Crescendo em meio à pandemia, empreendedores dão exemplo de criatividade e resistência
Cerca de 4 milhões de pequenos negócios foram formalizados no ano passado no Brasil, e em Pernambuco o número de novas empresas registradas cresceu 24%
Com informações da Agência Brasil
Suelem Oliveira tem 24 anos de idade, e trabalha desde os 18. Fez curso técnico superior em gastronomia e já atuou em restaurantes e buffets. Quando deixou o emprego, decidiu fazer doces por conta própria mas o negócio não ia bem. "Como eu já gostava da área de beleza e tinha curso de designer de sobrancelhas, decidi seguir por aí", conta ela que começou atendendo em casa.
Com o crescimento da clientela não vacilou e, em 2021, apostou em um espaço próprio. Investiu o único dinheiro que tinha, R$ 600 do Auxílio Emergencial do governo, em uma sala comercial no mesmo bairro onde mora, Ouro Preto, em Olinda. Prestes a completar um ano, o "Suelem Oliveira Studio" faz sucesso. Tem cerca de 120 clientes fixas e já oferece outros serviços como micropigmentação, depilação e massoterapia. "Não penso em ser empregada novamente. Aliás, eu penso é empregar pessoas", diz a microempesária.
FORMALIZAÇÃO
A história de Suelem está se tornando mais comum. A abertura de pequenos negócios no país bateu recorde no ano passado, mostra levantamento divulgado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em 2021, mais de 3,9 milhões de empreendedores formalizaram micro e pequenas empresas ou se registraram como microempreendedores individuais (MEIs).
O número representa crescimento de 19,8% em relação a 2020, quando foram abertos 3,3 milhões de negócios. Em relação a 2018, a expansão chega a 53,9%. Naquele ano, foram criados 2,5 milhões de cadastros nacionais de pessoas jurídicas (CNPJ).
Segundo o Sebrae, ao mesmo tempo que a pandemia forçou muitas pessoas a irem para o empreendedorismo por necessidade, ela também estimulou a busca desse meio de vida por oportunidade. O órgão avalia que a tendência de crescimento continuará nos próximos anos.
PERNAMBUCO
Em Pernambuco também houve expansão dos negócios. No ano de 2021, o total de empresas abertas no estado foi de 123.002, contra 98.652 em 2020, representando um crescimento de 24,6%, segundo dados da Junta Comercial de Pernambuco. “O ano de 2021 foi de retomada da economia e os dados demonstram um novo momento para a classe empresarial pernambucana”, ressaltou Taciana Bravo, presidente da Jucepe.
Pernambuco também registrou aumento no número de empresas fechadas, passando de 31.085 em 2020, para 42.628 em 2021, o que representa um aumento de 37,14% no número de baixas. Mas há também histórias de resiliência. O veterinário Anderson Ramos atua no mercado de pets há 23 anos, e há 15 anos tem a clínica "Bixos", em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Em 2020/2021 passou por sufoco, vendo a clientela cair por conta da pandemia. "Além das pessoas ficarem mais isoladas, o desemprego aumentou muito e com isso as dificuldades financeiras. Enxuguei os custos como pude, foi díficil mas, não fechei as portas e nem demiti ninguém. Hoje vejo que o esforço valeu a pena porque o movimento está voltando", disse Ramos, que têm 18 funcionários.
No geral, Pernambuco terminou 2021 com um total 717.029 empresas em atividade, 112.833 empresas a mais que no último dia de 2020. Os municípios que mais abriram empresas foram Recife (36.038), Jaboatão dos Guararapes (12.025), Olinda (7.657), Petrolina (6.591), Caruaru (6.486) e Paulista (6.370).
Segundo a Jucepe, as atividades empresariais mais registradas foram: comércio de vestuário; promoção de vendas; comércio de cosméticos; atividades de consultoria em gestão empresarial; lanchonetes; comércio de bebidas; produtos de perfumaria e de higiene pessoal; treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial; fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar; cabeleireiros, manicure e pedicure e restaurantes e similares.
TENDÊNCIA
Em 2020, o relatório Monitor do Empreendedorismo Global (Global Entrepreneurship Monitor, em inglês) estimou que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendiam tinham planos de abrir o próprio negócio nos próximos três anos. Desse total, um terço teria a pandemia como principal motivação, mas dois terços têm tendência “natural” para empreender. O relatório foi elaborado pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ).
Suelem Oliveira, empreendedora citada no início dessa reportagem, deixou um recado para quem ainda tem receio de começar um negócio próprio: "É preciso começar com o que se tem. Não dá para ficar esperando ter uma estrutura completa ou muito dinheiro para investir. Depois, é se organizar e ir em frente", resume.