Impactos da guerra

''A guerra bagunçou tudo'', diz presidente da Abrafrutas sobre risco de falta de fertilizantes

No Ministério da Agricultura, a preocupação se dá com a safra de verão, plantada entre setembro e outubro

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Cássio Oliveira

Publicado em 10/03/2022 às 13:48 | Atualizado em 14/03/2022 às 16:51
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Presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho disse que a guerra na Ucrânia "bagunçou" a logística que envolve o mercado de fertilizantes.

O Brasil tem se preocupado com as importações de fertilizantes da Rússia para adubar a produção nacional de soja e outros produtos. Segundo dados de comércio exterior do Ministério da Economia, dos US$ 5,7 bilhões importados no ano passado pelo Brasil, US$ 3,5 bilhões foi de fertilizantes.

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Guilherme Coelho sobre risco da falta de fertilizantes

"Em Moscou, foi importante tratar outros temas, mas tratamos principalmente sobre fertilizantes, foram reuniões boas, sobre nitrogênio, potássio, e transcorreu num clima de cordialidade e eles nos pedindo proteína animal, carne de gado, carne de frango, saímos animados com as reuniões de alto nível. A ministra Tereza Cristina também esteve no Irã conversando para que mandassem mais fertilizantes, é oferta e procura, mas a guerra bagunçou tudo", disse Guilherme Coelho sobre a viagem à Rússia - anterior ao conflito.

O presidente da Abrafrutas destacou a viagem que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que vai ao Canadá em busca de alternativas ao fornecimento russo. Em entrevista coletiva, Tereza disse que esta safra está garantida e que a preocupação é com a de verão, plantada entre setembro e outubro.

"Temos que ficar acompanhando, a grande safra é muito importante e tem maiores volumes de fertilizantes. É safra de milho, soja, algodão, e o país é uma potência nisso. A informação que temos é que esse problema poderá surgir no meio de setembro, na segunda safra, mas entramos em contato com produtores de fertilizantes", disse Guilherme.

A ministra vai ao Canadá, maior exportador de potássio do mundo, para negociar a compra de fertilizantes. Segundo Guilherme Coelho, a proposta do governo brasileiro é tentar abrir novos mercados para não continuar na mão de poucos exportadores. Ou seja, o Brasil deve procurar produtos que não comercializa, hoje, com o Canadá, e buscar novas negociações em troca de uma compra de fertilizante.

Ainda de acordo com Guilherme, os fretes estão cada vez mais caros, os contêineres estão mais caros e há preocupação com uma possível ausência de navios para transporte. Isso preocupa do ponto de vista da logística para a importação. 

Fertilizantes

Na visão de Guilherme Coelho, o Brasil deveria produzir mais fertilizante para diminuir a dependência do mercado externo. "É importante reforçar que o Brasil vinha no caminho até certo para deixar essa total dependência de fertilizante do mundo. Em 2014, fábricas foram feitas em Sergipe, Paraná, Mato Grosso, mas com o petrolão foram paradas e não retomadas. Pagamos preço caro por isso", comentou.

Segundo o presidente, uma fábrica em Três Lagoas (MS) foi comprada por uma empresa russa para a produção de ureia - fertilizante sólido muito utilizado para realizar a adubação de plantas - e faltam licenças ambientais para isso.

Guerra

O presidente Jair Bolsonaro esteve na Rússia pouco antes da guerra estourar. Guilherme Coelho esteve no país e foi questionado na Rádio Jornal se a viagem foi no período correto e se o clima já era de conflito.

"O assunto guerra não era de toda a hora, não era relevante, não era pauta da reunião. Dentro do que teve de conversa com ele (Putin), o presidente Bolsonaro disse que a conversa foi sobre crescimento do agronegócio e sobre mais fertilizantes. Para nós, foi uma surpresa (a guerra), não imaginávamos que iria acontecer", comentou.
 
Exportação

O Brasil exportou US$ 1,6 bilhão para os russos no último ano. Os principais produtos que embarcamos foram soja, frango e café. Quando se analisa a pauta de Pernambuco, percebe-se que a Rússia é importante para polos produtivos relevantes no Estado.

“Em 2021 exportamos US$ 2,7 milhões para o país. Desse total, US$ 1,6 bilhões foram mangas. A pauta também inclui limões e gengibre. Semelhante ao que acontece no Brasil, também compramos mais da Rússia do que vendemos. No ano passado foram R$ 80,6 milhões e, desse total, R$ 32 foram de malte”, detalha o analista de negócios internacionais do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiepe, Vinicius Torres em entrevista recente ao JC.

O Vale do São Francisco, região entre Pernambuco e Bahia, é responsável por 87% da manga exportada pelo Brasil. Ano a ano, as exportações de manga vêm cravando recordes. Em 2021, de acordo com a Abrafrutas, a manga foi a fruta mais vendida lá fora pelo País.

Foram embarcadas cerca de 272,5 mil toneladas de fruta, representando um aumento de 12% em relação aos embarques no mesmo período de 2020. Já o malte é um produto importado para atender ao Cervejeiro de Pernambuco, que conta com fábricas da Ambev, Petrópolis e Heineken, além das cervejarias artesanais.

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