Empreendedorismo

Dia das Mães: o difícil equilíbrio entre os negócios e a maternidade

Cresce o número de mães e mulheres em geral como empreendedoras. Além da capacidade empreendedora delas, também pesa a dificuldade de conseguir emprego formal no mercado de trabalho

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Adriana Guarda

Publicado em 08/05/2022 às 8:00 | Atualizado em 08/05/2022 às 16:31
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É no terraço da sua casa, no Alto da Conquista, no Recife, onde está montado o ateliê da empreendedora Maria de Jesus Conceição de Melo, 42 anos. Da máquina de costura, sob uma mesinha de madeira, saem toucas, turbantes, pompons e fronhas comercializados por ela no Instagram (@ateliemaosdefadajesus) e em feirinhas locais. Mãe de Arthur, 13 anos, e Maria Valentina, 4 anos, Maria de Jesus se divide entre a maternidade e o universo dos negócios. Entre tantas reflexões, a celebração do Dia das Mães neste domingo (8) levanta a discussão sobre o empreendedorismo materno e feminino em geral. Quem são essas mães que estão em busca de ter o próprio negócio, quais são suas aspirações e perspectivas? 

No caso de Maria de Jesus, o negócio de costura de acessórios significou deixar de ser dona de casa para se transformar em empreendedora e contribuir para reforçar o orçamento da família. Antes, todas as despesas eram bancadas apenas pelo marido de Maria, que é motorista de aplicativo. Para mudar de patamar, estudou o mercado e fez curso no Sebrae Pernambuco, que lançou em 2021 o programa "Sebrae Delas —Desenvolvendo Empreendedoras & Líderes Apaixonadas pelo Sucesso". Maria José costura há bastante tempo, mas o dom só virou negócio há 5 anos, com a buscar por profissionalização e a capacidade de alavancagem da redes sociais. 

"O Instagram ajuda bastante, não não é só isso. Com o boca-a-boca, acabei sendo convidada para participar de feiras nos bairros e hoje meus principais canais de comercialização estão nessas duas frentes. Hoje me divido entre a atenção aos meus dois filhos e a produção. Nós mulheres tempos vantagem de sermos mais flexíveis. O homem é direto e objetivo e nós se não conseguimos algo temos a inteligência de buscar aquele mesmo objetivo por outros caminhos, de outro jeito", afirma. 

Quando comenta as desvantagens do mundo do empreendedorismo para as mulheres e as mães, Maria de Jesus diz que apesar dos avanços, a maternidade ainda é vista com preconceito. "Muitas vezes desacreditam a mulher e o fato de ser mãe é considerado como um problema tanto no mercado de trabalho quanto no universo do empreendedorismo", lamenta.  

Pandemia expôs peso do gênero 

Os dois anos mais críticos de pandemia da covid-19 mostrou a maior vulnerabilidade da mulher no mercado de trabalho, em relação aos homens. Elas foram as primeiras a serem demitidas e as últimas a serem recontratadas. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que dos 26,3 milhões de postos de trabalho perdidos por mulheres na América Latina e Caribe em 2020, no momento mais crítico da pandemia; 4,2 milhões não tinham sido recuperados até o final do ano passado. Já no caso dos homens, dos 26 milhões de postos perdidos, quase 100% foram recuperados.  

Outro levantamento também mostra a desigualdade que persiste entre homens e mulheres, quando o assunto é o tempo dedicado às tarefas de casa. De acordo com o estudo Estatísticas de Gênero - Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil divulgado pelo IBGE no ano passado, o tempo dedicado pelas mulheres nos cuidados com a casa é de 21,4 horas por semana, contra 11 dos homens. 

Diante dessas dificuldades têm surgido grupos de mulheres nas redes sociais para impulsionar a comercialização de produtos e serviços de mães e mulheres em geral, com o surgimento de iniciativas como Compre de uma mãe, Compre de uma mãe preta, Rede de Mulher Empreendedora e outros. 

Sebrae tem um programa feito para elas

Do ponto de vista da formação empreendedora, o Sebrae que acompanha de perto o desempenho feminino nos negócios criou um projeto exclusivo para elas com o objetivo de torná-lo mais competitivo. Intitulado Sebrae Delas —Desenvolvendo Empreendedoras & Líderes Apaixonadas pelo Sucesso, a iniciativa aposta em diversas ações para incentivar, apoiar e fortalecer a cultura empreendedora entre as mulheres.

O acompanhamento dos negócios se dá por meio de realização e de apoio a diversos eventos para incentivar a conexão entre mulheres e seus negócios, divulgar produtos e serviços feitos por empresárias pernambucanas e promover parcerias. A iniciativa tem o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e de negócios liderados por mulheres, ao valorizar competências, comportamentos e habilidades dessas mulheres. O Sebrae Delas foi criado no ano passado e vem crescendo. Varios conteúdos estão diponíveis para as empreendedoras, incluído artigos e e-books. 

Comportamento dos negócios femininos

Depois da pandemia, o empreendedorismo feminino no Brasil começa a apresentar sinais de recuperação. Após recuar para um total de 8,6 milhões de donas de negócio, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres à frente de um negócio no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões (mesmo resultado alcançado no último trimestre de 2019). É o que mostra um estudo do Sebrae feito a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (PNADC).

Apesar dessa evolução, a participação das mulheres empreendedoras no universo de donos de negócio no Brasil (34%), ainda está abaixo da melhor marca histórica, registrada no 4º trimestre de 2019, quando elas representavam 34,8% do total. Mesmo a média história é equivalente a um terço contra dois terços dos homens. 

O levantamento mostra que a participação feminina entre os donos de negócios empregadores também continua abaixo do período pré-crise. No final de 2019, havia 1,3 milhão de donas de empresas que contratavam empregados (o que representava 13,6% do total das Donas de Negócio). Já no final do ano passado, esse número havia recuado para 1,1 milhão (11,4% do universo).

Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, as mulheres empreendedoras sofreram mais que os homens as perdas causadas pela crise pandêmica. “Empresas lideradas por mulheres tiveram um impacto maior em termos de redução de empreendedoras em atividade e uma recuperação mais lenta que a verificada entre os negócios dirigidos por homens. Uma das explicações para esse fato está na nossa cultura, onde elas acabam tendo de dividir seu tempo entre a gestão da empresa e os cuidados com a família. Com as medidas de isolamento social, muitas empresárias tiveram de encerrar suas atividades ou reduzir a operação do negócio para dedicarem mais horas aos filhos e idosos”, comenta.

Apesar das dificuldades, as mulheres se mostram capazes de trabalhar ou empreender e ainda manter a qualidade da maternidade. A busca é por apoio para desenvolver tantas tarefas, como leis que entendam as necessidades das mães/mulheres, incentivo à produção, acesso a crédito, qualificação e outras oportunidades. Assim, elas farão ainda mais a diferença. 

 

 

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