Mulheres ganham 20,7% menos que homens em grandes empresas, aponta relatório

Desigualdade salarial persiste em empesas com mais de 100 funcionários; mulheres negras são mais afetadas, de acordo com relatório

Publicado em 18/09/2024 às 15:31 | Atualizado em 18/09/2024 às 16:03

Embora movimentos de igualdade busquem constantemente nivelar os valores atribuídos ao trabalho das mulheres, as disparidades salariais entre homens e mulheres ainda são uma realidade nas grandes empresas brasileiras.

De acordo com o 2º Relatório de Transparência Salarial, divulgado nesta quarta-feira (18), as mulheres ganham, em média, 20,7% menos que os homens em companhias com 100 ou mais empregados.

O estudo, que analisou 50.692 empresas com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023, foi apresentado durante o lançamento do Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens.

O levantamento revela uma piora em relação ao primeiro relatório, divulgado em março deste ano, que registrava uma diferença salarial de 19,4%.

Luciana Nakamura, diretora de Programa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que representava o ministro-interino Chico Macena, destacou que a igualdade salarial já está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde 1943, mas ainda não é cumprida por muitas empresas.

A diretora aponta o objetivo desse tipo de pesquisa nas práticas das empresas.  “Queremos que elas [as empresas] olhem para as desigualdades salariais entre homens e mulheres, e possam promover um ambiente de igualdade", ressaltou.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, reforçou a necessidade de enfrentar constantemente essas desigualdades, apontando que 58% das mulheres são chefes de família e enfrentam os maiores impactos da fome e do desemprego.

"Salário da mulher não é completo de salário dos homens. Elas não são as pessoas do 'mimimi', elas são as trabalhadoras. Por isso, precisamos enfrentar essas desigualdades”, afirmou.

Diferenças raciais e desigualdade acentuada

A disparidade salarial se torna ainda mais significativa quando o fator racial é considerado.

Mulheres negras ganham, em média, R$ 2.745,26, o que corresponde a apenas 50,2% do salário dos homens não negros, que têm uma média de R$ 5.464,29.

Mulheres não negras ganham uma média de R$ 4.249,71, ainda abaixo da média masculina, mas com mais de 30% acima das mulheres negras. 

Outro dado preocupante é que 42,7% das empresas analisadas possuem entre 0% e 10% de mulheres negras em seus quadros de funcionários, e apenas 27,9% têm políticas voltadas para incentivar a contratação de mulheres negras.

Cargos de liderança e gestão ainda são dominados por homens

O relatório também evidencia a grande disparidade em cargos de liderança. Mulheres em cargos de direção e gerência recebem, em média, 27% menos que os homens na mesma posição.

Já em funções de nível superior, a diferença chega a 31,2%.

Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, destacou que cerca de 31% das empresas analisadas possuem uma diferença salarial de até 5% entre homens e mulheres, o que pode indicar boas práticas de equidade.

“Queremos entender como essas empresas conseguiram alcançar essa proximidade e aplicar essas boas práticas em outros locais”, afirmou.

Plano Nacional de Igualdade Salarial

Durante o evento, foi lançado o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral, uma iniciativa que visa enfrentar as desigualdades de gênero no mercado de trabalho.

Com 79 ações previstas, o plano tem como objetivo promover a inclusão das mulheres no mercado de trabalho, garantir sua permanência e ampliar sua participação, além de criar políticas de compartilhamento das responsabilidades familiares.

Rosane Silva, secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres, explicou que essas ações são fundamentais para combater a diferença salarial no país e "incluir as mulheres no mundo do trabalho, assegurar sua permanência e ampliar sua participação, passando por formação em carreiras de tecnologia e políticas de compartilhamento das responsabilidades domésticas", destacou.

Transparência salarial

As empresas têm até o dia 30 de setembro para divulgar as informações sobre suas políticas salariais em seus sites ou redes sociais, conforme exigido pela nova legislação de igualdade salarial.

Caso não cumpram essa exigência, estarão sujeitas a multas. Além disso, uma nova portaria do MTE estabelece medidas para garantir a transparência e fiscalização salarial, com canais específicos para denúncias de discriminação e promoção de programas de diversidade e inclusão.

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