Crise Argentina

Pernambuco pode ser impactado pelo 'efeito Milei' na Argentina. País é o principal parceiro comercial do Estado

Em 2022, a Argentina representava 17,5% das exportações pernambucanas, mas entre janeiro e julho deste ano as vendas externas caíram dois pontos percentuais, passando para 15,4%

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Adriana Guarda

Publicado em 15/08/2023 às 19:51 | Atualizado em 15/08/2023 às 20:10
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O desempenho inesperado de Javier Milei nas Eleições Primárias da Argentina no domingo (13), aparecendo em primeiro lugar na corrida presidencial, com quase 30% dos votos, joga a economia do país em um novo ciclo de deterioração. Intitulando-se um candidato 'anarcocapitalista', Milei se aproxima das ideologias de Jair Bolsonaro e Donald Trump. O primeiro turno das eleições só acontece no dia 22 de outubro, mas o resultado das Primárias fez o dólar disparar e a taxa de juros subir, causando incertezas no mercado. 

Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos, a Argentina é um importante comprador da indústria brasileira. Setores como eletrodomésticos da linha branca e calçados, além de automóveis e autopeças já vinham sofrendo com a queda nas exportaçãoes para o país vizinho, mas a tendência é piorar. Exportadores temem um avanço da queda nos envios ao longo dos próximos meses, pelo menos até dezembro, quando os argentinos decidirão quem será o novo presidente. 

Na segunda (14), logo em seguida ao resultado das Eleições Primárias, o dólar "Blue"(referência para o dia a dia) teve alta de 15%, chegando a 695 pesos. A nova taxa de câmbio para importar bens também aumentou, passando de 309 para 376 pesos e encarecendo as exportações para o país. Enquanto o candidato de ultradireita falou dos planos de acabar com o Banco Central e dolarizar a economia, um dia após as eleições, o BC argentino decidiu subir a taxa básica de juros em 21 pontos, chegando a 118% ao ano. 

O receio é que o acirramento da crise argentina aumente a onda de pobreza que se percebe ao longo dos últimos Nos últimos 10 anos, a taxa de pobreza na Argentina subiu 15 pontos percentuais. Com isso, 4 a cada 10 argentinos estão nesta condição. É a mesma proporção do Nordeste brasileiro, onde vive a população mais pobre do País. Dos 45 milhões de argentinos, 19,7 milhões estão nesta condição. 

 

Divulgação/Jeep Italiana
A Jeep Italiana está nos últimos dias de condições imperdíveis. - Divulgação/Jeep Italiana

PERNAMBUCO E ARGENTINA

Assim como a deterioração da economia argentina poderá impactar o Brasil como um todo, também terá efeitos maiores ou menores sobre os Estados. No caso de Pernambuco, a Argentina é a maior parceira comercial, embora essa participação venha caindo ao longo dos últimos anos, graças às constantes crises no país vizinho. Em 2022, a Argentina representava 17,5% das exportações pernambucanas, mas entre janeiro e julho deste ano caíram dois pontos percentuais, passando para 15,4%. 

Ao longo deste ano, de janeiro a julho, as exportações de Pernambuco para a Argentina caíram 36,7%. Quando se compara os valores exportados há uma queda expressiva de US$ 293 milhões para US$ 186 milhões. Os produtos mais afetados são a resina PET (de US$ 49 milhões para US$ 15 milhões), automóveis (de US$ 159 milhões para US$ 112 milhões) e acumuladores elétricos (de US$ 33 milhões para US$ 23 milhões). A Stellantis, que mantém um polo automotivo no Estado vem relocando parte da prdução para outros países da América do Sul, como o Chile.

Em relação às importações, a situação é de estabilidade, com uma discreta queda. As compras do país somaram US$ 469 milhões em 2022 contra US$ 490 milhões em 2023 (de janeiro a julho). Automóveis dominaram a pauta (US$ 230 milhões), seguidos de trigo (US$ 79 milhões) e outros propanos liquefeitos (US$ 66 milhões).

 

THIAGO CAVALCANTI/PORTO DE GALINHAS CONVENTION BUREAU
Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco - THIAGO CAVALCANTI/PORTO DE GALINHAS CONVENTION BUREAU
 

No turismo, de acordo com dados da Empetur, os argentinos estão no TOP 10 entre os visitantes estrangeiros que desembarcam em Pernambuco.  Em 2022, o Estado recebeu um total de 125.757 turistas nacionais e 23.561 estrangeiros. Do número de estrangeiros, os argentinos ficaram em 10º lugar, totalizando 352 visitantes do país vizinho. A praia de Porto de Galinhas e o arquipélago de Fernando de Noronha são destinos procurados pelos turistas estrangeiros. 


 

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