Tecon terá redução de 50% nas tarifas com novo contrato e aumentará movimentação de Suape, diz presidente
Nos 45 anos do Complexo Industrial Portuário de Suape, o presidente do Tecon, Javier Ramirez, comenta a importância que o terminal de contêineres teve na consolidação do porto-indústria e discute o futuro do empreendimento
O executivo argentino Javier Ramirez vive em Pernambuco há 6 anos, desde que assumiu a presidência do Terminal de Contêineres de Suape (Tecon Suape). Na fala, mantém o sotaque da sua terra natal, intercalando expressões pernambucanas incorporadas aqui. Nos negócios, toca a rotina do Tecon, um dos protagonistas da história do Complexo Industrial Portuário de Suape. Na última terça-feira (7), o porto completou 45 anos, prospectando o futuro.
Operando no Estado desde 2001, o terminal controlado pelo grupo filipino ICTSI, faz parte da história do porto há mais de duas décadas, contribuindo para consolidadar seu desenvolvimento. Durante esses 20 anos, o Tecon movimentou mais de 8 milhões de contêineres, representando mais de 50% do faturamento anual do Porto de Suape.
Depois de passar pela pandemia da covid-19, que diminuiu a movimentação de cargas de longo curso (importações e exportações) no porto, o Tecon vai enfrentar a concorrência de um segundo terminal de contêiners. Implementado pelo APM Terminals, subsidiária do Grupo A. P. Moller - Maersk, de origem dinamarquesa, o empreendimento privado vai disputar espaço com o Tecon.
Em entrevista ao JC, Ramirez comentou a importância do Tecon na trajetória de Suape, a disputa com o segundo terminal de contêineres e a rediscussão do contrato de arrendamento com o porto que, segundo ele, poderá tornar o empreendimento mais efiiente, com uma queda de até 50% nas tarifas.
JORNAL DO COMMERCIO - O Tecon fez uma aposta em Suape numa época em que o porto ainda não tinha recebido os grandes empreendimentos que hoje estão lá. O que motivou a decisão do grupo á mais de duas décadas?
JAVIER RAMIREZ - Não foi à toa. Eu não quero parecer vaidoso, mas o complexo como um todo não poderia ter o desenvolvimento que está tendo, sem o Porto e sem o Tecon. Um terminal de contêiner, por definição, é um gerardor e um multiplicador da economia. Atrai uma atividade que não pode faltar: a indústria. Se não existisse o Tecon, Suape não desenvolveria deste jeito. Suape como complexo é um enorme gerador de outros empreendimentos e catalizador de grande parte da economia de Pernambuco. E nós estamos inseridos neste cenário.
JC - Qual o tamanho do Tecon hoje dentro de Suape, do ponto de vista de movimentação de cargas, geração de empregos e investimentos?
RAMIREZ - Geramos 500 empregos diretos e outros 2 mil indiretos. A movimentação do Tecon representa cerca de 50% do faturamento de Suape. Hoje operamos aquém da nossa capacidade, que está perto de 720 mil TEUs, mas devemos alcançar 500 mil este ano. O importante de tudo isso é que, rapidamente, o terminal pode se converter e ampliar para 1,2 milhão de TEUs, mas a gente não se denvolve porque não tem demanda. Esta é a verdade. Uma companhia que tem um efeito multiplicador muito grande na geração de trabalho, mas que a falta de demanda não nos permite ampliar.
JC - Há anos se fala na repactuação do contrato de arrendamento do Tecon com o governo de Pernambuco. O modelo negociado no início dos anos 2000, com a obrigação de dobrar o valor pago ao porto a cada 10 anos, teria onerado a operação e tornado a tarifa uma das mais caras do mundo. Qual o status dessa negociação?
RAMIREZ - Em dezembro de 2017, o Tecon pediu a repactuação e percorreu todas as etapas necessárias. Em 2021, nosso pedido foi aprovado pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), mas até aquele momento todos os portos estavam centralizados em Brasília (por conta da Nova Lei dos Portos). Em 2022, o governo de Pernambuco conseguiu retomar a delegação e a autonomia de Suape. Esse processo nos pegou no meio da repactuação do contrato e acabou atrasando. Agora, a finalização está na mão do governo do Estado.
JC - O senhor acredita que a assinatura de um novo contrato ainda acontece este ano?
RAMIREZ - Estamos conversando com o governo e é muito importante para todo mundo que essa reapctuação aconteça, porque além de permitir a ampliação da nossa capacidade, vai permitir promover um importante investimento em infraestrutura, possibilitar maior competitividade em função da redução de tarifa e proteger a receita do Porto de Suape. É uma negociação ganha-ganha e eu estou otimista porque o senso comum diz que essa assinatura deve acontecer.
JC - Qual a alteração sugerida pelo Tecon no contrato assinado em 2001?
RAMIREZ - O contrato completou dois gatilhos, com a dobrada do valor a cada 10 anos. Nós já passamos por um desses gatilhos. O segundo gatilho é que estamos solicitando para não acontecer. E por que estamos solicitando isto? Porque no momento em que arrematamos o terminal existia um estudo de projeção da movimentação de carga que nunca se consolidou.
JC - Qual é o reajuste ou outro tipo de correção no valor do novo contrato, que o Tecon está propondo ao governo de Pernambuco?
RAMIREZ - Hoje contribuímos com mais de R$ 200 milhões por ano com Pernambuco e a proposta é aumentar em 10%. Para comparar, o terminal de Salvador repassa R$ 50 milhões por ano ao governo da Bahia. Um contrato sempre se assina com boa fé. Foi o que o Tecon e o nosso parceiro, o governo do Estado, assinou. Mas não se pode controlar o que vai acontecer no mercado e passamos por muitos momentos.
JC - Com a repactuação do contrato, qual a previsão de redução na tarifa do Tecon?
RAMIREZ - A tarifa seria reduzida em 50%. Não em todos os tráficos, mas nos mais importantes. É uma redução significativa. O Estado vai receber mais. Deixa de esperar uma receita futura, projetada há mais de 20 anos, para ter um ganho real. Do lado do Tecon, aumentamos nossa capacidade e competitividade. E para isso, vamos invertir cerca de R$ 200 milhões em novos equipamentos entregues ao Porto ao final da concessão (2031).
JC - Se o mercado não tem demanda para o Tecon alcançar o topo de sua capacidade de 720 mil TEUs, na avaliação do senhor, porque o governo de Pernambuco está atraindo um segundo terminal para Suape?
RAMIREZ - Não há concorrência, porque não há demanda. O próprio governo do Estado suspendeu, em 2018, a licitação do Tecon 2 por falta de demanda. É um pouco difícil de entender, porque não existe um estudo de demanda que comprove a necessidade de outro empreendimento. Além disso, o novo terminal vai operar com ampla vantagem (por ser privado). Até agora, o empreendimento também não percorreu as etapas legais. Eles não vão pagar arrendamento e terão tarifas muitos menores. E quem pode garantir que terão tarifas menores? Eles precisam pagar seu próprio investimento. Para essa operação, o governo terá que fazer uma grande obra de dragagem e ainda não é possível ter a clareza dos impactos ambientais.
JC - O Tecon Suape ainda vai questionar judicialmente a chegada de um segundo terminal?
RAMIREZ - Nós temos uma opinião e essa opinião será levada aos organismos pertinentes, juridicamente. Temos o dereito de sermos ouvidos.