Desafios do Recife: capital pernambucana precisa conciliar ações públicas e privadas para se manter atrativa ao turismo
Capital pernambucana precisa acelerar ações de revitalização e zeladorias de pontos turísticos, além de dar prosseguimento à nova orla da cidade
Cidade litorânea, de efervescência cultural e referências históricas, o Recife ainda vive o desafio de potencializar seus aspectos turísticos e tornar a cidade atrativa e capaz de garantir a permanência dos visitantes durante o ano inteiro. Apesar da beleza arquitetônica e natural, sem investimentos em infraestrutura e melhoria de serviços, o próximo prefeito da capital poderá conviver com a manutenção da mais antiga capital do Nordeste apenas como um ponto de referência em relação a outros destinos do Estado.
“Recife está em alta com a requalificação do Pernambuco Centro de Convenções e a chegada do Recife Expo Center, sinalizando uma forte retomada do setor. No entanto, é crucial continuar investindo na infraestrutura, preservando os atrativos e especialmente melhorando os corredores turísticos, com foco em acessibilidade, segurança e limpeza. Esses passos são essenciais para consolidar a cidade como um destino atraente e seguro para eventos e turistas”, explica a presidente do Recife Convention & Visitors Bureau (CVB), Maria Carolina Oliveira.
Há razão. No último ano, o Recife viu a realização de investimentos necessários para o mercado turístico, mas essencialmente do segmento privado. Por parte do poder público, estão promessas que ainda não se concretizaram, a exemplo da tão esperada reforma da orla da praia de Boa Viagem, estabelecimento do calendário cultural e de eventos públicos da cidade, além de serviços de requalificação e ordenamento em corredores de acesso e também nos pontos turísticos.
De acordo com a prefeitura do Recife, em 2023, o turismo representou 5,7% do PIB e gerou 8% dos empregos formais na cidade. A malha aérea do Aeroporto do Recife também se expandiu, com um crescimento de 3,81% no fluxo de passageiros em 2023 em relação a 2019 (nível pré-pandemia). A cidade também incorporou novas conexões internacionais, incluindo voos diretos para os EUA, Argentina, Uruguai e Portugal. O Aeroporto Internacional do Recife ocupa a sétima posição entre os mais movimentados do Brasil, recebendo uma média de 700 mil passageiros mensalmente. Mas a grande questão é que boa parte desses visitantes tem a capital apenas como porta de entrada para os demais destinos pernambucanos.
O TURISTA NO RECIFE:
- Em 2023, o turismo representou 5,7% do PIB e gerou 8% dos empregos formais na cidade
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Perfil do turista
- A Permanência Média no Recife é de 5,1 dias
- Para os hospedados em hotéis, a permanência média é de 3,8 dias
- Entre os residentes no Brasil, a permanência média é de 4,9 dias, enquanto os turistas residentes no exterior permanecem por uma média de 15,6 dias
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Gasto médio diário
- Em relação ao Gasto Médio Individual Diário, o valor geral é de R$ 228,78
- Para os turistas hospedados em hotéis, o GMID é de R$ 442,76
- Os turistas residentes no Brasil têm um GMID de R$ 226,35, enquanto os residentes no exterior gastam, em média, R$ 398,47 por dia
E não é pela falta do que ver ou fazer na cidade, afinal faltam ampliação de ações de divulgação do destino, estabelecimento de cronograma antecipado das festividades e zeladoria e melhoria contínua dos endereços turísticos. Atualmente, com relação ao Perfil do Turista, a Permanência Média (PM) no Recife é de 5,1 dias. Para os hospedados em hotéis, a permanência média é de 3,8 dias. Entre os residentes no Brasil, a permanência média é de 4,9 dias enquanto os turistas residentes no exterior permanecem por uma média de 15,6 dias, de acordo com os dados da Empetur.
Em relação ao Gasto Médio Individual Diário (GMID), o valor geral é de R$ 228,78. Para os turistas hospedados em hotéis, o GMID é de R$ 442,76. Os turistas residentes no Brasil têm um GMID de R$ 226,35, enquanto os residentes no exterior gastam, em média, R$ 398,47 por dia. Números que poderiam ser melhorados e agregar fortemente recursos à receita da cidade, comerciantes e prestadores de serviços locais.
O QUE FALTA PARA O TURISMO NO RECIFE
Na visão da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (Abih-PE), há pontos que, mais do que discutidos, precisam enfim ser executados. De acordo com o empresário Carlos Periquito, são demandas do setor hoteleiro recifense a melhoria da Infraestrutura e Sinalização Turística do Recife, a recuperação de vias públicas e de calçadas nos corredores turísticos, o ordenamento do comércio de praia e continuidade das obras de reforma e melhorias da orla de Boa Viagem, melhoria na segurança pública dos pontos e atrativos turísticos, incremento e efetividade na limpeza urbana, orientação e direcionamento adequado das pessoas que se encontram em situação de rua e que estão estabelecidas em corredores turísticos da cidade, execução de projetos de ordenamento urbano, incluindo a fiação elétrica, para garantir a segurança e a estética das vias públicas e o estabelecimento de calendário turístico da cidade do Recife.
Nesse sentido, alguns passos começaram a ser ensaiados em relação a essas demandas e precisam com urgência ganhar fôlego para saírem do papel. A PCR diz que o fortalecimento do turismo inclui campanhas, eventos como a Virada Recife 2024, e a ampliação de projetos como a Ciclofaixa de Turismo e Lazer e o Olha! Recife, que oferece roteiros guiados gratuitos. Outros projetos relevantes são a Pracinha Cultural e o Circuito Sagrado, que apresenta os principais templos religiosos do centro da cidade.
Ainda segundo a PCR, em março de 2024, foi lançada a Escola de Turismo do Recife, com o objetivo de formar e qualificar mais de 8 mil profissionais do setor. A cidade também é reconhecida como um Destino Turístico Inteligente (DTI), promovendo inovação, sustentabilidade e acessibilidade, com ações como o mapeamento de atrativos acessíveis e a criação de guias em braille.
O consórcio All Space Imobi Placas de Rua Recife arrematou leilão e assumirá o fornecimento, implantação, gestão, operação e manutenção de placas toponímicas, turísticas e direcionadores de pedestres no município. Ao todo, a empresa vai garantir investimentos da ordem de R$ 125 milhões pelos próximos 20 anos. Serão implantados em todas as regiões da cidade mais de 42 mil placas de rua e 420 sinalizações, além de 3.708 mil metros de direcionadores, de acordo com o projeto.
Os prazos para implantação dos equipamentos, no entanto, pode levar até sete anos a partir da assinatura do contrato.
OBRA DA ORLA MAIS DISTANTE
Prestes a completar 100 anos de construção, a Avenida Boa Viagem ainda vive a expectativa de passar por um processo de requalificação completo. A atual gestão anunciou um investimento de R$ 112,6 milhões, com recursos próprios, para requalificar os 11 quilômetros de toda a orla recifense, passando por Brasília Teimosa, Pina e Boa Viagem. A expectativa era concluir as obras até 2025, mas o andamento do processo não demonstra nenhum compromisso com esse prazo.
O projeto começou com um investimento de R$ 10,2 milhões na reforma dos 60 quiosques das praias de Boa Viagem e Pina. Após anos de arrombamentos, furtos e depredações, os novos equipamentos foram entregues em março aos comerciantes e à população, após atrasos, mas alguns já sofrem com novas avarias e problemas estruturais.
A segunda etapa, previa o início das reformas da estrutura física do calçadão e aumento da área verde, além da construção de novos banheiros, melhorias na segurança e na iluminação. Para quem percorre a orla, seja do Recife ou de fora, visivelmente é notado apenas as obras dos banheiros públicos, com algumas unidades já entregues. A promessa é que os dez banheiros existentes serão reformados e outros onze serão construídos. Nos cálculos da própria gestão, apenas 49% da orla é utilizada.
A ideia é melhorar a iluminação pública, tanto na parte da pista dos carros quanto no calçadão e embaixo de todas as árvores, transformando a orla em um local mais seguro também à noite. O Projeto Orla Parque também prevê a requalificação do calçadão, com a substituição do pavimento atual, melhoria da acessibilidade e aumento na largura do passeio, passando de 2,75 m para 4,80 m. Com isso, haverá maior permanência na utilização da ciclovia, pista de cooper e de caminhada. Outra inovação prometida são as centralidades - espaços multifuncionais que estão localizados em diferentes pontos da orla, com o objetivo de equilibrar a distribuição de novos equipamentos, inclusive restaurantes. O Projeto Orla Parque prevê a criação de centralidades temáticas distribuídas de forma linear e voltadas para gastronomia, esportes e contemplação do mar.
No último mês de julho, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) emitiu alerta à prefeitura do Recife exigindo a prestação de informações detalhadas e a disponibilização de documentos cruciais relacionados às obras.