3ª Expo Preta no RioMar estimula afroempreendedorismo e reconhece potencial criativo das pessoas negras
Desta sexta-feira (16) até domingo (18), o RioMar realiza feira que apresenta ao mercado produtos e serviços criados por afroempreendedores do Recife
Em sua 3ª edição, a Expo Preta RioMar se consolida como um espaço de reconhecimento ao potencial criativo das pessoas negras e de estímulo ao afroempreendedorismo no Recife. Desta sexta-feira (16) até o próximo domingo (18), o Rio Mar empresta sua condição de uma das principais vitrines do varejo pernambucano para apresentar ao mercado produtos e serviços criados por afroempreendedores.
A Expo Preta RioMar é produzida pelo Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM) e RioMar Recife, em parceria com Mari Passos (Produtora Mari Passos) e Rafaela Gomes (Kilombo Urbano), além de consultoria do Instituto Enegrecer. Desde sua criação, em 2022, o evento é uma espécie de plataforma para valorizar e impulsionar pessoas afroempreendedoras.
Em 2024, a Expo Preta RioMar conta com 24 estandes de pessoas afroempreendedoras que foram selecionadas de 14 bairros do Recife. Esta é a primeira vez que o evento, antes voltado para a participação de quem atua no entorno do RioMar, passa a incluir empreendimentos de toda a capital pernambucana. Dessa forma, a 3ª Expo Preta RioMar tem 15 estreantes entre as pessoas expositoras.
NA EXPO PRETA PELA 1ª VEZ
Um desses estreantes é o afroempreendedor Robson Rodrigues, dono da marca de produtos em couro 'O Maia'. Acostumado a vender suas peças pelas redes sociais e em feiras de artesanato, ele está animado em viver a experiência da Expo Preta. "Estar no Rio Mar é um privilégio, porque o shopping é uma grande vitine, com uma diversidade enorme de público. Antes da feira foram colocadas vitrines com produtos e o contato das redes sociais dos empreendedores. Só a partir dessa iniciativa já fui bastante procurado. Com a participação na feira, o contato com o cliente será ainda maior", comemora.
Técnico em segurança do trabalho, Robson Rodrigues, 38 anos, jamais imaginou que fosse se tornar artesão e viver do artesanato. Atuando com manutenção, ele migrava de cidade em cidade Brasil afora trabalhando com empreiteiras. Em 2018, quando estava em uma obra em Mossoró (RN), a empresa onde trabalhava estava envolvida com a operação lava Jato, fechou e demitiu os funcionários. Ele voltou para Recife ainda sem saber o que ia fazer.
Na época, sua companheira fazia pulseiras de miçanga e ele começou a fazer umas de couro. Depois foi apostando em carteiras, bolsas, cintos e outros itens. Sua oficina funciona na sua casa, em Santo Amaro, no Recife. "Trabalhamos com couro natural bovino, que trago de Petrolina. Hoje as peças mais vendidas são bags e cintos e 70% do público é masculino", diz. As peças da marca O Maia ariam de R$ 40 a R$ 700 e são cmercializadas pelas redes sociais @omaia, além de feiras como a do Bom Jesus, no Bairro do Recife, e a Fenearte, onde já participou duas vezes.
MAIS SEGMENTOS NA FEIRA
Outra novidade da Expo Preta nesta 3ª edição foi a ampliação de áreas de negócios na feira, incluindo produtos naturais e para alimentação; entretenimento infanto juvenil; moda autoral/artesanal; serviços e produtos de beleza; e produtos e serviços associados à sustentabilidade.
As pessoas afroempreendedoras foram selecionadas a partir de um processo de inscrições online e participaram de Programa de Formação no IJCPM focado em técnicas de vendas e atendimento, gestão de finanças, planejamento e controle do tempo, ativação de marca e eventos sustentáveis. Além da oportunidade de exibir seus produtos e serviços sem custos para um público diverso, todas as pessoas participantes receberam uma cota de patrocínio no valor de R$ 400, para impulsionamento de suas marcas.
A marca de cosméticos naturais e veganosa 'Feitos a Amor' (@feitosaamor), da afroempreendedora Márcia Feitosa, 57 anos, participa da Expo Preta pela primeira vez e também traz um produto novo para a feira. Com um portfólio de 105 produtos divididos por grupos (cuidados com o rosto, a pele, os pés, os cabelos etc), ela produz hidratantes, desodorantes, sabonetes, sabonete com argila, sabonete líquido, shampoo, condicionador, gel capilar, creme de pentear e outros. A linha de produtos para cabelos cacheados é um dos carros-chefe da marca.
Formda em administração de empresas com especialização em finanças, Márcia trabalhava em uma universidade privada como consultora de cursos e investimentos, orientando estudantes sobre que carreira seguir. Apesar do emprego fixo, estava em busca de algo que lhe desse satisfação e não tivesse o peso de um emprego formal. Queria fazer algo para si.
No Natal de 2018 recebeu de presente da filha uns produtos naturais de um espaço de Yoga que ela frequentava. "Eram sabonetes, velas, coisas assim. Fiquei encantada e decidi que era algo assim que gostaria de fazer: natural, vegano, de bem-estar e beleza e que não agredisse o cliente", recorda Márcia.
Começou fazendo sabonete de argila e presenteando as amiga com o compromisso de que avaliassem o produto: fragrância, maciez, espuma. Seis meses depois começou a vender e já tinha uma clientela que conhecia o produto. A pandemia acabou ajudando, porque era possível entregar os itens e facilitar a vida dos clientes.
Os produtos da marca são vendidos pelas redes sociais e na Feira do Bom Jesu, no Recife. A marca 'Feitos a Amor' é uma referência a sua família: Feitosa e ao amor pelo que se faz.
AFROEMPREENDEDORISMO AVANÇA
O afroempreendedorismo tem se consolidado como uma força motriz na economia brasileira, especialmente num cenário em que a população negra representa 55,5% do total de habitantes do País, mas ainda enfrenta profundas desigualdades socioeconômicas. Estima-se que o afroempreendedorismo movimenta cerca de R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil, refletindo tanto a resiliência quanto a criatividade da população negra em superar desafios históricos, como menor acesso ao crédito e dificuldades em obter apoio financeiro, em razão do racismo estrutural.