Sobram empregos em cidade pernambucana. Veja onde é e por que isso está acontecendo

Oportunidades de trabalho formal, com carteira assinada, salário pago de forma regular e garantia de direitos não têm sido forte atrativo

Publicado em 03/08/2024 às 9:32 | Atualizado em 03/08/2024 às 9:55

No clima semiárido do Agreste pernambucano, as oportunidades florescem, mas não têm dado frutos. Na região, onde está concentrado o Polo de Confecções do Estado, responsável por movimentar cerca de 5% do PIB de Pernambuco, o crescimento da atividade econômica e dos empregos formais é comemorado, mas ao mesmo tempo, assustado empreendedores e empresários que vislumbram uma grande dificuldade para alavancar os negócios: a falta de mão de obra qualificada. A situação é espelhada em Santa Cruz do Capibaribe, considerada a ‘cidade-mãe’ do polo têxtil.

Por lá, as oportunidades de trabalho formal, com carteira assinada, ou seja, salário pago de forma regular e garantia de direitos trabalhistas, não é mais um forte atrativo para a geração de renda - o que impacta diretamente no desenvolvimento não só da confecção, mas de diversos negócios na cidade que convivem com uma sobra de vagas e escassez de trabalhadores.

Muito emprego, pouca mão de obra

Não é incomum circular informações sobre o subemprego nas cidades do Polo Têxtil, com grandes jornadas de trabalho, informalidade e baixa remuneração. Mas não é esse o caso. As empresas de Santa Cruz do Capibaribe têm relatado a falta de mão de obra para postos qualificados e em vagas não só na confecção. Falta gente capacitada, falta interesse em trabalhar no mercado formal e sobram outras opções para fazer renda, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas do município.

“É fundamental prover uma estrutura de capacitação, a escola do Senai encerrou as atividades em Santa Cruz do Capibaribe, e isso prejudicou muito o município. Investimentos em educação profissional são vitais para o nosso real desenvolvimento. Temos hoje muita gente de outras regiões trabalhando aqui, assim como uma cultura empreendedora muito forte, que faz com que muita gente queira começar o seu próprio negócio. Acho que a principal razão para a situação que vivemos hoje é o grande número de empresas que temos”, resume o presidente da CDL de Santa Cruz, Bruno Bezerra.

Só no Moda Center (estrutura privada) e Calçadão (estrutura pública) estão reunidas 14.000 empresas em Santa Cruz do Capibaribe. Em sua maioria comércios, que empregam, em média, no mínimo de três a quatro pessoas. Uma amostragem feita pela CDL com 139 empresas revelou que 100% delas estão com dificuldades para contratar funcionários. Quando questionados se a contratação de mão de obra está muito difícil, a percepção é confirmada por 94% desses negócios. Mesmo para posições que não requerem experiência ou qualificação prévia, a situação não melhora substancialmente. Cerca de 78% das empresas ainda consideram muito difícil encontrar esses colaboradores, com 21% indicando uma leve redução na dificuldade e apenas 1% afirmando não ter problemas.

A economia pujante da cidade, convive com o baixo índice de formação profissional. Em Santa Cruz do Capibaribe, o PIB que era de R$ 680 milhões em 2002 chegou a R$ 1,55 bilhão em 2020, segundo recorte da Ceplan e Fecomércio com base em dados do IBGE. Em Santa Cruz do Capibaribe, 30% dos negócios estão no ramo têxtil, ultrapassando 4,5 mil pessoas empregadas. A números de 2020, o crescimento do emprego formal nessa cadeia, no entanto, era de 8,5%. Parece muito, mas em Toritama, município vizinho, o mesmo segmento avançou mais de 30% no mercado de trabalho formal. No segmento têxtil Santa Cruz do Capibaribe retém 41% dos seus empregos formais, com mais de 6 mil vagas. Mas agora luta para fazer crescer esse número.

“A percepção de mudanças, mentalidade estratégica e alta adaptabilidade serão determinantes nesse momento para as empresas no que diz respeito a pessoas”, reforça Madellon Leite, que é educadora corporativa e vice-presidente da CDL Santa Cruz do Capibaribe. Ela sugere que, a partir do contexto de cada empresa, estratégias importantes sejam traçadas para atrair e manter talentos. Assim como seja priorizado o “desenvolvimento profissional, benefícios reais, validação e oportunidades de crescimento”.

As dificuldades para contratação

As dificuldades do mercado formal em Santa Cruz foram elencadas pelos próprios empresários ouvidos pela CDL. Os problemas resumem-se ao número elevado de empresas na região supera a disponibilidade de mão de obra qualificada; percepção de que os jovens não estão suficientemente engajados em estudar e se qualificar; desafios em conciliar horários de trabalho com os horários de creches e escolas; a escassez de estruturas adequadas para capacitação agrava a situação; preferência pelo trabalho autônomo e até mesmo a garantia de renda através de programas sociais como o Bolsa Família.

Com apenas cerca de um quinto da força de trabalho ocupada com ensino médio completo, Santa Cruz se desafia a conviver com uma taxa de informalidade que beira os 80%. Sem qualificação, os postos formais seguem sendo mais difíceis de serem ocupados. E as oportunidades de crescimento parecem continuar a se perder na cidade. A escola técnica do Senai, que seria o grande propulsor da formação técnica e profissional da população, é outra queixa do empresariado local. A unidade abriu em 2016, mas já fechou as portas no município, deixando para trás a possibilidade de garantir a formação periódica de cerca de 200 alunos em oitos cursos de Formação Técnica de Nível Médio e Qualificação Profissional Básica. Procurado, o Senai não justificou o encerramento das atividades, mas disse manter unidades mais próximas em Caruaru e Belo Jardim. 

Esses alunos e tantas outras pessoas com algum grau de qualificação poderiam virar vendedores, costureiros, gerentes, secretários, estoquistas, caixas, motoristas, professores, profissionais para acabamento de confecções, estampadores e operadores de máquina de bordar - algumas das oportunidades mais demandas na cidade e que, segundo os empresários, seguem em aberto pelo apagão de mão de obra.

VAGAS DE EMPREGO MAIS REQUISITADAS EM SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE:

  • 1 - Vendedor
  • 2 - Costureira
  • 3 - Gerente
  • 4 - Secretária
  • 5 - Estoquista
  • 6 - Caixa
  • 7 - Auxiliar de produção
  • 8 - Serviços gerais
  • 9 - Motorista
  • 10 - Garçom
  • 11 - Auxiliar de cozinha (restaurantes, bares e lanchonetes)
  • 12 - Cortador/enfestador
  • 13 - Auxiliar de escritório (administrativo, contabilidade, arquitetura)
  • 14 - Diarista
  • 15 - Pedreiro
  • 16 - Professor
  • 17 - Profissional para acabamento em confecção
  • 18 - Estampador
  • 19 - Servente de pedreiro
  • 20 - Operador de máquina de bordar

 

 

 

Tags

Autor