REIVINDICAÇÕES

Afinal, vai ter greve dos caminhoneiros? Saiba tudo sobre a paralisação da categoria

Ministério da Infraestrutura diz que não há registros de retenção em rodovias federais

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Marcelo Aprígio

Publicado em 26/07/2021 às 9:20 | Atualizado em 26/07/2021 às 10:18
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Atualizado em 26.07.21, às 10h18

Desde as primeiras horas da noite desse domingo (25), grupos de caminhoneiros iniciaram atos e cruzaram os braços em diversas partes do país, o que pode sinalizar o início de mais uma greve da categoria. Contudo, ainda não há clareza sobre a possibilidade de a paralisação ganhar corpo nos próximos dias. O movimento é organizado por algumas entidades, como o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC).

Em nota, na semana passada, o Ministério da Infraestrutura (MInfra) disse que CNTRC "não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes".

Apesar da posição da pasta, em Barra Mansa (RJ), caminhoneiros estendem faixas dos atos próximos à rodovia Presidente Dutra e se reúnem em postos de combustível. Nas faixas contam dizeres como "Estamos no limite", pedidos de preço "justo" do diesel e lembretes ao cumprimento da lei 13.703/2018, que institui a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas. Em Natal (RN) também há mobilização de alguns transportadores.

Em Brejo Santo (CE), caminhoneiros colocaram pneus na estrada para sinalizar a parada. Em um grupo de WhatsApp da região, motoristas publicaram vídeos destacando o horário e a data, para sinalizar que são atuais, mostrando a concentração em clima de preparação para a greve. 

Segundo o presidente do CNTRC, Plínio Dias, os caminhoneiros já fazem atos em pelo menos 15 estados, incluindo Paraná, Rio Grande do Sul e Ceará. A declaração foi dada à Folha de S.Paulo. De acordo com o dirigente, os motoristas estacionam seus veículos em postos de combustíveis localizados às margens das rodovias. Eles carregam faixas contra o aumento nos custos de transporte, mas não interrompem o tráfego nas estradas, acrescenta Dias.

Entre as reivindicações dos caminhoneiros estão o fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras para combustíveis, maior fiscalização nas estradas para cumprimento do piso mínimo de frete e a aposentadoria especial para os motoristas a partir de 25 anos de trabalho por envolver atividades insalubres.

Nas redes sociais, o MInfra afirmou que todas as rodovias federais, concedidas ou sob administração do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estão com o livre fluxo de veículos e sem registro de retenção. A pasta disse ainda que durante a madrugada e início da manhã, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou ocorrências às margens de BRs e tentativas de retenção em seis estados. "O volume de ocorrências é 3 vezes menor do que o registrado no mesmo período do dia 01/02/21, data da última tentativa de mobilização."

Categoria dividida

Nos últimos dias, o debate sobre uma eventual greve dividiu motoristas, já que nem todas as organizações que representam a categoria manifestaram apoio ao movimento paredista. Algumas entidades apoiam a interrupção das atividades e já estão organizando a paralisação, enquanto outras são contrárias, e uma terceira parte ainda avalia se vai participar ou não dos atos que tendem a se estender ao longo desta semana.

Entre as entidades que aderiram à paralisação está a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), cujo diretor, Carlos Alberto Litti Dahmer, disse que mantém o apoio ao movimento e orienta seus associados a paralisarem as atividades. "Orientamos que se participe dos atos sendo celetista ou autônomo", afirmou. Segundo Litti, não há previsão de encerramento da paralisação. Ele considera que o término do movimento vai depender das respostas do governo para a categoria.

Do outro lado, a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) informou que reforçou a posição contrária aos atos, apesar de considerar o movimento "justo" e "pertinente". O presidente da associação, Wallace Landim, conhecido como Chorão, afirmou que a entidade não vai participar da paralisação, após decisão tomada em reunião com associados na última quinta-feira (22). Segundo Chorão, existe "grande" descontentamento dentro de todo o segmento, mas não há adesão de 100% da categoria neste momento. "O combustível não é um problema só nosso. Referente a lei 13.703/18 que está vigente, precisamos que a ANTT faça seu trabalho de fiscalização", disse Chorão ao Estadão.

No grupo dos indecisos está o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam). O presidente da entidade, Luciano Santos, afirmou ao Broadcast que o sindicato "não apoia e nem desapoia" a realização dos atos. "Nenhum sindicato ou cooperativa de outra cidade nos procurou para tratar da questão. Na sexta-feira,fomos procurados por alguns motoristas autônomos. Avaliamos as reivindicações e pedimos um prazo até quarta-feira para tomar a decisão", disse Santos.

O que é o PPI?

A categoria deseja o fim do chamado Preço de Paridade de Importação (PPI) no cálculo dos combustíveis vendidos pela Petrobras. Essa política acompanha as variações de preços no mercado internacional e é afetada pelo dólar.

A medida busca manter a petrolífera competitiva perante o mercado, mas pode encarecer os combustíveis e impactar o bolso dos caminhoneiros.

Greve de 2018

Desde que conseguiu emplacar a histórica greve de 2018, caminhoneiros enfrentam discordâncias. Naquele ano, os trabalhadores pararam as estradas por 9 dias e chegaram a erguer pelo menos 557 pontos de bloqueio nas vias.

Houve desabastecimento à época, e 13 aeroportos ficaram sem combustível. Eles conseguiram a redução do preço do diesel em R$ 0,46 na bomba por 60 dias e isenção de cobrança de pedágios por eixo suspenso em todas as rodovias.

Com informações da Folha de S.Paulo e Estadão Conteúdo

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