PANDEMIA

Pandemia fez modelos de bike sumirem do mapa; lojas do Recife têm lista de espera para comprar

A pandemia provocou um aumento da demanda por bicicletas e por peças usadas nas bikes, ambas com muito componentes feitos na Ásia.

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 18/05/2021 às 12:09
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O equipamento tem projeto pronto desde a gestão do prefeito Geraldo Julio e vai permitir a ligação entre as Zonas Norte e Sul do Recife - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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A necessidade de fazer exercícios ao ar livre, a demanda pelos serviços de entrega e trocar o ônibus por um meio de transporte menos exposto ao coronavírus resultaram num aumento da demanda por bicicletas. E isso ocorreu justamente num momento em que houve uma redução da remessa de alguns produtos importados usados na fabricação das bikes. Resultado: estão faltando bicicletas dos modelos mais caros e até algumas peças para quem deseja fazer uma bike personalizada nas lojas do Grande Recife. E isso está ocorrendo em todo o País.

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"Na segunda-feira (17), apareceram dois clientes querendo comprar modelos mais caros, mas não temos disponível. E não fazemos lista de espera porque o fabricante não dá uma previsão de quando vai chegar. As vendas caíram pelas faltas destas bicicletas e até de peças", comenta o gerente da Recife Bike, Manoel José de Lima. Uma tradicional loja da Avenida Dantas Barreto, no centro do Recife. "A gente pede 30 bicicletas de um modelo, chegam duas", afirma.

Ele cita como exemplo uma bicicleta modelo Ozzi 7.0 que vende por R$ 3.999,00. "Não temos pra entregar",comenta. Até um modelo mais caro que custa em tonro de R$ 15 mil que tinha quatro unidades na loja, só ficou uma. "Esta bicicleta é de trilha e ficou porque é pra uma pessoa que tenha uma altura de mais de 1,85m", conta Manoel. Na loja, estão faltando vários modelos mais caros entre R$ 3 mil e R$ 5 mil e até algumas marcas vendidas para crianças, como a Caloi e Ozzi", comenta.

Manoel afirma que não tem como comparar as vendas do último abril com o mesmo mês deste ano, porque a loja ficou fechada de março a junho do ano passado por causa das restrições provocadas pela pandemia do coronavírus. "Quando reabriu chegamos a vender 50 bicicletas num dia. Parecia supermercado. Agora, houve uma queda nos clientes que compram os modelos mais populares e os que compram os modelos mais caros, muitas vezes, escolhem tipos que não temos para entregar", argumenta.

"A procura aumentou desde o começo da pandemia. As pessoas estão preferindo ir de bicicleta do que de ônibus, porque no transporte público se expõe ao coronavírus", comenta a chefe de frente da loja da Recife Bike, Fabiana Pereira. No Whats App, ela tem uma lista de, pelo menos, oito clientes que estão aguardando aparecer o modelo desejado para efetuarem a compra.

Vendedor de uma loja na Avenida Norte Sávio Lima diz que os modelos mais populares também estão sendo comprados para serem usados por pessoas e empresas que fazem os serviços de delivery e entrega de pequenas mercadorias. "Ninguém quer aglomerar dentro de um ônibus. Se as pessoas tivessem uma estrutura melhor no trabalho, com um bicicletário seguro, um local pra tomar um banho, seriam mais pessoas usando bicicletas", revela. Ainda com relação à infraestrutura, também é pequena a quantidade de ciclovias nas cidades do Grande Recife. "Os modelos mais caros estão em falta desde outubro do ano passado e as populares também não chegam na quantidade pedida", conta. A bicicleta mais cara vendida lá custa R$ 2,8 mil.

O conserto das bicicletas e a manutenção também está em alta, segundo o diretor da Sport Bike de Olinda, Lúcio Apolinário. "Estão faltando algumas peças. Sempre tem alguém procurando os modelos mais caros e sem conseguir comprar, porque não chega", conta.

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Com relação à infraestrutura, também é pequena a quantidade de ciclovias nas cidades do Grande Recife - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

DESABASTECIMENTO

Em abril último, foram produzidas 51.281 bicicletas, volume 11,3% inferior na comparação com as 57.843 unidades registradas no mês de março, segundo informações da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Em relação ao mesmo mês do ano passado, quando a maioria das fabricantes suspendeu suas operações devido à primeira onda do coronavírus na cidade de Manaus, houve alta de 409,2% na produção de bikes. Em abril de 2020, a produção totalizou 10.071 bicicletas. "A falta de insumos que atinge toda a cadeia global de suprimentos é o nosso principal gargalo", explica o vice-presidente do segmento de bicicletas da Abraciclo, Cyro Gazola.

E ele complementa: “A falta de alguns componentes, como sistemas de freios e de transmissões, dificulta a montagem e gera a falta de alguns modelos no mercado. A demanda por bicicletas continua alta e se o abastecimento de peças e componentes for normalizado, a indústria pode crescer acima da expectativa. Para este ano, a produção é estimada em 750.000 unidades, alta de 12,8% na comparação com 2020, quando totalizamos a produção de 665.186 bicicletas. O consumidor quer e aguarda por bicicletas.”

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Com o fechamento das academias de ginástica durante o ano passado por causa das restrições da pandemia, a bicicleta se tornou outra opção de exercício - BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM

O diretor executivo da Aliança Bike, Daniel Guth, afirma que há um descompasso entre a oferta e a procura e que isso ocorre porque mais de 90% dos componentes vem de países como China, Taiwan e Indonésia que não estão dando conta da pressão global por bicicletas. Ele informa que houve ocorreu um aumento de 50% das vendas de bicicletas no Brasil em 2020. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimulou que as pessoas pedalassem – especialmente por ter um baixo risco de contaminação e ser uma atividade que pode ser praticada sem companhia. Também houve o fechamento das academias de ginástica durante o ano passado por causa das restrições da pandemia o que deixou a bicicleta como outra opção de se exercitar.

Para a instituição, os preços dos componentes e bicicletas estão mais altos porque "a matéria-prima dos principais componentes sofreu reajuste tanto pra quem produz os componentes no Brasil quanto pra quem produz na Ásia". Os produtos importados são comprados em dólar que se valorizou muito no ano passado.

Ainda de acordo com Daniel, a expectativa é de que este mercado se normalize até o começo de 2022 já que estão sendo intensificadas relações para atender ao aumento da demanda e alguns fabricantes nacionais também aumentaram a sua produção. 

 

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Em Pernambuco, esse crescimento foi ainda maior: 37%, mas bem menor que muitos outros estados brasileiros - FOTO:FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Recife alcançará 160 km de malha cicloviária em setembro de 2021. Mas foram oito anos para chegar a essa quantidade - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM
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Lula criticou o fato de entregadores não terem férias - FOTO:ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

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