3ª Expo Preta no RioMar estimula afroempreendedorismo e reconhece potencial criativo das pessoas negras

Desta sexta-feira (16) até domingo (18), o RioMar realiza feira que apresenta ao mercado produtos e serviços criados por afroempreendedores do Recife

Publicado em 15/08/2024 às 21:51 | Atualizado em 15/08/2024 às 21:59

Em sua 3ª edição, a Expo Preta RioMar se consolida como um espaço de reconhecimento ao potencial criativo das pessoas negras e de estímulo ao afroempreendedorismo no Recife. Desta sexta-feira (16) até o próximo domingo (18), o Rio Mar  empresta sua condição de uma das principais vitrines do varejo pernambucano para apresentar ao mercado produtos e serviços criados por afroempreendedores. 

A Expo Preta RioMar é produzida pelo Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM) e RioMar Recife, em parceria com Mari Passos (Produtora Mari Passos) e Rafaela Gomes (Kilombo Urbano), além de consultoria do Instituto Enegrecer. Desde sua criação, em 2022, o evento é uma espécie de plataforma para valorizar e impulsionar pessoas afroempreendedoras.

Em 2024, a Expo Preta RioMar conta com 24 estandes de pessoas afroempreendedoras que foram selecionadas de 14 bairros do Recife. Esta é a primeira vez que o evento, antes voltado para a participação de quem atua no entorno do RioMar, passa a incluir empreendimentos de toda a capital pernambucana. Dessa forma, a 3ª Expo Preta RioMar tem 15 estreantes entre as pessoas expositoras.

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Marca O Maia traz suas peças em couro para a Expo Preta, no RioMar - Redes sociais

NA EXPO PRETA PELA 1ª VEZ

Um desses estreantes é o afroempreendedor Robson Rodrigues, dono da marca de produtos em couro 'O Maia'. Acostumado a vender suas peças pelas redes sociais e em feiras de artesanato, ele está animado em viver a experiência da Expo Preta. "Estar no Rio Mar é um privilégio, porque o shopping é uma grande vitine, com uma diversidade enorme de público. Antes da feira foram colocadas vitrines com produtos e o contato das redes sociais dos empreendedores. Só a partir dessa iniciativa já fui bastante procurado. Com a participação na feira, o contato com o cliente será ainda maior", comemora.

Técnico em segurança do trabalho, Robson Rodrigues, 38 anos, jamais imaginou que fosse se tornar artesão e viver do artesanato. Atuando com manutenção, ele migrava de cidade em cidade Brasil afora trabalhando com empreiteiras. Em 2018, quando estava em uma obra em Mossoró (RN), a empresa onde trabalhava estava envolvida com a operação lava Jato, fechou e demitiu os funcionários. Ele voltou para Recife ainda sem saber o que ia fazer. 

Na época, sua companheira fazia pulseiras de miçanga e ele começou a fazer umas de couro. Depois foi apostando em carteiras, bolsas, cintos e outros itens. Sua oficina funciona na sua casa, em Santo Amaro, no Recife. "Trabalhamos com couro natural bovino, que trago de Petrolina. Hoje as peças mais vendidas são bags e cintos e 70% do público é masculino", diz. As peças da marca O Maia ariam de R$ 40 a R$ 700 e são cmercializadas pelas redes sociais @omaia, além de feiras como a do Bom Jesus, no Bairro do Recife, e a Fenearte, onde já participou duas vezes.  

Redes sociais
Feirtos a Amor, da afroempreendedora Márcia Feitosa participa pela primeira vez da Expo Preta - Redes sociais

MAIS SEGMENTOS NA FEIRA

Outra novidade da Expo Preta nesta 3ª edição foi a ampliação de áreas de negócios na feira, incluindo produtos naturais e para alimentação; entretenimento infanto juvenil; moda autoral/artesanal; serviços e produtos de beleza; e produtos e serviços associados à sustentabilidade. 

As pessoas afroempreendedoras foram selecionadas a partir de um processo de inscrições online e participaram de Programa de Formação no IJCPM focado em técnicas de vendas e atendimento, gestão de finanças, planejamento e controle do tempo, ativação de marca e eventos sustentáveis. Além da oportunidade de exibir seus produtos e serviços sem custos para um público diverso, todas as pessoas participantes receberam uma cota de patrocínio no valor de R$ 400, para impulsionamento de suas marcas.

A marca de cosméticos naturais e veganosa 'Feitos a Amor' (@feitosaamor), da afroempreendedora Márcia Feitosa, 57 anos, participa da Expo Preta pela primeira vez e também traz um produto novo para a feira. Com um portfólio de 105 produtos divididos por grupos (cuidados com o rosto, a pele, os pés, os cabelos etc), ela produz hidratantes, desodorantes, sabonetes, sabonete com argila, sabonete líquido, shampoo, condicionador, gel capilar, creme de pentear e outros. A linha de produtos para cabelos cacheados é um dos carros-chefe da marca. 

Formda em administração de empresas com especialização em finanças, Márcia trabalhava em uma universidade privada como consultora de cursos e investimentos, orientando estudantes sobre que carreira seguir. Apesar do emprego fixo, estava em busca de algo que lhe desse satisfação e não tivesse o peso de um emprego formal. Queria fazer algo para si.

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Em 2024, a Expo Preta RioMar contará com 24 estandes de pessoas afroempreendedoras oriundas de 14 bairros do Recife - Divulgação

No Natal de 2018 recebeu de presente da filha uns produtos naturais de um espaço de Yoga que ela frequentava. "Eram sabonetes, velas, coisas assim. Fiquei encantada e decidi que era algo assim que gostaria de fazer: natural, vegano, de bem-estar e beleza e que não agredisse o cliente", recorda Márcia. 

Começou fazendo sabonete de argila e presenteando as amiga com o compromisso de que avaliassem o produto: fragrância, maciez, espuma. Seis meses depois começou a vender e já tinha uma clientela que conhecia o produto. A pandemia acabou ajudando, porque era possível entregar os itens e facilitar a vida dos clientes. 

Os produtos da marca são vendidos pelas redes sociais e na Feira do Bom Jesu, no Recife. A marca 'Feitos a Amor' é uma referência a sua família: Feitosa e ao amor pelo que se faz.   

AFROEMPREENDEDORISMO AVANÇA

O afroempreendedorismo tem se consolidado como uma força motriz na economia brasileira, especialmente num cenário em que a população negra representa 55,5% do total de habitantes do País, mas ainda enfrenta profundas desigualdades socioeconômicas. Estima-se que o afroempreendedorismo movimenta cerca de R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil, refletindo tanto a resiliência quanto a criatividade da população negra em superar desafios históricos, como menor acesso ao crédito e dificuldades em obter apoio financeiro, em razão do racismo estrutural.

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