CIDADES

Aniversário de Recife e Olinda: a importância econômica das cidades irmãs que já foram rivais

Recife e Olinda já alternaram o papel de capital de Pernambuco. Cada uma a seu modo mostram sua importância para o estado

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 12/03/2022 às 8:00
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PARABÉNS Nesse 12 de março de 2022, Recife (E) completou 487 anos e Olinda (D) 485 anos de fundação - FOTO: REPRODUÇÃO
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Neste sábado, 12 de março, quando Recife completar 485 anos de fundação e Olinda 487, todas as celebrações irão mencionar a união da duas cidades, já consagradas como "cidades-irmãs" pelos laços históricos e geográficos que as unem.

Vizinhas e, pode-se dizer, complementares, Recife e Olinda são, e sempre foram, diferentes economicamente. A vocação natural das duas cidades já foi alvo de intrigas e até guerra, como conta o historiador Filipe Domingues, analisando o passado colonial das duas cidades. Apesar do Recife ser um porto natural e, portanto, um local mais apropriado para a fundação de uma cidade, os primeiros colonizadores levaram em conta a geografia de Olinda para elegê-la como capital.

DEFESA E COMÉRCIO

"Era a forma portuguesa de fazer cidades. Lembra a Grécia antiga [Acrópole] a cidade alta, como estratégia de defesa. Os principais prédios públicos e templos ficam na parte elevada. A Sé de Olinda era a sede do governo, onde ficava o palácio de Duarte Coelho [donatário da capitania de Pernambuco e fundador de Olinda] e era conhecida como Nova Lisboa", explica o historiador.

Já Recife era apenas o porto mas, com a chegada dos holandeses [em 1630] e a visão deles das "terras baixas" Olinda foi destruída e Recife transformada em "capital" do governo holandês; a "cidade Maurícia" em alusão ao Conde Mauricio de Nassau, que governou a capitania durante 7 anos, dos 24 anos que durou a ocupação holandesa. "A invasão de Pernambuco se deu pela Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa holandesa que, pela sua natureza de exploração comercial, precisava ficar perto dos navios. Com Nassau, a cidade teve um grande desenvolvimento e Recife se tornou um pólo comercial importante. Mas quando os holandeses foram expulsos [1654] a capital voltou a ser Olinda", diz Filipe.

TENDÊNCIA

Essa vocação comercial do Recife permanece até hoje, diz o historiador; não à toa a capital possui muitos shoppings e galerias, mas no século 18, uma guerra entre Recife e Olinda, a Guerra dos Mascates, dividiu duas classes. "Os recifenses chamavam os senhores de engenho falidos de Olinda de pé-rapado [em alusão a um ferro que havia na entrada das igrejas para limpeza dos sapatos. Como os pobres andavam a pé ficaram conhecidos como pé-rapados]. Já os senhores de engenho chamavam os comerciantes do Recife de Mascates, uma espécie de camelô. "Na guerra dos mascates, o Recife vence, e volta a ser a capital de Pernambuco. As cidades hoje irmãs já foram rivais", lembra Filipe Domingues.

CONTEMPORÂNEO

Dando um salto no tempo e olhando para os números do PIB dos dois municípios, levantados pela  Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), é possível ver que a realidade econômica do Recife e de Olinda são bem diferentes. Como os dados econômicos municipais só são consolidados a cada dois anos, os números mais atuais dizem respeito à 2019.

Recife ainda tem uma indústria forte, com valor adicionado bruto em 2019 de R$ 5,471 bilhões,. Naquele ano o município participou com 16,40% da indústria do estado, com as principais atividades, em ordem de importância, na construção civil e indústria de transformação, segundo o Condepe/Fidem.

Comércio e serviços, no entanto, são os grandes impulsionadores da capital. O valor adicionado bruto dos Serviços em 2019 foi de R$ 40,270 bilhões, fazendo com que o Recife participasse com 31,45% dos serviços do estado. As principais atividades em ordem de importância, em 2019, foram o comércio e intermediação financeira.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Recife em 2019 foi de R$ 54,691 bilhões. O município participou com 27,64% do Produto Interno Bruto estadual.

OLINDA

Já Olinda tem no setor de serviços sua maior vocação. O valor adicionado bruto dos Serviços em 2019 foi da ordem de R$ 4,457 bilhões, ou 3,48% dos serviços do estado. As principais atividades em ordem de importância, segundo o Condepe/Fidem, foram em 2019 comércio e saúde privada.

O Produto Interno Bruto de Olinda em 2019 registrou R$ 5,775 bilhões, com o município participando com 2,92% do Produto Interno Bruto estadual.

Para Rodolfo Guimarães Silva, gerente geral de estudos e pesquisas sócio econômicas da agência Condepe/Fidem, a própria constituição geográfica das duas cidades determinou a vocação econômica delas. "Olinda tem uma área territorial pequena, cerca de 40 km², e praticamente não tem área rural, o que impede o desenvolvimento da agricultura e da indústria", resume Rodolfo. Já o Recife, por ser a capital, naturalmente apresenta um desenvolvimento maior. "Recife sempre foi forte no comércio, mas já teve uma época voltada para a indústria, entre os anos 50 e 70, quando tínhamos aqui a Cilpe [estatal de processamento de Leite no bairro dos Coelhos] e empresas têxteis como o Cotonifício da Torre [no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife]", relembra Rodolfo Guimarães.

Hoje, a capital se destaca pelos serviços, com o setor de tecnologia de informação ganhando destaque, junto com a construção civil. "O setor de tecnologia é praticamente imune às crises porque tudo depende de tecnologia ultimamente e a construção civil, apesar dos altos e baixos, é bastante resiliente", afirma o pesquisador. Já Olinda, que vem recebendo investimetos em serviços médicos e no comércio, tem o desafio de incrementar o turismo além do Carnaval, e se vender como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, título que possui desde 1982. "O turista está mais voltado para a beleza natural, por isso ele chega em Pernambuco e vai para o litoral. O turismo de Olinda, fora o Carnaval, é mais de negócios, são os congressos, a própria Fenearte, mas Olinda é cultura e história o ano todo", diz o historiador Filipe Domingues. 

 

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