Varejo perde fôlego e ritmo

COMÉRCIO Dados do IBGE mostram que, após meses de alta, Pernambuco registra queda acima da média nacional nas vendas para setembro

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 12/11/2020 às 2:00
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O volume de vendas do varejo em Pernambuco teve queda de 3,6% entre agosto e setembro, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem (11) pelo IBGE. É o quinto pior resultado para o mês entre todos os Estados. À frente de Pernambuco estão o Maranhão (-5,9%), Amapá (-5,5%), Ceará (-4,4%) e Acre (-3,9%). O negativo resultado pernambucano está na contramão dos números nacionais, que registraram um aumento discreto de 0,6% no período.

Na variação acumulada do ano, de janeiro a setembro, enquanto o Brasil alcançou a estabilidade, o Estado registrou queda de -2%. Na variação acumulada dos últimos 12 meses, o País teve índice positivo de 0,9%. Em Pernambuco, o resultado foi negativo em 1%.

O economista da Fecomércio-PE Rafael Ramos demonstrou surpresa com os números divulgados pelo IBGE. "A gente esperava um índice positivo para Pernambuco em setembro. Um valor modesto, como o do índice nacional, de 0,6%, mas positivo", disse Ramos. O economista ponderou que os meses anteriores com registros positivos, e até acima da média, podem ter colaborado para reduzir o índice na comparação com setembro.

ANÁLISE

A gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, confirma que o comércio em Pernambuco apresentou índices elevados durante a pandemia, a partir da reabertura das atividades econômicas. No mês de abril houve uma queda significativa de 16,7% no volume de vendas. Mas o mês de maio já registrou alta de 10%, em junho foi de 10,6%, e em julho o índice quase dobrou, registrando 19,8%. Em agosto houve uma queda acentuada, mas ainda com índice positivo de 0,2%. "Nós vínhamos de três meses muito altos até agosto, então falta fôlego para continuar nesse ritmo", explicou Fernanda.

Ela acredita que a redução nas vendas em setembro coincidiu com o corte de metade do valor do auxilio emergencial pago pelo governo federal, de R$ 600 para R$ 300 a partir de setembro, fato que, para o comércio, pode ser compensado com o início do pagamento do 13° salário pelas empresas a partir deste mês de novembro. "Pode ser que parte desse dinheiro extra não resulte em consumo, pode se transformar em pagamento de dívidas ou mesmo poupança para as despesas de início do ano", pontuou Estelita.

PREOCUPAÇÃO

Já para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife, Cid Lôbo, um outro fator contribuiu para a queda na atividade do comércio: a falta de matérias primas. "Em todo o Brasil está faltando plástico e aço, fazendo com que as indústrias não possam atender a demanda, dificultando a reposição de estoques. O resultado é o que chega ao comércio está chegando com aumento em alguns setores, como o de móveis e material de construção, o que acaba freando o consumo na ponta, nas lojas", alertou o presidente da CDL.

Lôbo reconhece que outros segmentos, como o de vestuário e de calçados estão prejudicados pelo momento, reflexo da pandemia. "Como praticamente não está havendo eventos sociais e muitas pessoas estão trabalhando de home office, o mercado de vestuário perdeu muita demanda", assinalou. Na opinião dele, até dezembro o comércio vai melhorar, mas a incógnita será a partir de janeiro. "Ainda não temos uma visão clara de como será o início de 2020", disse Cid Lôbo.

NORMALIDADE

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Bruno Schwambach viu como "um movimento natural" a redução de 3,5% na passagem de setembro para agosto. "Houve um crescimento grande no período de retomada das atividades e, agora, há os movimentos de estabilização e desaceleração, voltando à normalidade do período pré-pandemia. É muito mais difícil manter níveis de crescimento quando a base comparativa aumenta. Setembro ser o primeiro mês de desaceleração desde o ápice da pandemia mostra que atravessamos bem", afirmou Bruno Schwambach.

 

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