resume o professor de Economia do Insper Fernando Ribeiro Leite.
Para ele, existem três travas grandes ao crescimento do País: uma que mora no Estado, que captura pra si cerca de 37% do PIB e devolve muito pouco à sociedade, outra trava na formação do empresariado "acostumado com o protecionismo" e que não compete numa escala internacional e a terceira que é a má formação do capital humano.

Fernando defende que "precisaria de um engajamento que envolvesse a sociedade, o setor privado, o setor público na formação do capital humano necessário à economia do século XXI com os tradicionais setores da economia se modernizando aliados às tecnologias digitais. Mais isso não está no radar do Estado", comenta. E acrescenta: "tem que diminuir o tamanho do Estado, abrir a economia, formar capital humano, construir um projeto de País, um consenso, em torno de alguns pontos básicos que o País pretende alcançar em 20 anos".

"A produtividade também é afetada pelo atual sistema tributário e a falta de inovação. A exclusão digital é uma das dimensões da exclusão social do País", argumenta o sócio diretor da consultoria Ceplan e economista Jorge Jatobá. E embora organizar as finanças seja sempre algo primordial, Jatobá defende "uma flexibilização" do teto de gastos até um certo ponto para que o setor público volte a fazer investimentos, como ferrovias, estradas, escolas etc. "O investimento público é importante para a construção de uma estrutura econômica e social", revela. O investimento público também aquece a iniciativa privada - com contratação de empresas - e a geração de empregos.

O investimento público como proporção do PIB no Brasil apresentou os seguintes percentuais: 4,4% em 2014; 3,5% em 2015; 2,8% em 2016 e 2,3% em 2017, segundo as Contas Nacionais do IBGE. "Nestes últimos anos, também crescemos pouco porque o investimento do setor público também caiu. Foram anos de muita perturbação política junto com pouco investimento público", afirma, se referindo ao crescimento pífio da economia brasileira que ocorreu depois de 2014. E conclui: "É preciso resolver o problema fiscal (de gastar mais do que arrecada),ter uma visão estratégica para recuperar a economia, voltar a ter investimento público e criar um ambiente favorável aos negócios. O problema crônico de produtividade só muda com melhorias na educação e qualificação profissional".

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O economista Marcel Balassiano calculou o percentual de países que terão desempenho melhor do que o Brasil em 2020 baseado nas projeções de crescimento do FMI - FOTO:Biana Gens/ Divulgação FGV/IBRE
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Segundo dirigentes de entidades pernambucanas, incertezas relacionadas ao comportamento da doença dificultam projeções sobre o andamento dos negócios nos próximos meses - FOTO:FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

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