Desigualdade

Renda não é a única causa da insegurança alimentar que afeta mulheres negras chefes de família, revela estudo

Pesquisa Caminhos da Alimentação alerta que falta de acesso a renda, rede de apoio e oportunidade no mercado de trabalho expõem famílias chefiadas por mulheres negras à fome

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JC

Publicado em 08/04/2024 às 16:46
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A desigualdade de renda é uma das principais causas da insegurança alimentar no Brasil, mas não é a única. Fatores como a sobrecarga de trabalho e a falta de acesso a creches também influenciam na fome que ronda os lares liderados por mulheres negras. Esse é um dos achados da pesquisa Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras, realizada pela Gênero e Número, em parceria com a FIAN Brasil e com o apoio do Instituto Ibirapitanga.

Conceição Mendes, 42 anos, é uma das mulheres negras chefes de família acompanhadas pelo projeto Caminhos da Alimentação. Sua única renda são R$ 700 do Bolsa Família. Desse valor, ela usa R$ 150 para pagar a parcela da casa onde mora e mais R$ 135 para comprar fraldas e remédios para dois de seus três filhos, de quem cuida sozinha. O que sobra é destinado à compra de alimentos - em sua maioria ultraprocessados - na barraquinha próxima a sua casa.

“Ainda que famílias chefiadas por mulheres negras do Nordeste sejam as principais impactadas pela insegurança alimentar, a região tem uma cultura alimentar rica em alimentos in natura ou minimamente processados, que compõem a maior parte da cesta (55%), enquanto alimentos ultraprocessados a menor (14%). Nosso objetivo é compreender como essa variedade contrasta com um imaginário social fora do Nordeste, que associa a região à fome e à pobreza”, Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto.

OBSERVAÇÃO DAS FAMÍLIAS

Lançado em março de 2024, Caminhos da Alimentação é um projeto que acompanhou a rotina de quatro mulheres negras chefes de família de Pernambuco para retratar as complexidades que influenciam o que chega à mesa delas, que representam o maior grupo demográfico do Brasil.

O cotidiano alimentar e de vida delas foi transformado em dados, que revelam que a segurança e a insegurança alimentar entre as mulheres negras envolve diversos fatores sociais, como sobreposição de jornadas de trabalho, renda, acesso a transporte e saúde.

“A partir do levantamento e da análise de grandes e pequenas bases de dados, entrevistas com especialistas e das histórias de Gercina, Claudecir, Conceição e Lindalva, queremos posicionar as mulheres negras nordestinas no centro do debate pelo acesso à comida de verdade. Buscamos humanizar esses dados e reforçar a importância que a perspectiva de gênero, raça e território não deve ser um recorte, mas a base das políticas públicas de combate à fome no nosso País”, destaca Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto

MAIS DA METADE COM FOME

Em Pernambuco, 55%, ou seja, mais da metade das famílias chefiadas por mulheres negras sofrem com a insegurança alimentar, de acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiares publicada pelo IBGE (2017/2018).

A Gênero e Número é uma associação de mídia independente que produz, analisa e dissemina dados especializados em gênero, raça e sexualidade em diferentes formatos. Com linguagem gráfica, conteúdo audiovisual, pesquisas, relatórios e reportagens multimídia, informa uma audiência interessada no assunto para impulsionar o debate sobre equidade e embasar discursos de mudança.

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