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Em nova crise, Prates não participa da reunião de conselho da Petrobras

A reunião do conselho foi convocada após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir ao colegiado para calcular o quanto seria possível pagar aos acionistas

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Estadão Conteúdo

Publicado em 05/04/2024 às 20:55
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O embate entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em torno do comando da estatal, chegou a um ponto de quase ebulição esta semana. Mas essa não é uma briga que começou agora. Silveira e Prates vêm divergindo praticamente desde a montagem do governo. A seguir, quatro vezes em que as diferenças entre os dois se tornaram públicas.

A reunião do conselho foi convocada após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir ao colegiado para calcular o quanto seria possível pagar aos acionistas - incluindo a União -, mas sem comprometer a execução do plano de investimentos da estatal, como antecipou a Coluna do Estadão.

Após analisar esses números, o presidente poderá orientar os conselheiros ligados ao governo a votar pela distribuição extraordinária de dividendos. O tema tem de passar também por assembleia geral de acionistas - a próxima está marcada para o dia 25 deste mês.

O capítulo mais recente dessa crise foi entrevista dada por Silveira ao jornal Folha de S.Paulo, em que comenta sua relação com Prates e diz que o presidente da Petrobras provocou "barulho" ao se abster na votação sobre a distribuição de dividendos ocorrida em março. Como resultado, em Brasília diversos nomes começaram a circular para o lugar de Prates - entre eles, o do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

DECISÃO DE LULA

A decisão final cabe a Lula, que já chegou a sondar Mercadante sobre a troca de posto. Como informou o Estadão, Mercadante respondeu que aceitaria a mudança se Prates sair mesmo da estatal.

Ontem, uma nova costura para a crise apareceu nos meios políticos: Mercadante poderia assumir a direção do conselho de administração da Petrobras, em tese com a função de mediar conflitos entre a diretoria e demais integrantes indicados pelo governo. Já Prates cuidaria do operacional da companhia - e mantendo uma das cadeiras no conselho.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, afirmou que todas as saídas apontadas para a crise terão de passar necessariamente por Lula - que passou os últimos dois dias fora de Brasília, com agendas em Pernambuco e no Ceará. "Eu acho que qualquer afirmação que possa ser feita em uma ou outra direção é muito mais especulação e chute do que propriamente baseada em elementos concretos e objetivos", disse ele, em entrevista à GloboNews. "Acho que a melhor receita é ter cautela, tranquilidade e aguardar."

Os atritos entre Prates e Silveira contados em quatro episódios

1. Paridade de importação - Em abril do ano passado, Silveira chamou o preço de paridade de importação (PPI, que leva em conta o preço internacional do petróleo) de "absurdo", e disse que já havia determinado "mudanças". Apesar de concordar com a alteração no PPI, Prates se mantinha discreto sobre o tema e aguardava a mudança no conselho de administração da empresa para discutir o assunto.

2. Política para o gás natural - Na metade de 2023, Silveira fez críticas à política de reinjeção de gás em reservatórios de petróleo para aumentar a pressão interna e facilitar a produção de óleo. O ministro disse que Prates estava sendo "no mínimo negligente" com relação ao gás. Prates rebateu dias depois. "Se não tem gás para todos os segmentos, vamos trabalhar o mix (de oferta de energia) em vez de criar polêmica onde não existe".

3. Redução no preço dos combustíveis - Em novembro, Silveira cobrou Prates, em uma entrevista à GloboNews, por uma redução mais expressiva no preço dos combustíveis por conta da queda no preço internacional do petróleo. Prates rebateu, dizendo Lula nunca havia pedido a ele para baixar ou aumentar o preço de combustíveis.

4. Distribuição de dividendos extraordinários - No mês passado, a Petrobras anunciou que iria reter dividendos extraordinários de mais de R$ 40 bilhões. O mercado esperava que esses dividendos fossem distribuídos, e isso provocou uma crise que levou à perda de R$ 50 bilhões em valor de mercado da estatal em apenas um dia. A decisão foi tomada pelo conselho de administração, no qual o governo tem maioria. Prates, que defendia reter metade dos dividendos e distribuir a outra metade, se absteve de votar. Silveira o acusou de ficar ao lado dos executivos da companhia, em vez de se posicionar com o governo. No centro de uma crise política que pode custar o seu cargo, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, não participou ontem de reunião extraordinária do conselho de administração da empresa. Como justificativa, a própria companhia afirmou que Prates estava ocupado com outras reuniões. O assunto em pauta foi a distribuição de R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários da empresa - um dos vários pontos de divergência entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

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