Enquanto a tecnologia avança mais rápido que as habilidades humanas, ter diploma de uma universidade renomada não é mais garantia de uma boa colocação no mercado de trabalho, muito menos de sucesso profissional. Segundo especialistas ouvidos pelo JC, essa ideia é limitada e já se tornou obsoleta. Hoje, para acompanhar o ritmo de surgimento de novas tecnologias, o profissional precisa estar antenado, ser curioso e disposto a aprender em todos os momentos de sua vida. Trata-se do lifelong learning, que, em tradução livre, quer dizer educação ou formação continuada.
O conceito surgiu nos anos 1970, mas ganhou maior simpatia do mundo corporativo com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que tem acelerado o ritmo da transformação dentro das empresas brasileiras. “Nesse processo, várias funções vão desaparecer e outras novas vão surgir. O profissional, que antes passava a vida numa determinada área ou função, terá de experimentar novas atividades e ousar”, afirma Joebson Oliveira, consultor de Recursos Humanos e coordenador do Núcleo de Carreiras do Unit-PE.
Adotar esse conceito pode ajudar a desenvolver as habilidades técnicas e comportamentais, além de dar mais autonomia e independência ao profissional, que estará mais preparado para o futuro. “O profissional de 2019 não serve mais para 2020. O mundo está evoluindo e você precisa evoluir junto”, diz Iara Margolis, especialista em neurociência e a comunicação em ambientes corporativos.
Para incorporar esse conceito no dia a dia, o profissional precisa ser o protagonista dessa transformação. O primeiro passo é aprender a aprender – tarefa que não foi ensinada pelo modelo tradicional de educação. “Nesse novo mundo, é preciso ser um pouco autodidata e entender qual o conhecimento necessário para melhorar o desempenho e as habilidades técnicas ou comportamentais”, conta Joebson, ressaltando que o foco é primordial para aprender. É importante escolher temas que vão trazer benefícios e reduzir alguma deficiência na vida profissional, reduzindo, dessa forma, níveis de ansiedade com o excesso de informação.
Entretanto, muitos não conseguem traçar esse caminho sozinho e precisam da curadoria de um especialista para apontar quais os principais gaps na vida do profissional. “Se o profissional não consegue identificar suas potencialidades por si só, ele deve procurar um consultor de carreiras ou até mesmo de RH para ajudá-lo a dar um ‘up’ no mercado de trabalho”, aconselha Lauro Buarque, diretor da Consult Human, empresa especializada em consultoria e recrutamento, lembrando que atualmente há uma infinidade de ferramentas que ajudam a mostrar os problemas e fragilidade na carreira de um trabalhador. “Se tornar um lifelong learner exige mais disposição do que dinheiro, pois há uma infinidade de cursos online e gratuitos sendo ofertados pela internet”, pontua.
Mas cursos e treinamentos não são a única forma de obter conhecimentos nessa era digital. É o que aponta Paulo Sedicias, 30 anos, exemplo de profissional chamado de Lifelong Learner. “As pessoas podem aprender numa palestra, num programa ou num documentário. O importante é estar aberto e sempre verificar a credibilidade dos especialistas que dão as informações." A essa lista acrescenta-se lives, podcasts, livros e vídeos. Tudo isso pode representar aquisição de conhecimento.
Se tornar alguém que busca sempre estar estudando e descobrindo novas coisas ajudou Paulo na carreira. Hoje, ele é gerente de marketing do Instituto Luiz Mário Moutinho, entidade especialista em formação continuada para profissionais do Direito e diversas áreas. “ Espera-se do profissional um desenvolvimento de um know how que sirva para além do que ele foi contratado, ou seja, você precisa conhecer sobre tudo que está acontecendo, para que identifiquem em você competências que comprovem de que você está pronto para assumir novos desafios”, diz.
O PAPEL DAS EMPRESAS
Embora a decisão de adotar o conceito de lifelong learning esteja nas mãos dos profissionais, as empresas têm um papel importante de incentivar seus colaboradores no caminho do conhecimento. Na avaliação de especialistas, as corporações têm quase um papel social com seus funcionários neste momento de avanço tecnológico acelerado.
Isso é refletido no desejo dos profissionais. Segundo o levantamento de Tendências Globais de Capital Humano 2020 da consultoria Deloitte, elaborado a partir de entrevistas com 9 mil líderes de negócios e de Recursos Humanos de 119 países, também indica que os profissionais classificam a “oportunidade de aprender” como uma das principais razões para procurar um emprego, e os líderes empresariais sabem que mudanças na tecnologia, longevidade, práticas de trabalho e modelos de negócios criaram uma grande demanda por desenvolvimento contínuo e duradouro.
“Não existe profissional aprendendo todo o tempo, sem uma parceria forte da empresa que algumas horas por dia em especialização, podem se traduzir em redução de custos, melhoria da produtividade, melhor relacionamento interpessoal, e no final um cliente satisfeito”, aponta Adilson Paradella, professor de Administração da Faculdade Senac.
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