Prefeitura renova promessa de grande mudança na orla de Boa Viagem para o Recife voltar a ser referência no turismo de lazer
Os rumos do turismo na capital pernambucana ganharam ainda mais questionamentos após a morte de um visitante alemão, vítima de um latrocínio à luz do dia no Centro da cidade
Quem busca pelo Recife em sites de turismo ou agências de viagens que não sejam locais comumente escuta algo como: “É lá onde fica Porto de Galinhas, Muro Alto ou até mesmo a Praia de Carneiros”. Os destinos paradisíacos estão a quilômetros de distância da capital, mas o detalhe é que, com um centro degradado e praias urbanas com pouca infraestrutura e serviços, a cidade só tem conseguido ser vendida em combos com destinos mais desejados. Sob o comando de João Campos (PSB), após dois anos de investimentos escassos, a atual gestão ainda quer tentar virar essa página.
A secretaria de Turismo do Recife tem como meta fazer com que turistas permaneçam mais tempo na cidade e, para isso, conta com a chegada de investimento privado, sobretudo no centro histórico, nos próximos dois anos, ao mesmo tempo que tem o desafio de, no mesmo período, dar andamento à prometida transformação da orla de Boa Viagem e do Pina.
Leia nesta matéria:
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Qual o objetivo da prefeitura do Recife no turismo
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O que pode mudar na orla de Boa Viagem
Os rumos do turismo na capital pernambucana ganharam ainda mais questionamentos após a morte de um visitante alemão, vítima de um latrocínio à luz do dia no Centro da cidade, numa área de pujança comercial e de referências arquitetônicas e religiosas. O Centro da cidade e a orla são os grandes cartões-postais, mas ambos sofrem com atos de vandalismo, insegurança e falta de infraestrutura. Então como pensar numa cidade que pode receber mais turistas e manter a estada deles por mais tempo?
A secretária de Turismo do Recife, Pâmela Alves, diz que o foco da gestão é tentar resolver isso: “Historicamente, a gente sempre trabalhou aqui no Recife com média de permanência de três dias dos turistas, hoje trabalhamos com cinco dias, no pós-pandemia. A gente não trabalha hoje para captar quantidade de turistas, mas para aumentar o tempo de permanência do turista aqui na cidade”, atesta.
Ela emenda que em relação a turismo de eventos e corporativo, a cidade está “muito bem”, e espera a consolidação de investimentos privados que devem trazer maior atrativo sobretudo para o Centro da cidade.
“Nossos hotéis estão bem e preparados. Temos dois grandes equipamentos muito bons, centro de convenções e geraldão, que é um complexo multiuso; e a entrega agora nos próximos dois anos, dos três hotéis no Centro da cidade, que um deles vai ser um centro de convenções também. Recife vai ser extremamente competitivo e agressivo no que se refere ao turismo de eventos e corporativo, salienta.
Qual o objetivo da prefeitura do Recife no turismo
Tendo, sob a ótica da gestão, o segmento consolidado, o principal desafio está no turismo de lazer, que tem perdido espaço na capital.
“A gente vem investindo muito para trazer esse turismo. Com relação a outros destinos que são próximos, são excelentes e conseguem captar, com Porto de Galinhas e Maragogi, e a gente vem aproveitando a estratégia para fazer em conjunto. Com Porto de Galinhas, lançamos um pacote combinado, que passa dias no Recife e passa dias em Porto de Galinhas, e assim trabalhamos também com outros destinos, não no sentido de concorrência, mas de colaboração”, garante Pâmela.
Apesar do trabalho em conjunto, a capital tem ficado atrás de outras cidades do Estado, como Ipojuca, e grandes centros do Nordeste, como Salvador e Fortaleza. Na pesquisa de sondagem feita pelo Ministério do Turismo entre os meses de junho e julho deste ano, apesar de 45% da demanda de clientes de agências e operadoras de turismo ser por sol e praia, Recife aparece apenas como o 10º destino, atrás de Fortaleza (2º), Maceió (3º), Natal (4º); Ipojuca (8º) e Salvador (9º).
“Recife tem um grande potencial gastronômico e as praias, que é um desafio para gente e estamos trabalhando, porque Boa Viagem é própria para o banho nas áreas sinalizadas, temos formação de piscinas naturais, temos trabalhado nisso, porque o turista que vem ao Nordeste procura praia, e a nossa em diversos pontos é própria para o banho [...] então, estamos trabalhando muito no que se refere a nossas praias”, diz a secretária.
Apesar do apelo natural, ainda falta bastante infraestrutura na praia de Boa Viagem. Excetuando-se o período natalino, com atrações no Segundo Jardim, e as atividades comerciais e turísticas na Pracinha de Boa Viagem, a orla não possui mais nenhum atrativo aos turistas, sobretudo no que diz respeito ao período da noite e dias de semana, que costumam ter movimentação turística na alta temporada.
O que pode mudar na orla de Boa Viagem
Em 2024, ano em que João Campos (PSB) deve buscar a reeleição para o cargo de prefeito, vão ser comemorados os 100 anos do início das obras da avenida, na gestão Sérgio Loreto, em 1924.
O atual prefeito já prometeu que após a entrega dos quiosques, que só têm previsão para primeiro semestre de 2023, mais equipamentos esportivos, mais iluminação pública e até mais espaços de contemplação, até com a remota possibilidade da convivência de bares e restaurantes mais próximos à praia. Mas tudo isso conta com o tempo como fator negativo, já que nos últimos dois anos, além da austeridade pregada pelo prefeito, a pandemia atrapalhou qualquer planejamento.
“A gente está trabalhando nisso, no projeto da orla, pensando em como tornar mais atrativa para o lazer em outros períodos, não só para o turista, mas para o cidadão recifense. Tem um esboço, mas isso está sendo discutido com mais profundidade. A ideia é ter mais programação, com pontos mais atrativos para um lazer à noite. Tudo sendo pensado com muito cuidado, porque a orla já tem uma dinâmica e não queremos romper com nada. Estamos discutindo com a sociedade, vai ter novas rodadas de discussão, para não ser nada que seja agressivo ou impacte a comunidade", adianta Pâmela, sem mais detalhes ou qualquer prazo.
A gestão diz que já tem investido na segurança da orla, com videomonitoramento, guarda municipal e Polícia Militar. Além de buscar promover mais comércio e serviços alimentícios na região. Do que saiu do papel em relação à infraestrutura, consta apenas a entrega de metade dos quiosques revitalizados prometidos, cujos permissionários já contabilizaram prejuízos com furtos. Ao todo, foram prometidos 60 quiosques revitalizados, ao custo de R$ 10,2 milhões. O projeto tem uma das marcas do déficit de movimentação turística, já que não conseguiu atrair nenhuma empresa privada para patrocínio.
O JC já constatou também que nos mais de 7 quilômetros da orla de Boa Viagem e do Pina, há dez banheiros, com quase 800 metros separando um do outro, a situação dos equipamentos é precária. A Prefeitura do Recife alegou ter reformado, neste ano, todos os banheiros sob o investimento de R$ 113 mil.