Impulsionado pela manutenção do bom humor externo e dados favoráveis vindos da economia chinesa, o Ibovespa testou a marca dos 111 mil pontos, nível no qual oscilou na maior parte da sessão. No entanto, ao final do dia, o ímpeto comprador arrefeceu e o principal índice à vista do mercado acionário brasileiro recuou para fechar aos 110.575,47 pontos. Ao ainda marcar ganhos de 0,32%, engatou a quinta alta consecutiva, acumulando 4,27 na semana e 17,69% em novembro. Apesar da meia sessão em Nova York, o giro financeiro foi de R$ 27,7 bilhões, bem acima dos R$ 19 bilhões da véspera.
Dados positivos da economia chinesa pintaram o quadro favorável para a disparada de ordens de compras de ativos. Romero Oliveira, responsável pela mesa de operações da Valor Investimentos, diz que a recuperação da China dá suporte ao preço do minério de ferro, mesmo já a níveis elevados. O produto foi negociado no porto de Qingdao em alta de 0,96% a US$ 129,62 a tonelada nesta sexta-feira. "Para a Vale, isso é fluxo de caixa na veia", ressalta, lembrando que a empresa, que tem peso de pouco mais de 10% no índice, tem vindo de uma escalada constante e contribui para a alta do índice. Hoje Vale ON fechou com ganho de 2,44%, cotada a R$ 78,44 - um avanço de 52,45% em 2020.
O ambiente mais confiante no exterior, com as perspectivas de que as vacinas possam impedir uma retração das economias como a vista no início do ano, mantém o fluxo de investimentos estrangeiros, o que impulsiona Ibovespa. Segundo Rodrigo Moliterno, responsável pelas operações de renda variável da Vedha Investimentos, agora que também o cenário eleitoral nos Estados Unidos está mais definido, os investidores olham para as bolsas mais atrasadas, como a brasileira que está devendo em torno de 4% no ano. E com um bônus de atratividade que é o dólar apreciado. Hoje o dólar à vista encerrou em queda de 0,18%, a R$ 5,3256.
Para a semana que vem, Moliterno diz acreditar que, na segunda-feira, após o segundo turno das eleições municipais, o humor local pode mudar. O governador João Doria já marcou um pronunciamento para falar sobre a contaminação de Covid-19 no Estado. Para o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o Brasil está tendo um repique. O País passa por uma reversão de tendência, pois o número de casos de contaminação por Covid que estava caindo, agora, está subindo.
Dólar
O dólar teve a segunda semana seguida de queda e caminha para fechar novembro com baixa mensal de 7%, a maior em dois anos. Fluxos de capital do exterior foram o principal fator a retirar pressão do câmbio no Brasil e outros emergentes. Cálculos preliminares do Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, mostram os maiores volumes este mês desde o começo de 2012. Já a situação fiscal no Brasil não teve nenhum progresso este mês e profissionais das mesas de câmbio comentam que a partir de segunda-feira, após o segundo turno das eleições municipais, a expectativa é de algum avanço.
A sexta-feira foi novo pregão de liquidez muito fraca no mercado doméstico, por conta da sessão também com poucos negócios hoje nos Estados Unidos, com Wall Street funcionando por horário reduzido e os maiores investidores fora do mercado. O dólar teve um dia volátil, mas oscilando em margens mais estreitas, terminando em queda de 0,18%, aos R$ 5,3256, novamente reflexo do fluxo de entrada. No mercado futuro, o dólar para dezembro, que vence na segunda-feira, dia da tradicional disputa pela definição do referencial Ptax, fechou em alta de 0,13%, a R$ 5,3440.
O analista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), Luis Hurtado, lembra que o dólar chegou a testar os R$ 5,80 na última vez que o governo sinalizou aumento de gastos para programas sociais. Depois a situação se acalmou, com Jair Bolsonaro jogando o tema para depois das eleições. "Esperamos que este risco fiscal permaneça em jogo no restante de 2020", avalia ele. No cenário externo, as notícias positivas sobre as vacinas contra o coronavírus e a definição das eleições americanas favorecem o aumento de posições mais arriscadas na América Latina", ressalta ele.
No exterior, o dólar caiu hoje ante divisas fortes, mas subiu em alguns emergentes pares do Brasil, como o México (+0,30%) e África do Sul (0,31%), mas nos últimos dias a queda foi generalizada. Para os analistas do banco Western Union Adam Ma e Steven Colangelo, o dólar termina a semana acumulando baixa quase que geral, ainda refletindo a busca por ativos de risco desencadeada pelas várias notícias positivas sobre a vacina para a covid, algumas surpreendendo pelo timing.
"A vacina é um estímulo positivo para a demanda global e os preços das commodities", observam os analistas do IIF em relatório. Como reflexo, contribuíram para a valorização nas últimas semanas das moedas de emergentes e exportadores de matérias primas. Mesmo assim, observam que o dólar acumula alta de 33% no Brasil, sendo o real uma das divisas mais desvalorizadas entre as principais emergentes.
Juros
Os juros deram sequência ao movimento dos últimos dias e voltaram a fechar em baixa, pela quarta sessão consecutiva. O noticiário e agenda estiveram mais movimentados pela manhã, mas foi à tarde que os fatores técnicos se impuseram e as taxas renovaram mínimas, atribuídas à aceleração do desmonte de posições tomadas, em boa medida formadas em razão da piora da percepção de risco fiscal nas últimas semanas. O quadro das contas públicas não teve mudanças, mas o mercado parece ter dado novo voto de confiança à equipe econômica, que reagiu às críticas de que o governo estaria parado enquanto o País precisa urgentemente das medidas fiscais. A sinalização dada ontem pelo resultado do leilão do Tesouro foi positiva e ainda repercute sobre a curva, que também tem se beneficiado da demanda de investidores estrangeiros. Os vencimentos de longo prazo foram os que mais caíram na semana, resultando em perda de inclinação.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 voltou a fechar abaixo de 5% pela primeira vez desde o dia 19 (4,98%), aos 4,93% (regular) e 4,94% (estendida), de 5,016% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2022 terminou a regular e a estendida em 3,27% e 3,28%, de 3,315% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 6,825% para 6,70% (regular e estendida). O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 7,49% (regular) e 7,50% (estendida), de 7,604% ontem.
"Temos um contexto levemente mais positivo, embora sem novidades significativas", resumiu o economista-chefe da Infinitu Asset, Jason Vieira, citando como exemplos o câmbio bem comportado e dados econômicos favoráveis esta semana. Hoje, a despeito da abertura vista como ruim, a Pnad Contínua trouxe taxa de desemprego no trimestre até setembro de 14,6%, abaixo da mediana das estimativas (14,8%), na sequência de um saldo positivo do Caged surpreendente ontem, com cerca de 395 mil vagas em outubro. A semana contou ainda com déficit do governo central menor do que o esperado, superávit de conta corrente e arrecadação de receitas acima da mediana das previsões.
Em Brasília, os ruídos políticos diminuíram, com o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, ontem, em entrevista ao Broadcast, tentando desfazer um suposto mal-estar com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O ministro disse que tem "imenso apreço pessoal" e "enorme admiração" pelo presidente do Banco Central e "zero" descontentamento com Campos Neto e, ainda, que ele está fazendo um "belíssimo" trabalho no comando do BC.
Esse contexto, com a ajuda dos investidores estrangeiros que, além de marcarem presença na Bolsa parecem também agora estar buscando a renda fixa, tem se sobreposto aos fatores negativos, como por exemplo a escalada da inflação e a retomada da curva ascendente dos casos de Covid no País. O IGP-M de novembro, que saiu hoje, acelerou a 3,28%, ante mediana de 3,19%, com alta de 24,52% em 12 meses. "Estou impressionado com o janeiro de 2022. Mesmo com o IPCA do jeito que está, os investidores estão 'batendo' (aplicando)", disse um gestor.