Repercussão

Fala do governador Romeu Zema demonstra desconhecimento das desigualdades regionais no País

Com infraestrutura mais precária, mão de obra menos escolarizada e mercado consumidor menor, Nordeste conquistou fundo que vai substituir politica de incentivos fiscais na reforma tributária

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 07/08/2023 às 17:25 | Atualizado em 07/08/2023 às 17:59
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Consórcio Nordeste tem demonstrado força e chama atenção do governador de Minas Gerais, Romeu Zema - FOTO: Divulgação

Virou polêmica nacional a entrevista que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), concedeu ao jornal Estadão, no último sábado (5). Na longa conversa com os jornalistas, Zema politizou o tema das desigualdades regionais e criticou o que ele considera 'vantagens concedidas às regiões Norte e Nordeste'. 

O governador mineiro defendeu o protagonismo do Sul e Sudeste, alegando que as regiões representam 56% da população e 70% da economia brasileira, mas teriam menos poder de decisão. Zuma adiantou que o Consórcio Sul-Sudeste (Cossud) será fortalecido e que agora é presidida pelo governador do Paraná, Ratinho Junior. A entidade vai fazer frente ao Consórcio Nordeste. 

A principal preocupação de Zema no momento é com a votação da Reforma Tributária no Senado. Em uma perspectiva de futuro, a necessidade é mirar as eleições presidenciais de 2026 e a articulação de um bom nome entre a direita do País.

FIM DA GUERRA FISCAL

No campo econômico, o governador mineiro está preocupado com o fim da guerra fiscal, que terá se encerrará com a aprovação da reforma tributária. A proposta aprovada cria dois fundos: um para pagar, até 2032, pelas isenções fiscais do ICMS concedidas no âmbito da chamada guerra fiscal entre os estados; e outro para reduzir desigualdades regionais.

Esses fundos receberão recursos federais, aos valores atuais, de cerca de R$ 240 bilhões ao longo de oito anos e orçados por fora dos limites de gastos previstos no arcabouço fiscal (PLP 93/23). O Norte e Nordeste, com menor oferta de infraestrutura, mão de obra menos qualificada e menor mercado consumidor serão os principais beneficiários dos fundos. 

"Por ter conhecido o governador Zema e seu temperamento não acredito que sua fala foi contra o Nordeste, já que 250 dos municípios de Minas, de um total de 843, são beneficiados com os recursos da Sudene, oriundos de incentivos fiscais. Mas é certo que Zema, se consolidar sua intenção de ser candidato a presidente, precisará aprofundar a sua percepção das realidades e diferenças regionais", diz o Presidente do Sistema LIDE Pernambuco, Drayton Nejaim.

Drayton também comenta a articulação política do Nordeste e a relação do PIB. "A mensagem que me passou foi que o governador de Minas Gerais reconhece que a articulação e união do Norte-Nordeste trouxe ganhos importantes de espaço e poder. Ao citar a equivalência de forças à proporcionalidade da população não tem nada errado. Seria errado se falasse da proporcionalidade em relação ao PIB. Ele está no direito de dizer que os estados do Sul e Sudeste recebem muito menos de retorno da união do que geram de impostos federais", complementa.

O JC procurou a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) para comentar o tema, mas a assessoria de comunicação informou que o presidente estava em viagem e não conseguiria atender. 

POBREZA AQUI E LÁ

Na entrevista ao Estadão, o governador de Minas criticou a criação de um fundo para reduzir as desigualdades regionais no âmbito da reforma tributária. "Está sendo criando um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade...Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais", questionou.

O governador só esqueceu de citar o tamanho da desigualdade regional. Todas as regiões do Brasil sofrem com a pobreza e merecem atenção, mas o Norte e o Nordeste sofrem com os piores indicadores. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar da Rede Pensan mostra que 9,9% das famílias do Sul passam fome, enquanto no Sudeste são 13,1%. No Norte e Nordeste esses percentuais dobram. No Norte, 25,7% das famílias não têm o que comer e no Nordeste de famílias sem comida no prato é de 21%.  

A diferença também aparece quando o assunto é o PIB. O Sudeste responde por 51,9% do PIB nacional, seguido por 17,2% do Norte, 14,2% do Nordeste, 9,9% do Centro-Oeste e 6,3% do Norte. 

 

 

 

 

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