DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Na luta por cargos de liderança, mulheres buscam o comando do próprio negócio

Em paralelo às dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado de trabalho, gerir o próprio negócio tem sido um desafio cada vez mais aceito por elas

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JC

Publicado em 07/03/2024 às 20:08 | Atualizado em 07/03/2024 às 20:09
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O mercado de trabalho é muito competitivo e, nem sempre, justo. Para as mulheres, apesar dos avanços, há ainda um longo caminho a ser trilhado em busca da equidade. Neste dia Internacional da Mulher, elas ainda encontram empecilhos para conquistarem altos cargos no universo corporativo, mas também, ao mesmo tempo, a força feminina tem protagonizado uma alavancagem no empreendedorismo, confirmando a relevância e capacidade para os postos de liderança.

Levantamento da Onlinecurriculo, plataforma de currículos online, buscou trazer um panorama atualizado da presença feminina no mercado de trabalho. O estudo levou em consideração respostas de pessoas de todas as idades, classes sociais e regiões do Brasil. Em relação às posições de liderança, no entanto, mesmo afirmando aceitar o desafio, 32% das entrevistadas dizem que não se sentem totalmente capacitadas para os cargos; 17% se sentem capacitadas, mas não confiantes, e 9% não se sentem capacitadas e não teriam confiança de assumir a responsabilidade.

Os dados refletem alguns aspectos sociais que por muito tempo colocaram em dúvida a capacidade das mulheres em relação aos homens para desempenhar atividades de liderança e poder. Muitas mulheres, mesmo sendo muito capacitadas, acabam duvidando do seu potencial, o que interfere na segurança para aceitar novos desafios. Mesmo que o cenário venha mudando, uma disparidade ainda pode ser percebida para a questão em relação aos homens. Para a mesma pergunta, 84% dos homens afirmam que estariam confiantes para enfrentar o desafio da liderança, enquanto apenas 5% não se sentem capacitados e nem confiantes.

Esse é um dos aspectos sociais que dificultam a escalada feminina no mercado de trabalho. Mas não é o único. Em relação à forma como as equipes são formadas dentro das empresas, pode-se perceber uma tendência de que mulheres são mais contratadas em instituições nas quais os times são compostos por mais mulheres, enquanto homens têm inclinação a contratar mais homens.

MULHERES ABREM ESPAÇO PARA MULHERES

Quando perguntadas sobre a composição dos times dentro das empresas em que atuam, 36% das entrevistadas afirmaram que as equipes das quais fazem parte são formadas por mais mulheres; 27% por mais homens, e 37% por equipes com número semelhante de homens e mulheres.

Já para os respondentes masculinos, apenas 16% disseram que os times das empresas que trabalham são compostos principalmente por mulheres, enquanto 41% são formados essencialmente por homens. Outros 43% dos entrevistados indicaram que as equipes têm um número semelhante de homens e mulheres.

Em relação aos cargos de liderança, por mais que cada vez se veja mais mulheres em posições de liderança, também existe uma relação acerca da composição dos times dentro das empresas, e instituições que possuem mais mulheres em suas equipes tendem a ter um número mais expressivo de lideranças femininas. 15% das entrevistadas mulheres indicaram que todos os cargos de liderança das empresas que trabalham são compostos por mulheres; 27% têm grande parte formados por mulheres; 20% têm cargos de liderança ocupados igualmente por mulheres e homens, e 4% não possuem mulheres nas lideranças.

Enquanto isso, para os respondentes homens, 10% trabalham em empresas em que todas as lideranças são femininas; 23% estão em instituições em que grande parte dos cargos de poder são femininos; 30% indicaram que as empresas em que atuam possuem cargos de liderança compostos igualmente por mulheres e homens, e 9% disseram que não existem mulheres em cargos de liderança.

A Onlinecurriculo ouviu 500 pessoas de diversos segmentos produtivos, faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Mulheres e homens foram entrevistados individualmente, respondendo as perguntas através de questionário estruturado em formato online. 

SAÍDA PELO EMPREENDEDORISMO

Em paralelo às dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado de trabalho, gerir o próprio negócio tem sido um desafio aceito por elas numa vertical de crescimento acelerado. 

Nunca tantas mulheres empreenderam no Brasil. De acordo com um levantamento realizado pelo Sebrae, com base em dados do IBGE, em todo o País já são 10,34 milhões de mulheres liderando negócios, o que representa 34,4% dos empreendedores brasileiros.

Considerando Pernambuco, a proporção de mulheres em relação ao total de empreendedores é de 30% - o que representa 376 mil empreendedoras no Estado, a maior parte delas de microempreendedores individuais (MEIs) ou à frente de Pequenas e Médias Empresas (MPEs).

Para Wellington Silva, diretor executivo da Central Sicredi Nordeste, a tendência de expansão no número de negócios chefiados por mulheres tende a se intensificar nos próximos anos e de forma ainda mais estruturada. 

“O crescimento contínuo no número de empreendimentos liderados por mulheres reflete um ambiente propício para a expansão da participação feminina no cenário empreendedor. O Sicredi, como promotor do empreendedorismo, apoia e incentiva ativamente essa tendência e está confiante de que tais avanços contribuirão significativamente para um futuro mais inclusivo e dinâmico no empreendedorismo, especialmente no Nordeste”, afirma Wellington.

MULHERES NO COMANDO

Mesmo com este cenário sofrendo mudanças significativas ultimamente - somente no Brasil, o número de empresas abertas por mulheres cresceu 30% entre os anos de 2021 e 2022, segundo dados do Sebrae – certos estigmas ainda existem e são um obstáculo a mais para o empreendedorismo feminino.

Kathia Alves, fundadora e CEO da VIP Solutions, empresa especializada em soluções de telefonia em nuvem, passou por situações embaraçosas até se impor como executiva na área de telecom. “Como CEO de uma empresa do setor dominado por homens, enfrentei desafios significativos, incluindo o viés de gênero que dificultava o meu acesso a redes de relacionamentos, grupos de negócios e recursos”, afirma. Segundo ela, a preocupação com a forma de falar e de se comportar era constante para evitar que houvesse margem para alguma interpretação errada.

Já Flavia Mardegan, especialista em vendas e fundadora da Mardegan Transformation and Results, consultoria focada em ajudar empreendedores e gestores a aumentarem os seus resultados comerciais, não titubeia quando questionada sobre ter sofrido algum tipo de preconceito em sua jornada profissional. “Muitos! Eu me formei e comecei a trabalhar muito nova. Sofri preconceitos de várias formas: por ser jovem, o cliente tinha receio de entregar um projeto alto na mão de uma ‘menina’; e por trabalhar numa área comercial majoritariamente composta por homens. Eu era a única mulher de uma equipe de seis pessoas”, conta.

'NEGÓCIOS DE MULHERES'

Sebrae apontam também alguns elementos que retratam bem o cenário empreendedor no País. Por exemplo, as mulheres abrem negócios na mesma proporção que os homens e, normalmente, são mais escolarizadas. Porém, quando se trata de incentivos no núcleo familiar, 68% dos homens afirmam receber apoio de companheiros contra 61% das mulheres. Quando o assunto é preconceito de gênero, cerca de 25% das empreendedoras já sofreram preconceito em seus negócios por serem mulheres. Além disso, 42% já presenciaram outra mulher passando pelo mesmo problema.

 

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