Prestes a completar 4 anos na diretoria regional do Senai Pernambuco, em junho, Camila Barreto aproveita os 80 anos de comemoração da instituição para refletir sobre o futuro da indústria e o desenvolvimento de Pernambuco. Entusiasta do setor, ela veio da Fiepe para experimentar no Senai o desafio de qualificar pessoas, atender as necessidades da indústria e acompanhar o ritmo acelerado do avanço tecnológico na atividade. Dentro da instituição, também percebeu sua potência na transformação da vida das pessoas mais pobres do Estado. Jovens e adultos que fazem de uma oportunidade a chance de reescrever a história de suas famílias. Nesta entrevista ao JC, ela comentou sobre a história do Senai, as mudanças ao longo do tempo, os desafios e projetos para o futuro.
JORNAL DO COMMERCIO - A indústria em Pernambuco passou por uma série de transformações, sobretudo nas últimas duas décadas. Como o Senai vem acompanhando essas mudanças?
CAMILA BARRETO - O Senai em Pernambuco foi fundado, em 16 de abril de 1943, para trabalhar especificamente a formação de mão-de-obra para indústria. Naquela época, a primeira escola a entrar em operação foi a de Areias e tinha cursos como solda, torneiro mecânico e outros. Você via a capacitação técnica que era necessária àquela época. De lá para cá, os cursos foram evoluindo para se adequar à indústria. Hoje o Senai trabalha com cursos ´técnicos de automação e mecatrônica, embora ainda tenha cursos como mecânica e eletrotécnica.
JC - Que novos cursos estão sendo oferecidos?
CAMILA - Os cursos de energias renováveis estão entre os novos. Toda a parte de instalação de placas solares, como faz a manutenção. Outra área importante é a da Tecnologia da Informação, que é uma necessidade atual. A gente trabalha treinando desenvolvedores para atuar na indústria, com desenvolvimento de sistema em TI. Com essa renovação dos cursos se percebe a evolução no portfólio de educação, mas também estamos apostando em tecnologia, inovação e consultoria.
JC - Na área de inovação, de onde tem partido as iniciativas para apoiar as indústrias e garantir competitividade ao setor?
CAMILA - No ano em que comemora-se os 80 anos do Senai, também celebra-se os 10 anos do Instituto Senai de Inovação (ISI). O Senai foi fundado para trabalhar a educação técnica para indústria e foi acompanhando esse desenvolvimento. Depois enveredou para a área de tecnologia. Então, a gente atua com consultoria para ajudar na produtividade, com metodologia lean manufacturing e com consultoria para realizar transformação energética na indústria e buscar redução de custo.
JC - Um dos diferenciais do Senai é trabalhar com pesquisa aplicada. De que maneira acontece essa interação com a indústria?
CAMILA - Além dos cinco laboratórios de metrologia, instalados em Araripina, Petrolina e três em Paulista, que fazem ensaios de água, de ar, de procesimentos da construção civil, do gesso e do setor de alimentação, também temos o Instituto Senai de Inovação (ISI), trabalhando com pesquisa aplicada. Os projetos de inovação que trabalhamos para as indústrias vão virar protótipos e produtos. Então eu sempre brinco que, para o Senai, projeto de inovação é nota fiscal. Não são estudos de inovação ou projetos que não terão uma aplicação.
JC - A celebração dos 80 anos do Senai também vai marcar a inauguração do Observatório da Indústria. Que serviços o espaço vai oferecer ao setor?
CAMILA - O Observatório é uma área, uma inteligência. O espaço já tem acesso a mais de 100 bases de informação oficiais e a ideia é que ele gere informação e inteligência para a indústria. Temos uma equipe disciplinar ali na Observatório, olhando tendências e fazendo estudos prospectivos.
JC - O Senai teve uma participação importante na qualificação profissional para atender as indústrias que se instalaram na época do 'boom' de empreendimentos em Suape. Qual a importância do Complexo Industrial Portuário para a instituição atualmente?
CAMILA - O Polo Industrial de Suape foi e continua sendo importante para nós. Em Ipojuca inauguramos uma escola, que no final teve apoio da Petrobras, forma mão-de-obra para os segmento de plástico, segurança do trabalho e gestão em TI.
JC - Em Suape também existem parcerias em novas áreas de interesse da indústria.
CAMILA - Isso. Estamos montando um cluster industrial de inovação em Suape, que será dividido em três etapas. A primeira etapa, o Tech Hub de hidrogênio Verde já iniciou. Vamos construir uma área de teste para estudar o hidrogênio Verde: qual é a melhor forma de produção do hidrogênio, observando o custo e tudo o que envolve a produção.
JC - O Senai tem um papel importante na qualificação de pessoas de baixa renda no Brasil. Qual a participação da gratuidade nos recursos que são destinados pela indústria à instituição?
CAMILA - Mais da metade da nossa formação é gratuita. De todo o recurso que a gente recebe da indústria, 70% é revertido para a gratuidade. São pessoas de baixa renda, que mudam de vida depois da opertunidade de qualificação. Escutamos histórias de jovens envolvidos com drogas ou em situação de vulnerabilidade social que chegam no Senai conseguem um emprego e mudam a vida.
JC - E quais são os desafios do Senai para os próximos anos?
CAMILA - Estar sempre se atualizando, principalmente na parte tecnológica, porque hoje a tecnologia se modifica num piscar de olhos. Então o desafio, de fato, é que a gente consiga se atualizar tecnologicamente para dar o suporte que a indústria pernambucana precisa para crescer.
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