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O avanço das cooperativas de crédito

Uma delas - o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) - figura entre as dez maiores instituições financeiras do País em volume de ativos, à frente de bancos tradicionais

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Estadão Conteúdo

Publicado em 03/09/2023 às 22:23
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As cooperativas de crédito já estão presentes com agências físicas na Avenida Paulista e na região da Faria Lima, principal centro financeiro do País. Participam também do projeto do Drex, a futura versão digital do Real. E uma delas - o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) - figura entre as dez maiores instituições financeiras do País em volume de ativos, à frente de bancos tradicionais. Segundo analistas, o avanço do volume de depósitos aportados nessas instituições sinaliza que elas começam a competir mais diretamente com os bancos.

Dados do Banco Central mostram que, em março, as cooperativas detinham 6,9% dos R$ 4,8 trilhões em depósitos em instituições financeiras - essa fatia era de 2,88% em março de 2014. Ainda estão distantes dos bancos - que têm 88,95% dos depósitos -, mas ostentam um crescimento constante nos últimos dez anos. As cooperativas também já concentram mais recursos do que a soma dos depósitos mantidos em outros tipos de participantes do sistema financeiro nacional - como as instituições de pagamento, categoria em que se enquadram as fintechs -, com fatia de 4,15%

Para os especialistas, alguns fatores explicam esse crescimento. O primeiro é a presença física: desde 2019, o segmento abriu 2,3 mil agências no País (passando de 6.054 para 8.343), enquanto que os bancos fecharam 2,7 mil (de 19.964 para 17.215). Um segundo fator, derivado do primeiro, foi a migração de profissionais dos bancos para as cooperativas de crédito.

"Vimos ainda correntistas saindo de banco e indo para as cooperativas, e esse movimento leva a um aumento do apetite de crédito", diz o diretor sênior de instituições financeiras da agência de classificação de risco Fitch, Claudio Gallina. "O apetite mudou, e o cliente começa a ver benefícios, como o crédito relativamente mais barato que nos bancos."

MODELO DIFERENTE

Nas cooperativas de crédito, o cliente é, na verdade, um cooperado, que faz uma contribuição financeira ao entrar, geralmente de valor simbólico. Ao final de cada exercício financeiro, o resultado é dividido entre eles. "As cooperativas, diferentemente de fintechs e bancos, não visam o lucro, porque o cliente é também o dono", diz o diretor da coordenação sistêmica e relações institucionais do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Ênio Meinen, observando que os recursos arrecadados por uma cooperativa devem ser aplicados na mesma região.

As "centrais" - sistemas como o Sicoob e a Sicredi - reúnem uma série de cooperativas locais. No Sicoob, são 339, enquanto que no Sicredi, que em ativos é o maior sistema do País, são 105. "Cada cooperativa pode estar em vários municípios, embora, no nosso caso, uma não concorra com a outra. Elas têm regiões de atuação bem delimitadas", diz o diretor de administração do Sicredi, Alexandre Barbosa.

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Depois de décadas dedicadas quase que exclusivamente aos produtores rurais, as cooperativas de crédito estão hoje nas grandes cidades e capitais, facilitando o acesso de novos clientes, o que agora inclui também as pequenas empresas. E esse maior fluxo de associados, muitos deles vindos de bancos tradicionais, também fez crescer a prateleira de produtos dessas instituições, aproximando as opções às oferecidas pelos bancos.

"Cooperativa tem depósito a prazo, letras de crédito do agronegócio, imobiliárias. Como operam com crédito imobiliário e empréstimos rurais, geram lastro para esse tipo de ativo", diz o diretor da coordenação sistêmica e relações institucionais do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Ênio Meinen. "O associado pode concentrar todas as suas atividades financeiras em uma cooperativa."

Como não têm o lucro como finalidade, as cooperativas são isentas de tributos sobre os seus resultados, diferentemente dos bancos, o que favorece a estrutura de capital e ajuda na expansão das operações. "Elas pagam menos impostos comparadas aos bancos, e isso permite que tenham um capital mais robusto", diz o diretor de bancos e instituições financeiras não bancárias da Fitch, Jean Lopes.

MODELO DE NEGÓCIO

Segundo Lopes, embora o sistema ainda seja concentrado a expansão das cooperativas de crédito chama atenção justamente pelo modelo de negócio. "Quando dois players com um modelo de negócio diferente começam a aparecer entre os maiores, isso tem um efeito. Os bancos hoje estão olhando para as cooperativas como um concorrente bem forte", diz.

Alexandre Barbosa, diretor de administração do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), afirma que um dos segmentos em que os sistemas têm atuação mais forte é o de micro e pequenas empresas (MPEs). Em julho, o Sicredi chegou a 1 milhão de associados pessoas jurídicas, sendo que 73% deles eram MPEs, e 22%, microempreendedores individuais. "A grande diferença é o fomento, a oportunidade que damos para que empresas menores passem a ter crédito, o que alavanca os municípios."

Em março deste ano, o Sicredi tinha uma carteira de crédito de R$ 179,8 bilhões, alta de 25,8% em um ano. No Sicoob, o dado publicado mais recente é o de dezembro de 2022, com carteira de R$ 140,6 bilhões, alta de 22,4% em um ano.

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