BC acredita que Pix reduzirá fraude bancária atacando contas fantasmas
Campos Neto disse que há um esforço para reduzir o número de fraudes envolvendo a ferramenta
O Pix, em tese, tende a diminuir as fraudes no sistema bancário, mas para isso é preciso limitar o número de contas fantasmas, afirmou nesta segunda-feira (4) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. "Se, em tese, não existisse nenhuma conta de aluguel ou fantasma e alguém fizesse uma fraude, o Pix teria que ser transferido para uma conta identificável ou rastreável", argumentou.
Campos Neto disse que há um esforço para reduzir o número de fraudes envolvendo a ferramenta e que um primeiro passo é mudar a forma como os bancos abrem conta, que classificou como muito fácil.
O presidente do BC ressaltou, porém, que avanços já ocorreram nesse sentido, e que o processo de abertura de contas "melhorou muito". "Criamos um conjunto de regras nas quais os bancos precisarão ser mais responsáveis na abertura", emendou.
AMPLIAÇÃO DO PIX
Em relatório divulgado nesta segunda, o BC diz que há possibilidade de “estabelecer regras padronizadas que viabilizem a utilização de mecanismos de garantia vinculados às transações de pagamento, possibilitando que o Pix seja utilizado para pagamentos a prazo ou parcelados, mitigando o risco de crédito do recebedor em eventuais situações de inadimplência do pagador”.
“Há, por exemplo, soluções que vinculam uma concessão de crédito pessoal à transação Pix e soluções que permitem o pagamento de uma transação Pix na fatura do cartão de crédito”.
A ideia do Banco Central é ampliar o uso do Pix integrado a outros meios de pagamentos utilizados hoje, sendo implementado para pagamento de transporte público e estacionamentos, por exemplo.
MOEDAS DIGITAIS
Para Campos Neto, mesmo que as moedas digitais carreguem um "estigma" por causa de problemas neste mercado, há uma procura por transformar ativos em representações digitais - a chamada tokenização.
"Vemos onda dos NFTs; as coisas subiram, caíram. Os investidores em criptomoedas, também subiu, caiu. Vejo em reuniões com outros banqueiros centrais que se criou um certo estigma", relacionado principalmente ao desempenho destes ativos, disse Campos Neto.
Ele ressaltou, porém, que em dado momento o desempenho das criptomoedas caminhou lado a lado com o de ações das empresas do setor de tecnologia, e que o algoritmo de funcionamento da Terra, uma das criptomoedas que afundaram ao longo de 2022, era muito parecido com o usado para montar fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês), indicando o estigma estava mal colocado.
"Há um estigma, mas a grande pergunta é: o que as pessoas estão querendo? Estão procurando forma de colocar representação digital em ativos tanto financeiros quanto físicos", disse o presidente do BC. "O debate é: a gente está migrando para o mundo da tokenização."
Campos Neto afirmou que, três anos atrás, esperava que esse processo fosse acontecer numa velocidade maior, e que o progresso nesta área foi prejudicado por problemas em grandes plataformas ligadas à tecnologia de digitalização de ativos. "Houve algumas plataformas grandes de tecnologia que transgrediram um pouco a barreira do que era seguro fazer", comentou. "Foram dois problemas: a grande concentração de custódia e ser custodiante e emissor ao mesmo tempo", avaliou. "Quando olhamos problemas do passado, foi exatamente vindo destas duas transgressões. Muita concentração e quando mistura trabalho de corretora e custodiante com emissor e trader", concluiu.
Campos Neto participou de palestra no Brazil Payments Forum, promovido pelo Banco J.P. Morgan, em São Paulo.